3 de nov. de 2012

Sobre o apelo da poesia de Dritëro Agolli

Beatrice Ridley

Dizes que escrevi de mais sobre vacas,
E que estraguei demasiados versos com os cereais dos campos.
E então? Tu tens manteiga e leite pela manhã,
Ao jantar há sempre esse pãozinho branco
No teu prato e, além disso, o teu clamor por carne.

Sustentas que perdemos alguma emoção poética
Quando, nos nossos versos, falamos de vacas a toda a hora,
A intensidade de um poema, dizes, não vem das pastagens,
Nasce antes sob a nossa pele - quando uma linha explode
Em palavras, insistes, vindas de alguma reserva sublime.

Escuta, no entanto: no que diz respeito a vacas, eu nunca alcancei
Tudo o que queria, sim, elas merecem muito mais,
Por isso não posso separá-las da minha caneta e das minhas folhas,
As vacas são a minha inspiração, a minha primavera, o meu outono,
E, se pudesse, ensiná-las-ia a escrever poemas.

Tenho a certeza de que fariam melhor do que a maioria dos nossos bardos!

(Versão a partir da tradução inglesa de Robert Elsie e Janice Mathie-Heck reproduzida em Lightning from the depths - An anthology of albanian poetry, Northwestern University Press, Evanston/Illinois, 2008, p. 181).

Perpétua, Amaranto-globoso, Gonfrena, Perpétua-roxa







Família: Amaranthaceae
Categoria: Flores Anuais, Forrações ao Sol Pleno
Clima: Equatorial, Mediterrâneo, Oceânico,Subtropical, Temperado, Tropical
Origem: América Central, Guatemala, Panamá
Altura: 0.1 a 0.3 metros, 0.3 a 0.4 metros
Luminosidade: Sol Pleno
Ciclo de Vida: Anual
A perpétua é originalmente uma planta herbácea de flores de coloração roxa. No entanto, hoje em dia já são produzidas variedades de diversas cores. Suas folhas são oval-lanceoladas, de textura pilosa e coloração verde-clara. Ela é versátil, tendo várias funções paisagísticas, podendo ser utilizada como forração ou para compor canteiros, bordaduras e maciços. Além disso, pode ser cultivada para a produção de flores secas.
Devem ser plantadas à pleno sol, em solo fértil e enriquecido com matéria orgânica, com regas regulares. Tolera bem o calor e o frio subtropical. Multiplica-se por sementes.
fonte: jardineiro.net


2 de nov. de 2012

Funeral Blues :: W. H. AUDEN


Que parem os relógios, cale o telefone,
jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás.

Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto — um laço no pescoço —
e os guardas usem finas luvas cor-de-breu.

Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto
viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.

É hora de apagar estrelas — são molestas —
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.

(tradução de Nelson Ascher)

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Pare os relógios, cale o telefone
Evite o latido do cão com um osso 
Emudeça o piano e que o tambor surdo anuncie 
a vinda do caixão, seguido pelo cortejo. 
Que os aviões voem em círculos, gemendo 
e que escrevam no céu o anúncio: ele morreu. 
Ponham laços pretos nos pescoços brancos das pombas de rua 
e que guardas de trânsito usem finas luvas de breu. 
Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste 
Meus dias úteis, meus finais-de-semana, 
meu meio-dia, meia-noite, minha fala e meu canto. 
Eu pensava que o amor era eterno; estava errado 
As estrelas não são mais necessárias; apague-as uma por uma 
Guarde a lua, desmonte o sol 
Despeje o mar e livre-se da floresta 
pois nada mais poderá ser bom como antes era. 

...............
Funeral Blues

Pare os relógios, cale o telefone
Evite o latido do cão com um osso
Emudeça o piano e que o tambor surdo anuncie
a vinda do caixão, seguido pelo cortejo.
Que os aviões voem em círculos, gemendo
e que escrevam no céu o anúncio: ele morreu.
Ponham laços pretos nos pescoços brancos das pombas de rua
e que guardas de trânsito usem finas luvas de breu.
Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste
Meus dias úteis, meus finais-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, minha fala e meu canto.
Eu pensava que o amor era eterno; estava errado
As estrelas não são mais necessárias; apague-as uma por uma
Guarde a lua, desmonte o sol
Despeje o mar e livre-se da floresta
pois nada mais poderá ser bom como antes era.

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Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Impeçam o cão de latir com um osso enorme,
Silenciem os pianos e ao som abafado dos tambores
Tragam o caixão, deixem as carpideiras carpir suas dores.

Deixem os aviões aos círculos a gemer no céu
Rabiscando no ar a mensagem Ele Morreu,
Ponham laços crepe nas pombas brancas da nação,
Deixem os sinaleiros usar luvas pretas de algodão.

Ele era o meu Norte, meu Sul, meu Este e Oeste,
Minha semana de trabalho, meu Domingo de festa
Meu meio-dia, meia-noite, minha conversa, minha canção;
Pensei que o amor ia durar para sempre: foi ilusão.

As estrelas já não são precisas: levem-nas uma a uma;
Desmantelem o sol e empacotem a lua;
Despejem o oceano e varram a floresta;
Porque agora já nada de bom me resta.

..................

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message 'He is Dead'.
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the woods;
For nothing now can ever come to any good.

April 1936

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Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Não deixem o cão ladrar aos ossos suculentos,
Silenciem os pianos e com os tambores em surdina
Tragam o féretro, deixem vir o cortejo fúnebre.

Que os aviões voem sobre nós lamentando,
Escrevinhando no céu a mensagem: Ele Está Morto,
Ponham laços de crepe em volta dos pescoços das pombas da cidade,
Que os polícias de trânsito usem luvas pretas de algodão.

Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,
A minha semana de trabalho, o meu descanso de domingo,
O meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha canção;
Pensei que o amor ia durar para sempre: enganei-me.

Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas;
Emalem a lua e desmantelem o sol;
Despejem o oceano e varram o bosque;
Pois agora tudo é inútil.

(tradução de Maria de Lourdes Guimarães)
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Parem já os relógios, corte-se o telefone,
dê-se um bom osso ao cão para que ele não rosne,
emudeçam pianos, com rufos abafados
transportem o caixão, venham enlutados.

Descrevam aviões em círculos no céu
a garatuja de um lamento: Ele Morreu.
no alvo colo das pombas ponham crepes de viúvas,
polícias-sinaleiros tinjam de preto as luvas.

Era-me Norte e Sul, Leste e Oeste, o emprego
dos dias da semana, Domingo de sossego,
meio-dia, meia-noite, era-me voz, canção;
julguei o amor pra sempre: mas não tinha razão.

Não quero agora estrelas: vão todos lá para fora;
enevoe-se a lua e vá-se o sol agora;
esvaziem-se os mares e varra-se a floresta.
Nada mais vale a pena agora do que resta.

(tradução de Vasco Graça Moura)
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Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Não deixem o cão ladrar aos ossos suculentos,
Silenciem os pianos e abafem o tambor
Tragam o caixão, deixem passar a dor. 

Que os aviões voem sobre nós lamentando,
Escrevinhando no céu a mensagem: Ele Está Morto,
Ponham laços de crepe nos pescoços das pombas da região,
Que os polícias de trânsito usem luvas pretas de algodão. 

Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,
A minha semana de trabalho, o meu descanso de domingo,
O meu meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha canção;
Pensei que o amor ia durar para sempre: “não tinha razão”. 

Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas;
Emalem a lua e desmantelem o sol;
Despejem o oceano e varram a floresta;
Pois agora nada mais de bom nos resta.

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Pare os relógios, cale o telefone 
Evite o latido do cão com um osso 
Emudeça o piano e que o tambor surdo anuncie 
a vinda do caixão, seguido pelo cortejo. 

Que os aviões voem em círculos, gemendo 
e que escrevam no céu o anúncio: ele morreu. 
Ponham laços pretos nos pescoços brancos das pombas de rua 
e que guardas de trânsito usem finas luvas de breu. 

Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste 
Meus dias úteis, meus finais-de-semana, 
meu meio-dia, meia-noite, minha fala e meu canto. 
Eu pensava que o amor era eterno; estava errado 

As estrelas não são mais necessárias; apague-as uma por uma 
Guarde a lua, desmonte o sol 
Despeje o mar e livre-se da floresta 
pois nada mais poderá ser bom como antes era. 

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Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Impeçam os cães de ladrar com um osso apetitoso,
Calem-se os pianos e com ribombares abafados
Tragam o caixão, que as carpideiras chorem.

Que os aviões circulem gemendo sobre nós
Escrevendo no céu a mensagem Ele Está Morto,
Ponham fitas crepe nos pescoços brancos das pombas públicas,
Que os polícias de trânsito usem luvas de algodão preto.

Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,
A minha semana de trabalho e o meu descanso de Domingo,
O meu dia, a minha noite, a minha conversa, a minha canção;
Pensava que o amor durava para sempre: estava errado.

As estrelas já não são desejadas; apaguem uma a uma;
Embalem a lua e desmanchem o sol;
Despejem o oceano e varram as florestas;
Pois já nada pode vir a ser bom.

Hoje de Mana Bernardes



Lilás












1 de nov. de 2012

Resedá Brasileiro - Physocalymma scaberrimum






O Pau de Rosas (Physocalymma scaberrimum) pertence à família das Litráceas e também recebe o nome de Resedá Brasileiro.
Essa árvore é nativa das regiões centro-oeste e nordeste do Brasil e em locais de terras férteis pode atingir até 10 metros de altura, já em terrenos de solos fracos e pedregosos adquire porte pequeno, porém sempre com floração abundante. Sua florada é na coloração rosa-vivo e é espetacular ocorrendo no final do inverno e início da primavera com a planta desprovida de folhas.
Nessa época a planta fica totalmente coberta de flores lembrando bastante as cerejeiras japonesas, porém com a vantagem de florescer intensamente em regiões de clima bem quente e seco. Pelo seu porte reduzido pode ser usado em paisagismo nas mais diversas situações, em alamedas, parques, jardins, etc.
Luz: Pleno sol

Solos: Os mais variados tipos de solos, mesmo os mais pobres e pedregosos.

Origem: Regiões centro-oeste e nordeste do Brasil.

Oficina de Débora Siqueira Bueno

Portinari
A oficina de meu pai,
lugar só dele,
cheirava a graxa.
Tinha as ferramentas todas bem arrumadas.
Ele as pendurava num painel que fizera,
madeira envernizada,
os nós destacados.
A de minha mãe se espalhava pela casa –
a cozinha,
a varanda,
a cesta de costura,
a cadeira debaixo do abajur,
o jardim,
vasos de plantas,
o quarto.

Escrevo na escrivaninha
comprada usada,
incógnitas marcas.
O tampo é desses que abre e fecha
e tranca.
Sobre ela, dois microscópios
bem antigos, de metal,
para vasculhar detalhes.
Duas xícaras reproduzem
pinturas de Portinari
da Igreja de São Francisco –
peixes e aves, seres
das profundezas e dos ares,
onde constantemente vago.

A estante de livros,
arrumados conforme a seriedade e o gosto,
portas transparentes,
velha de muitas leituras,
me ladeia e observa.
É coroada pela máquina de escrever
que foi de meu pai
e me olha lá de cima.

Quando ele morreu
me foi perguntado o que eu queria dele.
Pedi a máquina, onde não escrevo,
mas que me abençoa.
Queria algo que guardasse
o toque de suas mãos.
Queria também palavras escritas,
grafadas com sua letra e lamento
não ter salvo as fichas
com os nomes poéticos das vacas
da fazenda Olhos d'água.

Em minha oficina uso
as ferramentas que herdei.
O gosto pela profundeza,
pelas palavras e história
ganhei de minha mãe;
também certa tristeza e o silêncio.
Impulso para entrar no mundo,
o sonho de conquistar grandes coisas
e um otimismo por vezes irrefreável,
estes recebi de meu pai.
O conhecimento sobre os caminhos de dentro
é decifração de meu próprio mapa,
percurso repetido
de me perder
e, de novo, ter que me buscar.

Fotografias de meus filhos,
obras feitas por suas mãos,
me ancoram ao tempo presente
e ao amor.


Pequenos objetos impregnados de afeto,
lembranças de estados d'alma;
o vaso de flores de maio,
as preferidas de minha avó;
janelas que arrematam
recortes de árvores e céu –
todos compõem meu espaço,
servem de pouso à vista,
repouso
para o nada pensar.

Componho melodias de silêncio.
Brotam do passado,
seguem ao futuro.
Aqui, só ser.
Aqui, sou.

31 de out. de 2012

Dia D - Drummond - Nascimento do poeta

Camille Claudel 

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe
valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.



29 de out. de 2012

Canção do estrangeiro de Edmond Jabès


William Kay Blacklock
Estou à procura
de um homem que não conheço,
que nunca foi tão eu mesmo
quanto desde que comecei a procurá-lo.
Teria ele meus olhos, minhas mãos
e todos esses pensamentos semelhantes
aos destroços deste tempo?
Estação de mil naufrágios,
o mar deixa de ser mar,
para tornar água gelada dos túmulos.
Mas, mais longe, quem sabe mais longe?
Uma menina canta a contragosto,
enquanto a noite reina sobre as árvores,
pastora em meio a seus carneiros. 
Venham arrebatar do grão de sal a sede
que nenhuma bebida poderá mitigar.
Com as pedras, um mundo se devora 
para ser, como eu, de parte alguma. 

(tradução: Caio Meira)

27 de out. de 2012

A vida dos sentimentos é extremamente burguesa de Clarice Lispector

'Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Quando o amor é grande demais torna-se inútil: já não é mais aplicável, e nem a pessoa amada tem a capacidade de receber tanto. Fico perplexa como uma criança ao notar que mesmo no amor tem-se que ter bom senso e senso de medida. Ah, a vida dos sentimentos é extremamente burguesa.'

Chuva-de-ouro, Canafístula, Cássia-fístula, Cássia-imperial







Família: Fabaceae
Categoria: Árvores, Árvores Ornamentais, Medicinal
Clima: Equatorial, Subtropical, Tropical
Origem: Ásia
Altura: 4.7 a 6.0 metros, 6.0 a 9.0 metros, 9.0 a 12 metros
Luminosidade: Sol Pleno
Ciclo de Vida: Perene
A chuva-de-ouro é uma árvore ornamental decídua, de floração espetacular, com seus belos cachos pendentes de flores douradas. De porte médio e crescimento rápido, ela alcança cerca de 5 a 10 metros de altura. Seu tronco é elegante, um pouco tortuoso, e pode ser simples ou múltiplo, com a casca cinza-esverdeada. A copa é arredondada, com cerca de 4 metros de diâmetro. As folhas são pinadas, alternas, com 4 a 8 pares de folíolos elípticos, acuminados e de cor verde-viva.

No verão desponta suas inflorescências, do tipo rácemo, pendentes e longas, com cerca de 30 cm de comprimento e com numerosas flores amarelas, pentâmeras e grandes. Os frutos que se seguem são do tipo legume, cilíndricos, de cor marrom, e contêm de 25 a 100 sementes lenticulares, castanhas, lustrosas, envoltas em uma polpa doce e com propriedades medicinais. Apesar da polpa ser comestível, as sementes são tóxicas e não devem ser ingeridas.

Isolada ou em pequenos grupos, a chuva-de-ouro se torna um centro de atenção no jardim, durante sua floração. No resto do ano ela também não fica pra trás, pois fornece uma sombra fresca, sem ser muito densa. Pode ser plantada em calçadas pois não apresenta raízes agressivas. Além de suas qualidades ornamentais, ela é utilizada em fitoterapia, tendo destaque especial na medicina Ayurveda. Suas propriedades incluem desintoxicação e depuração do organismo. Cuidado: a chuva-de-ouro têm propriedades tóxicas, e seu consumo deve ter sempre acompanhamento médico.

Deve ser cultivada sob sol pleno, em solo fértil, drenável, enriquecido com matéria orgânica e irrigado regularmente. A chuva-de-ouro se adapta muito bem aos climas subtropical e tropical. Depois de bem estabelecida ela é capaz de tolerar períodos curtos de estiagem. Multiplica-se por sementes que necessitam de quebra de dormência para uma melhor germinação. A quebra de dormência pode ser realizada através da escarificação física ou imersão em solução de ácido sulfúrico por 5 a 20 minutos. Após este processo, as sementes devem ser deixadas de molho em água por algumas horas antes do plantio.

26 de out. de 2012

A Moça Tecelã - Marina Colasanti



Bordado: matizes bordados dumont
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.


E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.

— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.

Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.

— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.
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Marina Colasanti (1938) nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Texto extraído do livro “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”. Global Editora,  2000.

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...