28 de set. de 2013

Trouxe o sol à poesia de João Cabral de Melo Neto

Chagall
Trouxe o sol à poesia
mas como trazê-lo ao dia?

No papel mineral
qualquer geometria
fecunda a pura flora
que o pensamento cria.

Ora, no rosto que, grave
riso súbito abria,
no andar decidido
que os longes media,

na calma segurança
de quem tudo sabia,
no contacto das coisas
que apenas coisas via,

nova espécie de sol
eu, sem contar, descobria:
não a claridade imóvel
da praia ao meio-dia,

de aérea arquitetura
ou de pura poesia:
mas o oculto calor
que as coisas todas cria.

         (sem data; 1947?)

27 de set. de 2013

Natasha Newton ( Suffolk - Inglaterra)















Rosai por nós - Alice Ruiz

Vincent Van Gogh

nossa senhora da flor roxa
rosai por nós
assim na vida
como no chão
a primavera de cada ano
nos dai hoje
encantai nosso jardim
assim como encantamos
o do vizinho
e não nos deixeis cair na tentação
de esquecer tuas flores


26 de set. de 2013

Flor-borboleta, Borboleta-azul, Clerodendro-africano, Clerodendro-azul



No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro:
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta.

Cecília Meireles


Nome Científico: Rotheca myricoides
Sinonímia: Clerodendrum myricoides, Clerodendrum ugandense, Cyclonema myricoides, Siphonanthus myricoides, Spironema myricoides
Nomes Populares: Flor-borboleta, Borboleta-azul, Clerodendro-africano, Clerodendro-azul
Família: Lamiaceae
Categoria: Arbustos, Arbustos Tropicais, Cercas Vivas
Clima: Equatorial, Subtropical, Tropical
Origem: África, Quênia, Uganda
Altura: 2.4 a 3.0 metros
Luminosidade: Meia Sombra
Ciclo de Vida: Perene
A flor-borboleta é uma planta arbustiva e florífera, caracterizada pelas delicadas e fragrantes flores azuis, semelhantes a borboletas. Seu caule apresenta textura semi-lenhosa e ramificada, podendo alcançar 3 metros de altura, com folhagem esparsa. As folhas são ovaladas, opostas, com margens denteadas e cor verde escura. Floresce o ano todo em regiões de clima quente, e na primavera, verão e outono em clima temperado ou subtropical. As inflorescências, do tipo panícula, surgem nas pontas dos longos e curvados ramos. Cada flor apresenta cinco pétalas, sendo que destas quatro são de cor azul claro e uma é de cor azul escuro. O aspecto geral da flor lembra uma borboleta, com os longos estames no topo, fazendo às vezes de antenas. Atrai polinizadores, como abelhas e borboletas.

Deve ser cultivado sob meia sombra, em solo fértil, drenável, enriquecido com matéria orgânica e irrigado regularmente. Aprecia o calor e a umidade tropicais. É de fácil manutenção, exigindo apenas adubação orgânica e podas anuais. Após as floradas, é interessante podar-lhe as pontas dos ramos com inflorescências velhas e murchas, estimulando assim novas florações. Não tolera geadas. Em lugares com inverno frio, convém cultivá-la em vasos e protegê-la em ambientes internos durante essa estação. Neste período, convém também reduzir as regas. Multiplica-se facilmente por mergulhia e estaquia dos ramos e raízes.

25 de set. de 2013

Oriente - Composição: Gilberto Gil




Se oriente, rapaz 
Pela constelação do Cruzeiro do Sul 
Se oriente, rapaz 
Pela constatação de que a aranha 
Vive do que tece 
Vê se não se esquece 
Pela simples razão de que tudo merece 
Consideração 

Considere, rapaz 
A possibilidade de ir pro Japão 
Num cargueiro do Lloyd lavando o porão 
Pela curiosidade de ver 
Onde o sol se esconde 
Vê se compreende 
Pela simples razão de que tudo depende 
De determinação 

Determine, rapaz 
Onde vai ser seu curso de pós-graduação 
Se oriente, rapaz 
Pela rotação da Terra em torno do Sol 
Sorridente, rapaz 
Pela continuidade do sonho de Adão.

Gilvan Samico (Recife, 15 de junho de 1928)


















Gilvan José de Meira Lins Samico (Recife, 15 de junho de 1928) é um pintor, desenhista e gravurista brasileiro. Atualmente, reside e trabalha na cidade de Olinda, em Pernambuco.
Samico iniciou-se na pintura como autodidata, influenciado pelo expressionismo de artistas como Oswaldo Goeldi e Lívio Abramo, mas atualmente é conhecido por suas meticulosas xilogravuras, inspiradas na temática e estilo da gravura popular do nordeste do Brasil.
Em 1948, começa a frequentar a Sociedade de Arte Moderna do Recife. Em 1952, funda, juntamente com outros artistas, o Ateliê Coletivo da Sociedade, idealizado por Abelardo da Hora. Em 1957, estuda xilogravura com Lívio Abramo, na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo. No ano seguinte, estuda gravura com Goeldi, na Escola Nacional de Belas Artes, na cidade do Rio de Janeiro. Em 1968, recebeu o prêmio viagem ao exterior no 17º Salão Nacional de Arte Moderna do MAM-RJ e permanece por dois anos na Europa. Em 1965, fixa residência em Olinda. Leciona xilogravura na Universidade Federal da Paraíba. 
Em 1971, convidado por Ariano Suassuna, passa a integrar o Movimento Armorial, voltado à cultura popular. Sua produção é particularmente pela recuperação do romanceiro popular e pela literatura de cordel. Suas gravuras são povoadas por personagens da Bíblia, de lendas e por animais fantásticos, com reduzido uso da cor e de texturas. 
Os quarenta anos de gravura do artista foram comemorados em 1997 com importante exposição no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.
Samico tem obras no MoMA de Nova Iorque e participou duas vezes de Bienal de Veneza tendo sido premiado em uma delas.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

23 de set. de 2013

Na Primavera do que sonhei de mim. Também a esperança :: Fernando Pessoa





Monet


Contudo, contudo,

Também houve gládios e flâmulas de cores

Na Primavera do que sonhei de mim.

Também a esperança

Orvalhou os campos da minha visão involuntária,

Também tive quem também me sorrisse.


Hoje estou como se esse tivesse sido outro.

Quem fui não me lembra senão como uma história apensa.

Quem serei não me interessa, como o futuro do mundo.


Caí pela escada abaixo subitamente,

E até o som de cair era a gargalhada da queda.

Cada degrau era a testemunha importuna e dura

Do ridículo que fiz de mim.


Pobre do que perdeu o lugar oferecido por não ter casaco limpo com que aparecesse,

Mas pobre também do que, sendo rico e nobre,

Perdeu o lugar do amor por não ter casaco bom dentro do desejo.

Sou imparcial como a neve.

Nunca preferi o pobre ao rico,

Como, em mim, nunca preferi nada a nada.



Vi sempre o mundo independentemente de mim.

Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,

Mas isso era outro mundo.

Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja.

Acima de tudo o mundo externo!

Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim.
s.d.


Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). - 97.

22 de set. de 2013

A Primavera chegou :: Érico Veríssimo


Só agora Amaro acredita que a Primavera chegou: de sua janela vê Clarissa a brincar sob os pessegueiros floridos. As glicínias roxas espiam por cima - do muro que separa o pátio da pensão do pátio da casa vizinha. O menino doente está na sua cadeira de rodas; o sol lhe ilumina o rosto pálido, atirando-lhe sobre os cabelos um polvilho de ouro. Um avião cruza o céu, roncando - asas coruscantes contra o azul nítido.
Veríssimo, Érico. Clarissa. Globo, 1982.

21 de set. de 2013

Aos olhos de um apaixonado :: Andréa Beheregaray

Raoul Dufy 

Aos olhos de um apaixonado 

Toda esquina é Paris, 
Toda janela um quadro,
Qualquer traço, Picasso
Um sorriso Mona lisa

Aos olhos de um apaixonado

Passarinho é Quintana,
Cama, paraíso
Qualquer adeus fim de mundo
Toda canção confissão 

Aos olhos de um apaixonado

Todo sussurro, uma prece
Sessão da tarde, Felinni
Um rodopio, Fred Astaire 
Telefone é evento e todo dia, feriado 

Aos olhos de um apaixonado.


20 de set. de 2013

Marinha de João Cabral de Melo Neto





Os homens e as mulheres

adormecidos na praia

que nuvens procuram

agarrar?

(MELO NETO, João Cabral de. Marinha. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1985. p. 14.)

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...