20 de ago. de 2015

Gustav Klimt e o Friso de Beethoven















Klimt pintou o Friso  Beethoven para a 14ª exposição Viena Secessionist, que celebrava o compositor. O friso foi pintado diretamente sobre as paredes com materiais leves e após a exposição a pintura foi preservadae está em exposição permanente no Vienna Secession 
O friso ilustra o desejo humano de felicidade em um mundo sofrido e tempestuoso em que se debate, não só com as forças do mal externo, mas também com as fraquezas internas. O espectador segue esta jornada de descoberta de uma forma visual e linear deslumbrante. Ele começa suavemente com o flutuante Genii feminino em busca da Terra, mas logo a seguir vem o escuro, gigante turbilhão de aparência sinistra, Typhoeus, suas três filhas Gorgon e imagens que representam a doença, loucura, morte, luxúria e lascívia acima e à direita. Daí surge o cavaleiro de armadura brilhante que oferece esperança, devido à sua própria ambição e solidariedade para os humanos suplicantes e sofridos. A jornada termina na descoberta da alegria por meio das artes e o contentamento é representado no estreito abraço de um beijo. Assim, o friso expõe o anseio humano psicológico, em última análise, satisfeito através da beleza das artes, juntamente com amor e companheirismo.
https://pt.khanacademy.org/humanities/becoming-modern/symbolism/v/gustav-klimt-beethoven-frieze-vienna-secession-1902

19 de ago. de 2015

Palavra: Adriane Garcia

Edvard Munch, 1894

Olhos
Uma cadeira não vê
Vive na mais completa escuridão
E assim, chão, quadro, teto
Nem luminária vê clarão
Mas eu, com minhas orbitais
Por onde luz atravessa
E processa
Vejo
E abrir os olhos é como
Abrir a flor
Fresca, primeira
Para o Sol
É como ter sonhado
E acordado
Com o ingresso
Na mão.

Das aparências
Achei meus óculos
Minha maneira de ver
(Não quero estar míope)
De longe, tudo pequeno
Embaralha
(Há um excesso de luz)
Astigmática, preciso um tanto
De escuro
Perto, vejo demais
Como se fosse cega.



Cícero Dias (Cícero dos Santos Dias, 5 de março de 1907 Escada, Pernambuco - 28 de janeiro de 2003 Paris, Île-de-France França)















18 de ago. de 2015

O que Me Dói não É :: Fernando Pessoa

Eugenio Cuttica

O que me dói não é 
O que há no coração 
Mas essas coisas lindas 
Que nunca existirão... 

São as formas sem forma 
Que passam sem que a dor 
As possa conhecer 
Ou as sonhar o amor. 

São como se a tristeza 
Fosse árvore e, uma a uma, 
Caíssem suas folhas 
Entre o vestígio e a bruma. 

in: Cancioneiro 

17 de ago. de 2015

Qual Paz? :: Mia Couto

William H. Johnson, 1941

- Seja que dia for, é bom voltar. Voltar, agora que temos paz...
Sem desviar os olhos da peneira, Hanifa Assulua reclamou, em surdina. Eu falava da Paz? Qual Paz?
- Talvez para eles, os homens - disse. - Porque nós, mulheres, todas as manhãs continuamos a despertar para uma antiga e infindável guerra.”

In:  A Confissão da Leoa

16 de ago. de 2015

Prefiro :: Wislawa Szymborska

Prefiro cinema.

Prefiro os gatos.

Prefiro os carvalhos nas margens do Warta.

Prefiro Dickens a Doistoievski.

Prefiro-me gostando dos homens

em vez de estar amando a humanidade.

Prefiro ter uma agulha preparada com a linha.

Prefiro a cor verde.

Prefiro não afirmar

que a razão é culpada de tudo.

Prefiro as exceções.

Prefiro sair mais cedo.

Prefiro conversar com os médicos sobre outra coisa.

Prefiro as velhas ilustrações listradas.

Prefiro o ridículo de escrever poemas

ao ridículo de não escrever.

No amor prefiro os aniversários não redondos

para serem comemorados cada dia.

Prefiro os moralistas,

que não prometem nada.

Prefiro a bondade esperta à bondade ingénua demais.

Prefiro a terra à paisana.

Prefiro os países conquistados
aos países conquistadores.

Prefiro ter abjecções.

Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.

Prefiro contos de fada de Grimm às manchetes de jornais.

Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.

Prefiro os cães com o rabo não cortado.

Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.

Prefiro as gavetas.

Prefiro muitas coisas que aqui não disse,

e outras tantas não mencionadas aqui.

Prefiro os zeros à solta
 a tê-los numa fila junto ao algarismo.

Prefiro o tempo do insecto ao tempo das estrelas.

Prefiro isolar.

Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.

Prefiro levar em consideração até a possibilidade

do ser ter a sua razão.

14 de ago. de 2015

DESEJO :: FEDERICO GARCIA LORCA

Beatriz Milhazes, 1995
Só o teu coração quente, 
e nada mais 

Meu paraíso um campo 
sem rouxinol 
nem liras, 
com um rio discreto 
e uma fontezinha. 

Sem a espora do vento 
sobre a fronde, 
nem a estrela que quer 
ser folha. 

Uma enorme luz 
que fosse 
pirilampo 
de outra, 
num campo de 
olhadas partidas. 

Um repouso claro 
e ali nossos beijos, 
lunares sonoros 
do eco, 
se abririam muito longe. 

E teu coração quente, 
nada mais. 


In Livro de Poemas 


13 de ago. de 2015

Ben Marzouk





















CHUVISCO :: Maria Irene Costa

Que saudade, meu amor,
Daquela chuva miudinha
Que era tua e era minha,
Que molhava nosso rosto,
Em pleno mês de Agosto!

Hoje deitado à lareira,
Ping, ping na caleira
Contigo ao fogo enlaçado,
Sonho ainda acordado,
Com as lágrimas na folhagem,
Ping, ping, não é miragem
(Que felizes, Deus meu!).

E a chuva miudinha
Continua tua e minha,
Mas já não molha nosso rosto
E não estamos em Agosto!


In: O Livro da Nena. Papiro Editora, 2008.


12 de ago. de 2015

Meagan Ileana












Gramática da felicidade :: Mario Quintana

Virgil Solis

Vivemos conjugando o tempo passado (saudade, para os românticos) 
e o tempo futuro (esperança para os idealistas). Uma gangorra, 
como vês, cheia de altos e baixos — uma gangorra emocional. 
Isso acaba fundindo a cuca de poetas e sábios e maluquecendo de 
vez o homo sapiens. Mais felizes os animais, que, na sua gramática
imediata, apenas lhes sobra um tempo: o presente do indicativo.
E nem dá tempo para suspiros…

in: A vaca e o hipogrifo. 1977.

João Fasolino (1987, Rio de Janeiro)