24 de jan. de 2014

Flor-de-coral – Russelia equisetiformis









Nome Científico: Russelia equisetiformis
Nomes Populares: Flor-de-coral, Russélia
Família: Plantaginaceae
Categoria: Flores Perenes
Clima: Equatorial, Oceânico, Subtropical, Tropical
Origem: América do Norte, México
Altura: 0.6 a 0.9 metros, 0.9 a 1.2 metros, 1.2 a 1.8 metros
Luminosidade: Meia Sombra, Sol Pleno
Ciclo de Vida: Perene
fonte: jardineiro.net

Luís De Camões - Quem vê, Senhora, claro e manifesto

Waterhouse

Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,
Se não perder de vista só em vê-los,
Já não paga o que deve a vosso gesto.

Este me parecia preço honesto;
Mas eu, por de vantagem merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los,
Donde já não me fica mais de resto.

Assim que a vida e alma e esperança,
E tudo quanto tenho, tudo é vosso,
E o proveito disso eu só o levo.

Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho e quanto posso,
Que, quanto mais vos pago, mais vos devo.

23 de jan. de 2014

berinjela, berejenn, melanzana, eggplant, vinete, vinete, padlizsán, baklažanai


Caso do Vestido :: Carlos Drummond de Andrade

Nossa mãe, o que é aquele
vestido, naquele prego?

Minhas filhas, é o vestido
de uma dona que passou.

Passou quando, nossa mãe?
Era nossa conhecida?

Minhas filhas, boca presa.
Vosso pai evém chegando.

Nossa mãe, dizei depressa
que vestido é esse vestido.

Minhas filhas, mas o corpo
ficou frio e não o veste.

O vestido, nesse prego,
está morto, sossegado.

Nossa mãe, esse vestido
tanta renda, esse segredo!

Minhas filhas, escutai
palavras de minha boca.

Era uma dona de longe,
vosso pai enamorou-se.

E ficou tão transtornado,
se perdeu tanto de nós,

se afastou de toda vida,
se fechou, se devorou,

chorou no prato de carne,
bebeu, brigou, me bateu,

me deixou com vosso berço,
foi para a dona de longe,

mas a dona não ligou.
Em vão o pai implorou.

Dava apólice, fazenda,
dava carro, dava ouro,

beberia seu sobejo,
lamberia seu sapato.

Mas a dona nem ligou.
Então vosso pai, irado,

me pediu que lhe pedisse,
a essa dona tão perversa,

que tivesse paciência
e fosse dormir com ele...

Nossa mãe, por que chorais?
Nosso lenço vos cedemos.

Minhas filhas, vosso pai
chega ao pátio.  Disfarcemos.

Nossa mãe, não escutamos
pisar de pé no degrau.

Minhas filhas, procurei
aquela mulher do demo.

E lhe roguei que aplacasse
de meu marido a vontade.

Eu não amo teu marido,
me falou ela se rindo.

Mas posso ficar com ele
se a senhora fizer gosto,

só pra lhe satisfazer,
não por mim, não quero homem.

Olhei para vosso pai,
os olhos dele pediam.

Olhei para a dona ruim,
os olhos dela gozavam.

O seu vestido de renda,
de colo mui devassado,

mais mostrava que escondia
as partes da pecadora.

Eu fiz meu pelo-sinal,
me curvei... disse que sim.

Sai pensando na morte,
mas a morte não chegava.

Andei pelas cinco ruas,
passei ponte, passei rio,

visitei vossos parentes,
não comia, não falava,

tive uma febre terçã,
mas a morte não chegava.

Fiquei fora de perigo,
fiquei de cabeça branca,

perdi meus dentes, meus olhos,
costurei, lavei, fiz doce,

minhas mãos se escalavraram,
meus anéis se dispersaram,

minha corrente de ouro
pagou conta de farmácia.

Vosso pais sumiu no mundo.
O mundo é grande e pequeno.

Um dia a dona soberba
me aparece já sem nada,

pobre, desfeita, mofina,
com sua trouxa na mão.

Dona, me disse baixinho,
não te dou vosso marido,

que não sei onde ele anda.
Mas te dou este vestido,

última peça de luxo
que guardei como lembrança

daquele dia de cobra,
da maior humilhação.

Eu não tinha amor por ele,
ao depois amor pegou.

Mas então ele enjoado
confessou que só gostava

de mim como eu era dantes.
Me joguei a suas plantas,

fiz toda sorte de dengo,
no chão rocei minha cara,

me puxei pelos cabelos,
me lancei na correnteza,

me cortei de canivete,
me atirei no sumidouro,

bebi fel e gasolina,
rezei duzentas novenas,

dona, de nada valeu:
vosso marido sumiu.

Aqui trago minha roupa
que recorda meu malfeito

de ofender dona casada
pisando no seu orgulho.

Recebei esse vestido
e me dai vosso perdão.

Olhei para a cara dela,
quede os olhos cintilantes?

quede graça de sorriso,
quede colo de camélia?

quede aquela cinturinha
delgada como jeitosa?

quede pezinhos calçados
com sandálias de cetim?

Olhei muito para ela,
boca não disse palavra.

Peguei o vestido, pus
nesse prego da parede.

Ela se foi de mansinho
e já na ponta da estrada

vosso pai aparecia.
Olhou pra mim em silêncio,

mal reparou no vestido
e disse apenas: — Mulher,

põe mais um prato na mesa.
Eu fiz, ele se assentou,

comeu, limpou o suor,
era sempre o mesmo homem,

comia meio de lado
e nem estava mais velho.

O barulho da comida
na boca, me acalentava,

me dava uma grande paz,
um sentimento esquisito

de que tudo foi um sonho,
vestido não há... nem nada.

Minhas filhas, eis que ouço
vosso pai subindo a escada.

Nova Reunião - 19 Livros de Poesia. José Olympio Editora, 1985. p. 157.

Elisabeth Lecourt ( Oloron Saint Marie, França 1972)












22 de jan. de 2014

PERMISSÃO de MARIA ANTONIA DE OLIVEIRA (Olímpia, SP)

                                                                                 Waterhouse
Moça
de vestido que balança ao vento.
Namorado
de olhos verdes.
Tia
com travessa de pão quente.
Avô
e passarinho no ombro.
Amigo
trazendo muda de árvore na mão.
Todo e qualquer
embaixador da alegria
Pode entrar por esse portão.

21 de jan. de 2014

Tudo está em gostar da vida e saber vivê-la :: Mário de Andrade

“Tudo está em gostar da vida e saber vivê-la. Só há um jeito feliz de viver a vida: é ter espírito religioso. Explico melhor: não se trata de ter espírito católico ou budista, trata-se de ter espírito religioso pra com a vida, isto é, viver com religião a vida. Eu sempre gostei muito de viver, de maneira que nenhuma manifestação da vida me é indiferente. Eu tanto aprecio uma boa caminhada a pé até o alto da Lapa como uma tocata de Bach e ponho tanto entusiasmo e carinho no escrever um dístico que vai figurar nas paredes dum bailarico e morrer no lixo depois como um romance a que darei a impossível eternidade da impressão. Eu acho, Drummond, pensando bem, que o que falta pra certos moços de tendência modernista brasileiros é isso: gostarem de verdade da vida”.
A lição do amigo: cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade. Editora Record, 1988.

Irina Charny - Mosaicos

As cenas de nossa vida são como imagens em um mosaico tosco;
vistas de perto, não produzem efeitos – 
devem ser vistas à distância para ser possível discernir sua beleza. 
Schopenhauer





















20 de jan. de 2014

Pedro Farina (1987, Rio de Janeiro )

















As bênçãos de Manoel de Barros

Leonardo Varuzza 

Não tenho a anatomia de uma garça pra receber
em mim os perfumes do azul.
Mas eu recebo.
É uma bênção.
Às vezes se tenho tristeza, as andorinhas me
namoram mais de perto.
Fico enamorado.
É uma bênção.
Logo dou aos caracóis ornamentos de ouro
para que se tornem peregrinos do chão.
Eles se tornam.
É uma bênção.
Até alguém já chegou de me ver passar
a mão nos cabelos de Deus!
Eu só queria agradecer.

19 de jan. de 2014

Passagem das Horas de Fernando Pessoa - Álvaro de Campos

Trago dentro do meu coração,

Como num cofre que se não pode fechar de cheio,

Todos os lugares onde estive,

Todos os portos a que cheguei,

Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,

Ou de tombadilhos, sonhando,

E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

A entrada de Singapura, manhã subindo, cor verde,

O coral das Maldivas em passagem cálida,

Macau à uma hora da noite... Acordo de repente...

Yat-lô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô... Ghi — ...

E aquilo soa-me do fundo de uma outra realidade...

A estatura norte-africana quase de Zanzibar ao sol...

Dar-es-Salaam (a saída é difícil)...

Majunga, Nossi-Bé, verduras de Madagáscar...

Tempestades em torno ao Guardafui...

E o Cabo da Boa Esperança nítido ao sol da madrugada...

E a Cidade do Cabo com a Montanha da Mesa ao fundo...

Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...

Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...

Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,

Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir

E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.

A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,

Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,

Desta estrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,

Desta turbulência tranquila de sensações desencontradas,

Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,

Deste desassossego no fundo de todos os cálices,

Desta angústia no fundo de todos os prazeres,

Desta saciedade antecipada na asa de todas as chávenas,

Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.

Não sei se a vida é pouco ou de mais para mim.

Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei

Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,

Consanguinidade com o mistério das coisas, choque

Aos contactos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,

Ou se há outra significação para isto mais cómoda e feliz.

Seja o que for, era melhor não ter nascido,

Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,

A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,

A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair

Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,

E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos

Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,

E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,

Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.

Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,

E preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...

Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,

Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...

Que há-de ser de mim? Que há-de ser de mim?

Correram o bobo a chicote do palácio, sem razão,

Fizeram o mendigo levantar-se do degrau onde caíra.

Bateram na criança abandonada e tiraram-lhe o pão das mãos.

Oh mágoa imensa do mundo, o que falta é agir...

Tão decadente, tão decadente, tão decadente...

Só estou bem quando ouço música, e nem então.

Jardins do século dezoito antes de 89,

onde estais vós, que eu quero chorar de qualquer maneira?

Como um bálsamo que não consola senão pela ideia de que é um bálsamo,

A tarde de hoje e de todos os dias pouco a pouco, monótona, cai.

Acenderam as luzes, cai a noite, a vida substitui-se.

Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver.

Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente.

Estou no caminho de todos e esbarram comigo.

Minha quinta na província,

Haver menos que um comboio, uma diligência e a decisão de partir entre mim e ti.

Assim fico, fico... Eu sou o que sempre quer partir,

E fica sempre, fica sempre, fica sempre,

Até à morte fica, mesmo que parta, fica, fica, fica...

Torna-me humano, ó noite, torna-me fraterno e solícito.

Só humanitariamente é que se pode viver.

Só amando os homens, as acções, a banalidade dos trabalhos,

Só assim — ai de mim! —, só assim se pode viver

Só assim, ó noite, e eu nunca poderei ser assim!

Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,

Mas tudo ou sobrou ou foi pouco — não sei qual — e eu sofri.

Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,

E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse

Amei e odiei como toda a gente,

Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,

E para mim foi sempre a excepção, o choque, a válvula, o espasmo.

Vem, ó noite, e apaga-me, vem e afoga-me em ti.

Ó carinhosa do Além, senhora do luto infinito,

Mágoa externa da Terra, choro silencioso do Mundo.

Mãe suave e antiga das emoções sem gesto,

Irmã mais velha, virgem e triste, das ideias sem nexo,

Noiva esperando sempre os nossos propósitos incompletos,

A direcção constantemente abandonada do nosso destino,

A nossa incerteza pagã sem alegria,

A nossa fraqueza cristã sem fé,

O nosso budismo inerte, sem amor pelas coisas nem êxtases,

A nossa febre, a nossa palidez, a nossa impaciência de fracos,

A nossa vida, ó mãe, a nossa perdida vida...

Não sei sentir, não sei ser humano, conviver

De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.

Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser quotidiano, nítido,

Ter um lugar na vida, ter um destino entre os homens,

Ter uma obra, uma força, uma vontade, uma horta,

Uma razão para descansar, uma necessidade de me distrair,

Uma coisa vinda directamente da natureza para mim.

Por isso se para mim materna, ó noite tranquila...

Tu, que tiras o mundo ao mundo, tu que és a paz,

Tu que não existes, que és só a ausência da luz,

Tu que não és uma coisa, um lugar, uma essência, uma vida,

Penélope da teia, amanhã desfeita, da tua escuridão,

Circe irreal dos febris, dos angustiados sem causa,

Vem para mim, ó noite, estende para mim as mãos,

E sê frescor e alívio, ó noite, sobre a minha fronte...

Tu, cuja vinda é tão suave que parece um afastamento,

Cujo fluxo e refluxo de treva, quando a lua bafeja,

Tem ondas de carinho morto, frio de mares de sonho,

Brisas de paisagens supostas para a nossa angústia excessiva...

Tu, palidamente, tu, flébil, tu, liquidamente,

Aroma de morte entre flores, hálito de febre sobre margens,

Tu, rainha, tu castelã, tu, dona pálida, vem...

22-5-1916

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. Lisboa: Estampa, 1993.

EU SOU VERTICAL :: Sylvia Plath

arte Heloisa Cardoso     Mas não que não quisesse ser horizontal. Não sou árvore com minha raiz no solo Sugando minerais e amor materno Para...