Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
30 de ago. de 2013
Hoje não escrevo de Carlos Drummond de Andrade
Chega um dia de falta de assunto. Ou, mais propriamente, de falta de apetite para os milhares de assuntos.
Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, purê de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário.
29 de ago. de 2013
Prazer de um sabor de Isabel Allende
Katsukawa Shunshô, 'Young Lovers Preparing Tea', early 1770s
"O prazer de um sabor centra-se na língua e no céu da boca, embora com frequência não comece ali, mas na lembrança. E a parte essencial desse prazer reside nos outros sentidos, na visão, no olfato, no tato, inclusive na audição. Na cerimônia do chá no Japão, o gosto da bebida é o menos importante – na verdade o chá é amargo – mas a serena intimidade das paredes nuas, as formas depuradas dos utensílios, a elegância do ritual, a concentrada harmonia de quem oferece o chá, o quieto agradecimento de quem o recebe, o tênue odor da madeira e do carvão, o som da concha ao verter a água no silêncio do aposento, tudo constitui uma celebração para a alma e para os sentidos. "
fonte: Afrodite. Bertrand Brasil, 2004.
28 de ago. de 2013
Tabacaria de Fernando Pessoa
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
27 de ago. de 2013
Ai daqueles :: Paulo Leminski
Ai daqueles
que se amaram sem nenhuma briga
aqueles que deixaram
que a mágoa nova
virasse a chaga antiga
ai daqueles que se amaram
sem saber que amar é pão feito em casa
e que a pedra só não voa
porque não quer
não porque não tem asa
damasco, ameixa, apricó, abricó, abricô, abricoque, abricote, alberge, albricoque, alpece, alperce, alperche
O damasqueiro (Prunus armeniaca, "ameixa arménia" em latim, sin. Armeniaca vulgaris) é uma árvore que atinge de 3m a 10m, da família das rosáceas, de folhas cordiformes ou ovadas, serreadas e com o pecíolo vermelho, flores solitárias ou geminadas, róseas ou brancas, e drupas subglobosas, com um sulco mediano característico, amarelas ou alaranjadas, com polpa carnuda e sumarenta.
É conhecida no norte da China desde 2000 a.C., sendo muito cultivada em vários países, com inúmeros híbridos e variedades, principalmente devido à sua madeira dura e pelos frutos, o damasco (também chamado de apricó, abricó, abricô, abricoque, abricote, alberge, albricoque, alpece, alperce, alperche), comestíveis ao natural e internacionalmente consumidos como passas e em doces.
O Diccionario de botanica brasileira (1873) dá a seguinte descrição: árvore média, de flores brancas, os frutos são carnosos indeiscentes de 9 a 12 centímetros de diâmetro, redondos, amarelos, comestíveis quando maduros, aromáticos, mas não de agradável cheiro; o epicarpo pouco espesso, um tanto peludo e com um sulco lateral ; a massa um tanto seca e amarela, envolve uma noz. Cultiva-se esta planta nas províncias do Sul do Império.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
26 de ago. de 2013
Dirás que sonho :: Hilda Hilst
John William Godward
Dirás que sonho o dementado sonho de um poeta
Se digo que me vi em outras vidas
Entre claustros, pássaros, de marfim uns barcos?
Dirás que sonho uma rainha persa
Se digo que me vi dolente e inaudita
Entre amoras negras, nêsperas, sempre-vivas?
Mas não. Alguém gritava: acorda, acorda Vida.
E se te digo que estavas a meu lado
E eloqüente e amante e de palavras ávido
Dirás que menti? Mas não. Alguém gritava:
Palavras... apenas sons e areia. Acorda.
Acorda Vida.
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