Mostrando postagens com marcador Distância. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Distância. Mostrar todas as postagens

17 de ago. de 2020

Gosto :: Débora Siqueira Bueno


Monet

Gosto do silêncio de casa
quando estou sozinha.
Ficar só,
prazer desimpedido do ser
pejado em acanhamento.
Estimo abraços quando o afeto é natural,
limpidez amiga,
amor cristalino.
Mas não me aborrece a falta do gesto.
Respeito tempos e distâncias.
Tão bom ter ao lado
quem comigo segue,
me acompanha ou espera
nas constantes incursões 
ao anterior,
ao interior.

Gosto de pisar em cascas de sementes,
ruído crepitante
que se casa tão bem aos passos;
caminhar sobre pedras,
espaços abertos,
descobrir percursos.
Aprecio o barulho de chuva,
quer mansa ou tempestade;
e o cheiro que a anuncia
e o aroma que a sucede e permanece
de terra farta,
agradecida.
Gosto de roça, de café com broa de fubá,
de gente simples
que conversa no alpendre
e conta casos.

Na cidade experimento o anonimato
e o prazer estético;
contemplo a arquitetura.
Praças bem traçadas,
linhas retas à Le Corbusier,
curvas de Niemeyer
e os vestígios
de diferentes antigos.
Ofusca a iluminação feérica;
vou ao cinema, ao teatro, às livrarias;
saboreio
o café expresso
a vida expressa
as expressões 
dessemelhantes,
as metamorfoses.

Posta sobre a cama sou colcha de retalhos,
cores e detalhes.
No entanto gosto da vida que trilhei
e amo os espaços
onde posso respirar fundo
e abrir os braços
em abraço ao sítio
onde encontro
a experiência
de pertença.

Mas nos lugares
que me são sagrados,
em respeito profundo e reverência
descalço as sandálias e,
de joelhos,
ponho a minha alma.


31 de ago. de 2015

ABISMAL :: HELENA KOLODY (1912 - 2004)

Amedeo Modigliani, 1918

Meus olhos estão olhando
De muito longe, de muito longe,
Das infinitas distâncias
Dos abismos interiores.
Meus olhos estão a olhar do extremo longínquo
Para você que está diante de mim.
Se eu estendesse a mão, tocaria a sua face.

16 de mai. de 2015

O Regresso :: Manuel António Pina (1943-2012)

Paul Cezanne

Como quem, vindo de países distantes fora de
si, chega finalmente aonde sempre esteve
e encontra tudo no seu lugar,
o passado no passado, o presente no presente,
assim chega o viajante à tardia idade
em que se confundem ele e o caminho.

Entra então pela primeira vez na sua casa
e deita-se pela primeira vez na sua cama.
Para trás ficaram portos, ilhas, lembranças,
cidades, estações do ano.
E como agora por fim um pão primeiro
sem o sabor de palavras estrangeiras na boca.

22 de fev. de 2015

Para vermos o azul :: Clarice Lispector


Para vermos o azul, olhamos para o céu. A terra é azul para quem a olha do céu. Azul será uma cor em si, ou uma questão de distância?
A descoberta do mundo. Editora Nova Fronteira, 1984. p. 13

11 de jan. de 2015

Uma vez :: Idea Vilariños

Eyvind Earle

Sou meu pai e minha mãe
sou meus filhos
e sou o mundo
sou a vida
e não sou nada
ninguém
um pedaço animado
uma visita
que não esteve
nem estará depois.
Estou estando agora
quase não sei mais nada
como uma vez estavam
outras coisas que foram
como um céu distante
um mês
uma semana
um dia de verão
que outros dias do mundo
dissiparam.

14 de dez. de 2014

Canção Final - Drummond

Jim Hughes

Oh! se te amei, e quanto!
Mas não foi tanto assim.
Até os deuses claudicam
em nugas de aritmética.
Meço o passado com régua
de exagerar as distâncias.
Tudo tão triste, e o mais triste
é não ter tristeza alguma.
É não venerar os códigos
de acasalar e sofrer.
É viver tempo de sobra
sem que me sobre miragem.
Agora vou-me. Ou me vão?
Ou é vão ir ou não ir?
Oh! se te amei, e quanto,
quer dizer, nem tanto assim.

8 de dez. de 2014

TAMBÉM ESTE CREPÚSCULO... :: PABLO NERUDA

Hemos perdido aun este crepúsculo.
Nadie nos vió esta tarde com las manos unidas
mientras la noche azul caía sobre el mundo.

He visto desde mi ventana
la fiesta del poniente en los cerros lejanos.

A veces como una moneda
se encendía un pedazo de sol, entre mis manos.

Yo te recordaba con el alma apretada
de esa tristeza que tú me conoces.

Entoces dónde estabas?
Entre qué gentes?
Diciendo qué palabras?
Por qué se me vendrá todo el amor de golpe
cuando me siento triste, y te siento lejana?

::::::::::::::::::

Também este crepúsculo nós perdemos.
Ninguém nos viu hoje à tarde de mãos dadas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.

Olhei da minha janela
a festa do poente nas encostas ao longe.

Às vezes como uma moeda
acendia-se um pedaço de sol nas minhas mãos.

Eu recordava-te com a alma apertada
por essa tristeza que tu me conheces.

Onde estavas então?
Entre que gente?
Dizendo que palavras?
Porque vem até mim todo o amor de repente
quando me sinto triste, e te sinto tão longe?

(Tradução de Fernando Assis Pacheco)

PABLO NERUDA, in VINTE POEMAS DE AMOR E UMA CANÇÃO DESESPERADA. D. Quixote, 2007.

14 de jul. de 2014

Silêncio :: Fernando Sabino para Clarice Lispector

Ferdinand Hodler

"Você me desculpe esse silêncio tão longo, mas a convivência é feita também de silêncio, e distância."

 in: Cartas perto do coração. Record.  p. 124

19 de out. de 2013

Eu não existo sem você de Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim

Munch 

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim 
Que nada nesse mundo levará você de mim 
Eu sei e você sabe que a distância não existe 
Que todo grande amor 
Só é bem grande se for triste 
Por isso, meu amor 
Não tenha medo de sofrer 
Que todos os caminhos me encaminham pra você 

Assim como o oceano 
Só é belo com luar 
Assim como a canção 
Só tem razão se se cantar 
Assim como uma nuvem 
Só acontece se chover 
Assim como o poeta 
Só é grande se sofrer 
Assim como viver 
Sem ter amor não é viver 

Não há você sem mim
E eu não existo sem você

15 de out. de 2013

Um homem precisa viajar :: Amyr Klink

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para conhecer o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver."
Amyr Klink, Mar sem fim. Companhia das Letras, 2000.

10 de out. de 2012

Distanciamento de Livia Garcia Roza


                                                                                                Tarsila do Amaral, Composição, 1930.
Às vezes me distancio para retornar mais próxima


6 de out. de 2012

Dedução de Vladimir Maiakovski,

                                                                                                                   Picasso
Não acabarão com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.


4 de mar. de 2007

Distribuição da Poesia - Jorge de Lima


Konstantin Makovsky

Mel silvestre tirei das plantas,
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Escutai, meus irmãos: poesia tirei de tudo
para oferecer ao Senhor.
Não tirei ouro da terra
nem sangue de meus irmãos.
Estalajadeiros não me incomodeis.
Bufarinheiros e banqueiros
sei fabricar distâncias
para vos recuar.
A vida está malograda,
creio nas mágicas de Deus.
Os galos não cantam,
a manhã não raiou.
Vi os navios irem e voltarem.
Vi os infelizes irem e voltarem.
Vi homens obesos dentro do fogo.
Vi ziguezagues na escuridão.
Capitão-mor, onde é o Congo?
Onde é a Ilha de São Brandão?
Capitão-mor que noite escura!
Uivam molossos na escuridão.
Ó indesejáveis, qual o país,
qual o país que desejais?
Mel silvestre tirei das plantas,
sal tirei das águas, luz tirei do céu.
Só tenho poesia para vos dar.
Abancai-vos, meus irmãos

Os dias felizes :: Cecília Meireles

Fernando Igor Os dias felizes estão entre as árvores, como os pássaros: viajam nas nuvens, correm nas águas, desmancham-se na areia.   Todas...