Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
22 de ago. de 2013
O tejo é mais belo de Fernando Pessoa
Rio Tejo
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,
O Tejo tem grande navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
http://letras.mus.br/tom-jobim/86241/
21 de ago. de 2013
A casa de Natércia Freire
Afeiçoar-se à Casa.
Como a pedra ao escultor,
A palavra ao poeta.
Nos silêncios, no escuro,
Nos sonos e nos sonhos,
Sugada pela casa,
Estarei presente em tudo.
Os recados de luz,
Os contos de Chopin,
Recolhem-me no espaço,
Adejam-me sem data.
Um murmúrio de amor
Saltita na penumbra
Das vozes juvenis.
Junto do toucador
Há uma tarde feliz.
Espreito as sombras na hora
Em que a Casa é deserta
Alguém deixou no Tempo
A grande porta aberta...
O mármore, a madeira,
As flores, a terra, a água,
O pássaro cantor e as lanternas
Da escada,
Houve um dia em que sim,
Nasceram e ficaram
Como quem abre a luz
Numa sala arrumada.
A Casa vê o Tejo.
Debruça-se à varanda,
Quer-me levar consigo...
Não sou fácil nem mansa.
20 de ago. de 2013
Quede graça de sorriso, quede colo de camélia? Carlos Drummond de Andrade
Camelia japonica
Camellia L. é um género de plantas da família Theaceae que
produzem as flores conhecidas como camélia (e em algumas regiões de Portugal
como japoneira). O género Camellia inclui muitas plantas ornamentais e a planta
do chá.
O gênero foi descrito pelo naturalista sueco Carl von Linné
em sua obra magna Species Plantarum, e assim designado em homenagem ao
missionário jesuíta Georg Kamel. Algumas espécies deste gênero pertenciam ao
gênero Thea, mas este epíteto foi sinonimizado com Camellia quando se observou
que as Camellia e Thea não apresentavam qualquer diferença significativa entre
si.
Todas as espécies de Camellia são designadas, na China, pela
palavra mandarim "chá" (茶), complementada por algum termo que,
geralmente, caracteriza seu habitat ou suas peculiaridades morfológicas.
Este gênero apresenta cerca de 80 espécies nativas das
florestas da Índia, Sudeste Asiático, China e Japão. São arbustos ou árvores de
porte médio, com folhas coriáceas, escuras, lustrosas, com bordas serrilhadas
ou denteadas. Apresentam flores vistosas, brancas, vermelhas, rosadas,
matizadas, ou raramente amarelas, algumas tão grandes quanto a palma da mão de
uma pessoa adulta, outras tão pequenas quanto uma moeda. Certas espécies exalam
suave perfume. Os frutos são cápsulas globosas, que podem variar do tamanho de
um amendoim ao de uma maçã, com cerca de 3 sementes esféricas.
Algumas espécies, como C. japonica, C. sasanqua, C.
reticulata, e C. chrysantha, são cultivadas por suas belas e grandes flores,
folhagem densa, escura e lustrosa, e porte baixo. Estas e outras espécies são
intercruzadas para a obtenção de híbridos que reúnem suas melhores qualidades.
A este gênero ainda pertence a C. sinensis, espécie de cujas
folhas se obtém o chá, e cujo comércio movimenta bilhões de dólares todos os
anos. Outras espécies de Camellia ainda são usadas localmente na Índia e na
China como alternativas à C. sinensis para a preparação de chá. Outras produzem
um óleo em suas sementes, aproveitado como combustível.
19 de ago. de 2013
Rabo de baleia :: Alice Sant'Anna
cruzaria a sala nesse momento
sem barulho algum o bicho
afundaria nas tábuas corridas
e sumiria sem que percebêssemos
no sofá a falta de assunto
o que eu queria mas não te conto
é abraçar a baleia mergulhar com ela
sinto um tédio pavoroso desses dias
de água parada acumulando mosquito
apesar da agitação dos dias
da exaustão dos dias
o corpo que chega exausto em casa
com a mão esticada em busca
de um copo d’água
a urgência de seguir para uma terça
ou quarta boia e a vontade
é de abraçar um enorme
rabo de baleia seguir com ela
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