18 de set. de 2017

Uma vez eu sonhei que era uma borboleta, :: Chuang-Tzu (século IV a.C.)


Uma vez eu sonhei que era uma borboleta, 
voando entre as flores e arbustos do jardim.

Tudo era tão concreto e real 
que em momento nenhum do meu sonho 
suspeitei que a borboleta era eu 
ou que eu fosse a borboleta.

Para todos os efeitos possíveis e imagináveis, 
eu era, eu agia e eu realmente me sentia uma borboleta, 
cumprindo o destino de uma borboleta qualquer.

De repente, eu acordei 
e lá estava eu, sendo a pessoa que eu sempre fui 
– ou que sempre imaginei ser.

Sei muito bem 
que entre um homem e uma borboleta 
há tantas diferenças fundamentais e insuperáveis 
que a transformação de um no outro 
é algo simplesmente impossível de acontecer no mundo real.

É por isso que, desde então, 
eu nunca mais tive sossego 
quanto à minha verdadeira identidade.

Pois não há nada que me permita saber, 
com toda certeza e rigor, 
sem nenhuma margem de dúvida, 
se eu sou verdadeiramente um homem, 
que um dia sonhou que era uma borboleta, 
ou se eu sou uma borboleta, 
sonhando que é um homem.


Chuang-Tzu

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