21 de jan. de 2012

Café da manhã de Jacques Prévert



CAFÉ DA MANHÃ
   
Pôs café
na xícara
Pôs leite
na xícara com café
Pôs açúcar
no café com leite
Com a colherzinha
mexeu
Bebeu o café com leite
E pôs a xícara no pires
Sem me falar
acendeu
um cigarro
Fez círculos
com a fumaça
Pôs as cinzas
no cinzeiro
Sem me falar
Sem me olhar
Levantou-se
Pôs
o chapéu na cabeça
Vestiu
a capa de chuva
porque chovia
E saiu
debaixo de chuva
Sem uma palavra
Sem me olhar
Quanto a mim pus
a cabeça entre as mãos
E chorei.




DÉJEUNER DU MATIN

Il a mis le café
Dans la tasse
Il a mis le lait
Dans la tasse de café
Il a mis le sucre
Dans le café au lait
Avec le petit cuiller
Il a tourné
Il a bu le café au lait
Et il a resposé la tasse
Sans me parler
Il a alumé
Une cigarrette
Il a fait des ronds
Avec la fumée
Il a mis des cendres
Dans le cendrier
Sans me parler
Sans me regarder
Il s'est levé
Il a mis
Son chapeau sur la tête
Il a mis
Son manteau de pluie
Parce qu'il pleuvait
Il est parti
Sous la pluie
Sans une parole
Sans me regarder
E moi j'ai pris
Ma tête dans ma main
E j'ai pleuré.

   Tradução: Silviano Santiago

20 de jan. de 2012

Hélio Pellegrino e Clarice Lispector: entrevista


Clarice – Por que você escreve esporadicamente e não assume de uma vez por todas o seu papel de escritor e criador?
Hélio - Poderia driblar essa pergunta, respondendo com uma meia-verdade – escrevo menos esporadicamente do que publico. Mas esta seria uma saída falsa, e não quero ser falso. Escrever e criar constituem, para mim, uma experiência radical de nascimento. A gente, no fundo, tem medo de nascer, pois nascer é saber-se vivo e – como tal – exposto à morte. Escrevo mais do que devo para – quem sabe? – manter a ilusão de que tenho um tempo longo pela frente. A meu favor, posso dizer a você que, com frequência, agarro-me pelas orelhas e me ponho ao trabalho. Há umas coisas valiosas nas quais acredito, com muita força. Preciso dizê-las e vou dizê-las.
Clarice – Hélio, diga-me agora, qual é a coisa mais importante do mundo?
Hélio - A coisa mais importante do mundo é a possibilidade de ser-com-o-outro, na calma e intensa mutabilidade do amor. O Outro é o que importa, antes e acima de tudo. Por mediação dele. Na medida em que o recebo em sua graça, conquisto para a mim a graça de existir. É esta fonte da verdadeira generosidade e do entusiasmo – Deus comigo. O amor genuíno ao Outro me leva à intuição do todo e me compele à luta pela justiça e pela transformação do mundo.
Clarice – Que é amor?
Hélio - Amor é surpresa, susto esplêndido – descoberta do mundo. Amor é dom, demasia, presente. Dou-me ao Outro e, aberto à sua alteridade, por mediação dele, recebo dele o dom de mim, a graça de existir, por ter-me dado.
Clarice – Helio, você é analista e me conhece. Diga-me sem elogios – quem sou eu, já que você me disse quem é você…
Hélio - Você, Clarice, é uma pessoa com uma dramática vocação de integridade e totalidade. Você busca, apaixonadamente, o seu self… e esta tarefa a consome e faz sofrer. Você procura casar, dentro de você, luz e sombra, dia e noite, sol e lua…

*Fragmentos transcritos do livro “De corpo inteiro” , Clarice Lispector, Ed.Rocco, 1999, págs 54, 55.

19 de jan. de 2012

Nara Leão




Nara Lofego Leão Diegues
(Vitória, 19 de janeiro de 1942 — Rio de Janeiro, 7 de junho de 1989)

A cor púrpura e Cosmos






Púrpura tíria
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 A púrpura tíria era cara; segundo o historiador Teopompo, do século IV a.C., "a púrpura para as tintas valia o seu peso em prata em Cólofon", na Ásia Menor. Estes custos transformavam os produtos têxteis que utilizavam a púrpura tíria em símbolos de status, e as antigas leis suntuárias ditavam e até proibiram o seu uso. A produção dos animais que forneciam a tinta era controlada com rigor durante o Império Bizantino, e subsidiada pela corte imperial, que restringia seu uso para a pintura das sedas imperiais; o filho de um imperador no poder era chamado de porfirogênito (porphyrogenitos, "nascido na púrpura"), tanto referindo-se à Pórfira, o pavilhão do Grande Palácio de Constantinopla revestido de pórfiro onde os herdeiros do trono nasciam, quanto à púrpura que futuramente trajariam.
A substância consiste de uma secreção mucosa da glândula hipobranquial de um dos diversos caramujos marinhos encontrados no Mediterrâneo Oriental, o gastrópode marinho Murex brandaris, o murex espinhosoBolinus brandaris (Linnaeus, 1758), o murex listrado Hexaplex trunculus, e o Stramonita haemastoma.
No hebraico bíblico, a tinta extraída do Murex brandaris era conhecida como argaman (ארגמן). Outra tinta, extraída do Hexaplex trunculus, produzia uma cor índigo chamada de tekhelet(תְּכֵלֶת‎), usada em vestes trajadas para funções rituais.
Diversas espécies de moluscos da família Muricidae, como por exemplo o Plicopurpura pansa (Gould, 1853), das regiões tropicais do Oceano Pacífico oriental, e Plicopurpura patula (Linnaeus, 1758) da região do Caribe, no Oceano Atlântico ocidental, também produzem uma substância semelhante (que se transforma numa cor púrpura duradoura após exposição à luz do sol), e esta característica foi também explorada pelos habitantes locais nas regiões de ocorrência destes animais. Alguns outros gastrópodes predatórios, como os membros da família Epitoniidae, parecem produzir uma substância similar, que ainda não foi estudada nem explorada comercialmente. O molusco Nucella lapillus, do Atlântico Norte, também pode ser usado para produzir tintas púrpuras e violetas.
Na natureza estes moluscos utilizam esta secreção como parte de seu comportamentopredatório, e para funcionar como uma camada antimicrobiana que cobre seus ovos. O molusco secreta esta substância quando é tocado ou atacado fisicamente por humanos, portanto a tinta pode ser extraída através de um processo de "ordenha", que embora seja mais trabalhoso é um recurso renovável, ou através do método destrutivo, que consiste da coleta dos moluscos e do esmagamento de suas conchas. Segundo David Jacoby, "doze mil conchas de Murex brandaris não produzem mais que 1,4 g de tinta pura, suficiente apenas para colorir a bainha de uma única veste."


Trem das Cores de Caetano Veloso


A franja na encosta
Cor de laranja
Capim rosa chá
O mel desses olhos luz
Mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra
A prata do trem
A lua e a estrela
Anel de turquesa
Os átomos todos dançam
Madruga
Reluz neblina
Crianças cor de romã
Entram no vagão
O oliva da nuvem chumbo
Ficando
Pra trás da manhã
E a seda azul do papel
Que envolve a maçã
As casas tão verde e rosa
Que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul
Quase inexistente, azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar
Teu cabelo preto
Explícito objeto
Castanhos lábios
Ou pra ser exato
Lábios cor de açaí
E aqui, trem das cores
Sábios projetos:
Tocar na central
E o céu de um azul
Celeste celestial

17 de jan. de 2012

Olhadas de azul

imagem: Maria Klara González

As coisas não querem mais ser vistas por pessoas
razoáveis:
Elas desejam ser olhadas de azul —
Que nem uma criança que você olha de ave.

In: O livro das ignorãças

Beija flor, Cuitelinho, Colibri










Cuitelinho, designação dada a certa espécie de beija-flor, é uma modinha do folclore do Centro-oeste do Brasil, adaptada por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó, que tornou-se um clássico da genuína música sertaneja.

Eu Te Amo de Chico Buarque



Não, acho que estás te fazendo de tonto
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

Peso da Luz de Clarice Lispector

foto: Clarice Lispector, 1965 

"Minha alma tem
o peso da luz.
Tem o peso
da música,
Tem o peso da
palavra nunca
dita, prestes quem sabe a ser dita Tem o peso de uma lembrança, tem
o peso de uma saudade
Tem o peso de um olhar.
Pesa como
pesa uma
ausência
E a lágrima
que não se
chorou tem
o imaterial
peso de um
solidão no meio de outros."

In: Clarice, uma vida que se conta por Nádia Battella Gotlib
GOTLIB, N. B.; Clarice: Uma Vida que se Conta.  Ática, 1995. p. 43.

16 de jan. de 2012

Viagem de Mia Couto


A viagem termina quando encerramos as fronteiras interiores. Regressamos a nós, não a um lugar.

Tumbalalaika - RECORDAÇÕES

Do filme "Jornada da Alma"

Estará errado, ele pergunta, ou talvez certo?
Deverá declarar seu amor, escolher ousar?
E ela aceitará, ou recusará?

Tumbala, tumbala, tumbalalaika,
Tumbala, tumbala, tumbalalaika
tumbalalaika, toque a Balalaika,
tumbalalaika - nos deixe ser felizes.

Senhora, senhora, me diga novamente
O que pode crescer, crescer sem a chuva?
O que pode incendiar durante muitos anos?
Quem pode ansiar e chorar, sem lágrimas?
Tolo rapaz, por que ainda pergunta?

É a pedra que cresce, que cresce sem chuva.
É o amor que pode incendiar por anos.
É o coração que pode chorar sem lágrimas.


Shtyl a boccher, on un tracht
Tracht un tracht a gatze nacht
Vemen tsu nemen un nit far shemen,
Vemen tsu nemen nit zu far

Refrain
Tumbala, tumbala, tumbalalaika,
tumbala, tumbala, tumbalalaika
Tumbalalaika, shpiel balalaika
Shpiel balalaika, freylacvh zol zayn

Meydl, meydl, ch´vel bay dir fregen,
vos kan vaksn, vaksn on regn?
Vos kon brenen un nit oyfhern?
Vos kon beken, veynen on treren?

Refrain
Narisher bocher vos darfstu fregn?
A shteyn ken vaksn, vaksn, on regn.
Libeh ken brenen un nit oyfhern
A harts kon benkn, veynen on treren
......

Un giovane uomo riflette, tutta la notte
sarebbe sbagliato, si domanda, o forse giusto
dovrebbe rivelarle il suo amore, osare scegliere
e lei lo accetterebbe, oppure no?

Tumbala, tumbala, tumbalalaika,
Tumbala, tumbala, tumbalalaika
tumbalalaika, shpiel balalaika
tumbalalaika - freylach zol zayn

Fanciulla, dimmi di nuovo
cosa può crescere senza pioggia?
cosa può ardere per molti anni?
cosa può bramare e piangere senza lacrime?

Giovane sprovveduto, perché domandare ancora?
E la pietra che può crescere senza pioggia
E lamore che può ardere per molti lunghi anni
Ed é il cuore che può agognare e piangere senza lacrime.
  

Cessar de Manoel de Barros

Pensar que a gente cessa é íngreme. Minha alegria ficou sem voz.

do "Livro Sobre Nada" (Arte de Infantilizar Formigas), Editora Record, 1996, pág. 29.

15 de jan. de 2012

Sonhos de Livia Garcia Roza



Chagall - Acima da cidade

Sem contar os sonhos, não sou dona de nada.

Uma pessoa que procura o que profundamente se sente de Clarice Lispector


imagem: Clarice Lispector 
“Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser.
O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de ‘a protetora dos animais’. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la.
[...] No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima.
É pouco, é muito pouco.”

14 de jan. de 2012

A mulher e a casa de João Cabral de Melo Neto



Tua sedução é menos
de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.

Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,

uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.

Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;

pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;

pelos espaços de dentro:
seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,

os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,

exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.

Melo Neto, João Cabral de. Antologia Poética. 4ª edição. Rio de Janeiro, José Olympio, 1978.

Carta de Clarice Lispector para Andrea Azulay


A Andrea Azulay

Rio, 7 de julho de 1974

Andréa de Azulay que é minha filha espiritual:
Você sabe muita coisa, minha colega. Mas de qualquer jeito vou lhe dar umas dicas para a vida e outras para escrever.
       Sugestões de vida:
       - Você sabe se espreguiçar? É tão bom. Quando você se sentir cansadinha (você nunca se sente cansada porque é uma borboleta alegre) ou quando quiser sentir uma coisa boa para o seu corpinho, então espreguice-se. É assim: espiche os braços e as pernas ao último máximo, tanto quanto puder. Fique assim um momento. Em seguida largue-se de repente, relaxe o corpo como se este fosse um trapo. Você vai ver como é gostoso. A gente ganha um corpo novo.
       - Você gosta de comer coisa boa? Então experimente fios de ovos com creme de leite Nestlé. A gente não tem vontade de acabar nunca.
      - Pergunte ao seu pai e a sua mãe se eles deixam o seguinte: esquente uma colher de sobremesa de vinho tinto, esquente uma xícara de café com açúcar, misture tudo e beba devagarzinho. Dá um gosto bom no coração.
      - Experimente mocotó. Demora a cozinhar e leva tempero. Mande fazer um pirão com o caldo. É forte, é potente, dá força humana. É capaz de você odiar!!!
      Sugestões para escrever:
      - Você não precisa de nada, já sabe quase tudo. Mas vou lhe dar umas idéias:
      - Não descuide da pontuação. Pontuação é a respiração da frase. Uma vírgula pode cortar o fôlego. É melhor não abusar de vírgulas. O ponto de interrogação e o de exclamação use-os quando precisar: são válidos. Cuidado com reticências: só as empregue em caso raro. Como depois de um suspiro. Quanto ao ponto e vírgula, ele é um osso atravessado na garganta da frase. Uma minha amiga, com quem falei a respeito da pontuação, acrescentou que o ponto e vírgula é o soluço da frase. O travessão é muito bom para a gente se apoiar nele. Agora esqueça tudo que eu disse.
     - Cuidado com o “que”, muitos ques numa mesma frase atropela a gente. Você pode tomar a liberdade que eu já tomei, isto é: começar um frase com “que”. Mas esse recurso já foi por demais imitado, eu já não uso mais, só às vezes.
Quando você fizer sucesso fique contentinha mas não contentona. É preciso ter sempre uma simples humildade tanto na vida quanto na literatura.
Afago os seus cabelos.
                                                                                                                                                Clarice

Do livro correspondências Clarice Lispector, organizado por Teresa Montero, editora Rocco

13 de jan. de 2012

As coisas serão ditas sem eu as ter dito de Clarice Lispector


Original manuscrito de A hora da estrela (1977). Acervo Clarice Lispector/IMS 
As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou, pelo menos, não era apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias. E nem todas posso contar — uma palavra mais verdadeira poderia de eco em eco fazer desabar pelo despenhadeiro as minhas altas geleiras. Assim, pois, não falarei mais no sorvedouro que havia em mim enquanto eu devaneava antes de adormecer. 

In: OS DESATRES DE SOFIA

12 de jan. de 2012

Antonio Poteiro, Antônio Batista de Sousa - (Província do Minho, Aldeia de Santa Cristina da Pousa, Portugal, 10 de outubro de 1925 - Goiânia, Brasil, 8 de junho de 2010)



















"Sonhava em ser um poeta,

fiz da cerâmica e da pintura,
minha poesia."
Antônio Poteiro

Ondas de Virginia Woolf

imagem: Virginia Woolf
Quão melhor é o silêncio; a xícara de café, a mesa. Quão melhor é sentar-me sozinho como a solitária ave marinha que abre suas asas sobre a estaca. Deixem-me ficar sentado aqui para sempre com coisas nuas, esta xícara de café, esta faca, este garfo, coisas em si, eu mesmo sendo eu mesmo. Não venham preocupar-me com suas alusões a que é tempo de fechar a casa e partir. Eu daria de boa vontade todo o meu dinheiro para que vocês não me perturbassem, mas me deixassem ficar aqui sentado, para sempre, silencioso e só.”
Fonte: As Ondas de Virginia Woolf.  Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

11 de jan. de 2012

Imprevisão do tempo de Débora Siqueira Bueno

Olívia Niemeyer -   Nós: autobiografismos

Trago óculos de sol para um dia de chuva fina.
Chovem ausências e me desprotejo.
Quero sentir a dor funda, visceral,
palpar lembranças rombas
sob o rebordo costal.

Tenho o vestido leve para o dia em cinzas.
O ar me agulha a pele.
Quero o frio que me lembre quem não fui.
Tenho saudades
de futuros esquecidos.

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...