8 de mar. de 2012

João Urban, fotógrafo






João Urban (Curitiba, 1943) é um fotógrafo brasileiro.
Pratica a profissão desde criança. Mais tarde, entre a militância política nos anos 60 em Curitiba, e o ingresso na fotografia publicitária como profissão e a formação de uma cultura fotográfica, foi se tornando um fotógrafo com técnica aprimorada e olhar sensível para questões sociais. Publicou os livros Bóias - Frias, Tagelöhner im Süden Brasiliens. Edition Dià, St. Gallen/Suíça e Wuppertal, Alemanha em 1984, com edição brasileira em 1988 e Tropeiros, em 1991. Participou de várias exposições no Brasil e no exterior. Seu trabalho integra importantes acervos e coleções de fotografia. Recebeu o premio J. P. Morgan em1999 e, em 2000 recebeu a Bolsa Vitae de Artes.
fonte: Wikipédia

Todo mundo tem sua Madeleine de Pedro Nava

"Todo mundo tem sua Madeleine, num cheiro, num gosto, numa cor, numa releitura - na minha vidraça iluminada de repente! - e cada um foi um pouco furtado pelo petit Marcel porque ele é quem deu forma poética decisiva e lancinante a esse sistema de recuperação do tempo. Essa retomada, a percepção desse processo de utilização da lembrança (até então inerte como a Bela Adormecida no Bosque do inconsciente) tem algo da violência e da subitaneidade de uma explosão, mas é justamente o seu contrário, porque concentra por precipitação e suscita crioscopicamente o passado diluído - doravante irresgatável e incorruptível. Cheiro de moringa nova, gosto de sua água, apito de fábrica cortando as madrugadas irremediáveis. Perfume de sumo de laranja no frio ácido das noites de junho. Escalas de piano ouvidas ao sol desolado das ruas desertas. Umas imagens puxam as outras e cada sucesso entregue assim devolve tempo e espaço comprimidos e expande, em quem evoca essas dimensões, revivescências povoadas do esquecido pronto para renascer." 
Baú de ossos, p. 291/292

7 de mar. de 2012

Branco, Blanco, bianco, album, biely, zuria


Impatiens walleriana ou beijo-turco ou maria-sem-vergonha






Impatiens walleriana é uma planta da família das balsamináceas, conhecida também pelos nomes de beijo-turco e maria-sem-vergonha.

Planta de folhas macias e caule suculento e verde com diversas variedades. Muito fácil de cultivar, não exige cuidados especiais. Adaptou-se tão bem ao Brasil que surge espontaneamente em jardins urbanos e matas naturais, sendo considerada daninha em determinadas situações (por isso é chamada de maria-sem-vergonha). Forma frutinhos verdes e suculentos, ocos, com muitas sementes, que quando maduros estouram ao mais leve toque. É uma planta excelente para cultivar com as crianças. De crescimento rápido, gosta de umidade e prefere o calor.

Com o tempo perde a beleza, portanto é tratada como anual, devendo ser replantada. Deve ser cultivada em solo rico em matéria orgânica com regas freqüentes, a pleno sol ou a meia-sombra. Pode ser cultivada em vasos e floreiras, ou em maciços e bordaduras no jardim. Multiplica-se por sementes e estaquia. Para agua-lá, só é necessário deixar o solo dela úmido diariamente

É uma espécie nativa do leste da África, na região da Quênia e de Moçambique. É uma planta herbácea perene que cresce de 15 a 60 centímetros de altura, com grandes folhas lanceoladas com 3 a 12 cm de comprimento e 2 a 5 cm de largura. As folhas são alternadas na maior parte, embora possam ser opostas perto do topo da planta. As flores possuem cinco pétalas e podem ser das mais diversas cores.

A mesma mão de sempre e tão nova de Fabrício Carpinejar


Ferdinand Georg Waldmüller


A mão materna na hora de atravessar a rua. 
A mão paterna mexendo de orgulho nossos cabelos. 
A mão da caligrafia dos cadernos, com a cabeça inclinada na mesa. 
A mão brincando com o graveto na boca do cachorro. 
A mão boba no cinema. A mão para levantar o véu branco da esposa. 
A mão ansiosa a segurar o primeiro passo do filho.
A mão assustada de ternura. 
Ossuda, magra, com as veias azuis pedindo passagem. 
Envelhecida, absolutamente carente, que vai acenar de verdade apertando outra mão.

6 de mar. de 2012

Orquídea Epidendrum conhecida como "orquídea estrela" ou "orquídea crucifixo"








Epidendrum é um gênero que ocorre nas Américas, do México ao Brasil. É também conhecida como "orquídea estrela" ou "orquídea crucifixo".  Recompensa o cultivador com frequentes florações de cores variadas e tem boa resistência a temperaturas altas e baixas, podendo suportar bem períodos de prolongada exposição ao sol. 
Grande número de espécies apresentam um néctar de forte fragrância. Seus principais agentes polinizadores são a mariposa diurnas e noturnas e o beija-flor que costuma visitar algumas espécies.
As condições de cultivo, variam muito, dependendo da região de onde se origina a espécie. Existem espécies epífitas, rupícolas e terrestres, e para cada uma as condições são diferentes, porém na sua maioria, são plantas que devem ser cultivadas em clima intermediário, com boa ventilação e umidade, sem necessitarem de grande adubação nem de períodos secos durante o ano. 

Poemas escolhidos de Emily Dickinson

Leonardo Da Vinci


É mais fácil encontrar
Um amigo que é sombra para os dias quentes,
Do que algum outro, caloroso,
Para as horas frias da mente.

Voltado um tanto para o leste, o catavento
Põe em fuga as almas de musselina;
E se mais firmes são os corações de seda
Do que os feitos de organdi,

A quem culpar? Ao tecelão?
Ó os enganadores fios!
No paraíso, as alfombras
Têm urdidura invisível.


“Poemas escolhidos”, Emily Dickinson. Seleção, tradução, introdução e notas de Ivo Bender.

5 de mar. de 2012

Poema 15: Me gusta cuando callas de Pablo Neruda


Van Gogh 

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
Déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

4 de mar. de 2012

Amor-agarradinho, mimo-do-céu, amor-entrelaçado







Nome Científico: Antigonon leptopus
Sinonímia: Antigonon cordatum
Nome Popular: Amor-agarradinho, viuvinha, mimo-do-céu, coralita, cipó-coral, lágrima-de-noiva, rosália, rosa-da-montanha, cipó-mel, georgina, amor-entrelaçado, bela-mexicana
Família: Polygonaceae
Divisão: Angiospermae
Origem: México

Agora que sinto amor de Fernando Pessoa (Alberto Caieiro)


Agora que sinto amor
Tenho interesse no que cheira.
Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro.
Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova.
Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia.
São coisas que se sabem por fora.
Mas agora sei com a respiração da parte de trás da cabeça.
Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira.
Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver.

3 de mar. de 2012

Paisagem de Murilo Mendes

imagem de Vinicius Moreira

Manhã de claridade,
sinos vibrando na alma da gente,
o amor tão calmo me leva pela mão
nas ruas alinhadas da vida,
me mostra as colunas polidas do tempo,
festões cor-de-rosa,
ritmos equilibrados.
Sons de realejo na praça onde crianças jogam malha
e o ar fino de cheiro de madressilva e jasmins lavados,
água cantando na fonte mecânica, embalando a praça.
Até minha namorada que tem o corpo sólido
e a cara tristíssima
toma uns ares de garota e o mundo entra na ordem.

In Poesia Completa e Prosa

2 de mar. de 2012

Orquídeas Bulbophyllum




Bulbophyllum (em português: Bulbófilo) é um gênero botânico pertencente à família das orquídeas (Orchidaceæ).  
Etimologia: O nome do gênero (Bulb.) procede da latinização das palavras gregas: βολβος (bolbos), que significa "bulbo", "tubérculo", "raiz carnuda"; e φύλλον que significa "folha", aludindo à forma bulbosa das folhas da primeira planta descrita, folhas bastante espessas.
É o mais vasto e um dos mais complexos gêneros dentre as orquídeas, com cerca de duas mil espécies bastante diversas, distribuídas pelos trópicos de todos os continentes com predominância no sudeste africano e asiático. Somente na Nova Guiné há mais de quinhentas espécies descritas.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Adiada enchente de Mia Couto



Velho, não.
Entardecido, talvez.
Antigo, sim.

Me tornei antigo
porque a vida,
tantas vezes, se demorou.
E eu a esperei
como um rio aguarda a cheia.

1 de mar. de 2012

A alma escolhe sua companhia de Emily Dickinson


A alma escolhe sua companhia
E fecha a porta, depois.
Em sua augusta suficiência,
Cessam as intromissões.

Indiferente, vê as carruagens
Parando junto ao portão;
Indiferente, um rei de joelhos
Sobre suas alfombras.

Sei que, dentre uma vasta multidão,
Ela escolheu um ser apenas;
Depois, cerrou as aldravas de sua atenção,
Feito pedra.

In Poemas Escolhidos

Cedro do Líbano manuscrito da Lorena Rocha Hoff


29 de fev. de 2012

Mural de Adélia Prado



Recolhe do ninho os ovos a mulher
nem jovem nem velha,
em estado de perfeito uso.
Não vem do sol indeciso
a claridade expandindo-se,
é dela que nasce a luz 
de natureza velada,
é seu próprio gosto 
em ter uma família,
amar a aprazível rotina.
Ela não sabe que sabe,
a rotina perfeita é Deus:
as galinhas porão seus ovos,
ela porá sua saia,
a árvore a seu tempo
dará suas flores rosadas.
A mulher não sabe que reza:
que nada mude, Senhor.

Bonito de ver






28 de fev. de 2012

Recomendação de Goethe

imagem Pedro Ruiz


Ai, que deve o homem esperar?
É melhor ficar inerte?
É melhor viver sem leme?
A algum amor se aferrar? 
Deve em tenda residir? 
Ou uma casa edificar? 
Deve se fiar em rocha, 
Tão sujeita a vacilar? 
A cada um o seu tanto... 
Cada qual rume, com fé, 
Pense onde se fixar 
E não caia estando em pé.

Investigações de um cão de Franz Kafka


Andrew Wyeth 
Todo o conhecimento, a totalidade de todas as perguntas e respostas, está contida no cão.

As minhas interrogações servem apenas de aguilhão para mim mesmo. Só quero ser estimulado pelo silêncio que se ergue à minha volta como resposta derradeira. «Até quando conseguirás suportar o facto de que o mundo dos cães, tal como demonstram cada vez com mais evidência as tuas pesquisas, está para sempre votado ao silêncio? Até quando conseguirás suportar esta ideia?» Esta, esta é que é a verdadeira grande interrogação da minha vida, uma interrogação perante a qual as outras interrogações se tornam totalmente insignificantes. Uma interrogação que diz respeito apenas a nós próprios e a mais ninguém. Infelizmente, posso responder a esta interrogação com mais facilidade do que às interrogações específicas: aguentarei, provavelmente, até ao meu fim natural. A serenidade da velhice irá formando uma resistência cada vez maior a todas as interrogações inquietantes. Tudo indica que hei-de morrer em silêncio e rodeado de silêncio, na verdade até de forma específica, e antevejo isso com uma certa tranquilidade. Um coração admiravelmente resistente, pulmões que é impossível ficarem fracos prematuramente, foram-nos dados a nós, cães, como que por ironia. Assim, sobrevivemos a todas as interrogações, inclusive àquelas que colocamos a nós próprios, como autênticas fortalezas de silêncio que somos.
Franz Kafka, "Investigações de um cão"

27 de fev. de 2012

A senhora Clarinha de Agustina Bessa Luís



Em Fontelas de Cima, repentino sobrado do Alto Douro, ficava a venda da senhora Clarinha. Era uma mulher baixinha, minuciosa nas contas, pouco afeiçoada à clientela, mas mais correcta de maneiras do que éhabitual em patroa de balcão e locanda. A montra, feita duma janela ainda apresentável no seu parapeito verde, exibia maços de velas e lamparinas. A senhora Clarinha servia as necessidades das almas e outras que o não eram. Ela própria tinha a sua devoção pessoal a 5. Judas Tadeu; oferecia-lhe todos os meses um litro de azeite, do melhor, e um quilo de bolachas jazz band. Não que o santo, no seu pequeno soco de escaiola, demonstrasse apetite e gostos adamados. Quem comia as bolachas era o Tito, filho de sacristão e cara de Caim. Era um exemplo paleolitíco com aquela fauce bravia e os olhos juntos. Atirava pedradas aos carros, corria de rastos, tinha escon­derijo nas minas e nas pedreiras. Mas sabia o seu latim e tocava a Santos como se quisesse fazer cair as mura­lhas de Jericó. Enfim, havia prós e contras nesse cham­bão. No coro, com a opa de cetineta vermelha, estava regular; no adro, parecia ainda humano; na torre do sino, um morcego vampiro ou gárguia de Nôtre Dame. Vamos lá destrinçar as espécies e fazer paleontologia! O caso é outro.

A senhora Clarinha, numa manhã de Maio, recebeu uma carta extraordinária. Era dirigida aos devotos de S. Judas Tadeu e devia ser copiada duzentas vezes e mandada a outros tantos fiéis, a começar pelo nome que lhes era indicado. Porém o nome não constava na carta, e a senhora Clarinha achou-se embaraçada para cumprir aquela intimação; o que a punha em perigo gravíssimo. Interrompida a cadeia, caíam sobre ela desgraças impos­síveis de evitar, como incêndios, inundações, mortes de parentes e amigos. Ela estava muitíssimo apoquentada e fechou a loja antes das sete horas. Sentou-se numa cadeirinha de palha e pôs-se a pensar. Tinha algum dinheiro, nome honrado e uma vinha com o seu quartei­rão de oliveiras. A casa era dela, com duas salas com um fausto de vistas e uma coroa de bouças velhas em volta. Tinha de tudo na loja — fio de Norte, papos-secos, tesouras da poda. Também vendia grandes rebuçados de avenca, quase do tamanho de pires e embrulhados em papel de seda branco. Desde Fontelas de Cima até Moura Morta, eram famosos. A senhora Clarinha abanou tristemente a cabeça. Não tinha esperança de escapar à ter­rível ameaça que sobre ela desabara. O Tito, que vinha à noite trazer a canada do leite, encontrou-a meio transtornada e com a carta na mão.

— Lê o que aí diz — pediu ao rapaz. Ele juntou as letras, foi-se explicando.

— Duzentas vezes esta letania! Deite-a fora, não faça caso.

— A carta de S. Judas? Não se pode, é proibido.

Estava tão branca atrás do mostrador verde, que era como uma aparição. Um feixe de ráfia projectava atrás dela uma espécie de auréola loira. O Tito teve medo, e não era um moço acanhado. As ratoeiras a fogo, nos laranjais, já lhe tinham acertado nas pernas duas ou três vezes.

Em poucos dias, a senhora Clarinha morreu do aperto de alma em que estava. Não pôde mandar a ‘carta de S. Judas Tadeu’, e alguma coisa ‘tinha que lhe acontecer’ Deus nos livre do que o destino manda sem nos dar o direito de executar a sua ordem. Ai!

Datado: 10-8-1974

AGUSTINA BESSA LUIS, CONVERSAÇÕES COM DMITRI E OUTRAS FANTASIAS,

Inverso, A REGRA DO JOGO, 1979, p. 35

A CERCA, O CÓRREGO :: Marcílio Godoi

  Quando falava de suas poucas reservas, de saúde e de dinheiro, meu velho pai dizia, “talvez dê pra chegar com a cerca no córrego!”. Desde ...