29 de set. de 2015

Tempo Perdido : Renato Russo

Todos os dias quando acordo
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo

Todos os dias antes de dormir
Lembro e esqueço como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder

Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério, e selvagem
Selvagem, selvagem

Veja o sol dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega é da cor dos teus olhos
Castanhos

Então me abraça forte
E me diz mais uma vez que já estamos 
Distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo

Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes acesas agora
O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido, ninguém prometeu

Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens
Tão jovens, tão jovens



28 de set. de 2015

MUSICA GREGA:: de Jorge Luis Borges


Enquanto dure esta música,

seremos dignos do amor de Helena de Tróia.

Enquanto dure esta música,

seremos dignos de haver morrido em Arbela.

Enquanto dure esta música,

acreditaremos no livre arbítrio,

essa ilusão de cada instante.

Enquanto dure esta música,

saberemos que a nave de Ulisses voltará a Ítaca.

Enquanto dure esta música,

seremos a palavra e a espada.

Enquanto dure esta música,

seremos dignos do cristal e do mogno,

da neve e do mármore.

Enquanto dure esta música,

seremos dignos das coisas comuns,

que não o são agora.

Enquanto dure esta música,

seremos a flecha no espaço.

Enquanto dure esta música,

acreditaremos na piedade do lobo

e na justiça dos justos .

Enquanto dure esta música,

mereceremos tua grande voz, Walt Whitman.

Enquanto dure esta música,

mereceremos ter visto, do alto de um cume,

a terra prometida.


tradução de  Ivan Junqueira. 

.................


Mientras dure esta música,

seremos dignos del amor de Helena de Troya.


Mientras dure esta música,

seremos dignos de haber muerto en Arbela.


Mientras dure esta música,

creeremos en el libre albedrío,

esa ilusión de cada instante.


Mientras dure esta música,

seremos la palabra y la espada.


Mientras dure esta música,

seremos dignos del cristal y de la caoba,

de la nieve y del mármol.


Mientras dure esta música,

seremos dignos de las cosas comunes,

que ahora no lo son.


Mientras dure esta música,

seremos en el aire la flecha.


Mientras dure esta música,

creeremos en la misericordia del lobo

y en la justicia de los justos.


Mientras dure esta música,

mereceremos tu gran voz Walt Whitman.


Mientras dure esta música,

mereceremos haber visto, desde una cumbre,

la tierra prometida.

Lorenzo Quinn (Roma, Itália 1966)











27 de set. de 2015

Dracena-vermelha, Coqueiro-de-vênus, Cordiline (Cordyline terminalis )







  • Cordyline é um gênero botânico pertencente à família Asparagaceae.
    A espécie Cordiline terminalis ocorre como subespontânea no Brasil, sendo originária das ilhas do pacífico. Em inglês, a espécie recebe a denominação de Ti-root, pois de suas raízes tostadas se faz um chá. A folhagem pode ser verde, purpúrea ou variegada com ambas estas cores. É citada sua ocorrencia no Brasil já na Flora Brasiliensis, de Martius (1876).
  • Reino: Plantae
    Divisão: Magnoliophyta
    Classe: Liliopsida
    Ordem: Asparagales
    Família: Asparagaceae
    Gênero: Cordyline
  • fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cordyline

26 de set. de 2015

Vozinha :: Patrick Holloway (Cork (Irlanda), em 1988. Vive em Porto Alegre (RS)

Teresa Lima 
Deveria existir um poema para minha vó
que não é minha vó,

Mas é a vó que eu herdei, deveria existir
um poema com ritmo e rima que

Reflete a musicalidade das
suas panelas, os batimentos

Das suas baterias. Deveria existir um poema
sobre uma guriazinha sem pais, com dias

Como páginas brancas; um poema sobre luto,
o desafio de perder tudo,

Duas vezes, casas caídas, dinheiro desfrutado
e três filhos para criar. Deveria existir

Um poema curto e divertido que fosse mostrado
antes do filme no cinema, então ela

Poderia o ler antes de dormir. Deveria existir
um poema sobre sua risada com olhos

Fechados até quando o assunto é morte. Deveria
existir um poema que mostrasse os pacotes

De felicidade que ela deixa embalados todos
os dias para nós. Deveria existir um poema

Para minha vovó.

25 de set. de 2015

Carambola (Averrhoa carambola)





Averrhoa carambola
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Oxalidales
Família: Oxalidaceae
Género: Averrhoa
Espécie: A. carambola
Nome binomial
Averrhoa carambola
A carambola é o fruto da caramboleira (Averrhoa carambola ), uma árvore ornamental de pequeno porte, da família das Oxalidaceae. Possui flores brancas e purpúreas. É largamente usada como planta de arborização de jardins e quintais. É originária da Índia, sendo muito conhecida na China.

"Carambola" é oriundo do francês carambole

De sabor agridoce, com coloração variando do verde ao amarelo, dependendo do grau de maturação, rica em sais minerais (cálcio, fósforo e ferro) e contendo vitaminas A, C e do complexo B, a carambola é considerada uma fruta febrífuga (que serve para combater a febre), antiescorbútica (que serve para curar a doença escorbuto - carência de vitamina C, e que se caracteriza pela tendência a hemorragias) e, devido à grande quantidade de ácido oxálico, estimulador do apetite. Seu suco pode ser usado para tirar manchas de ferro, de tintas e ainda limpar metais. Sua casca é utilizada como antidisentérico, por possuir alto teor de tanino - cujo poder adstringente pode prender o intestino.

É considerada uma fruta de quintal, pois seu cultivo não é feito em escala, sendo produzida essencialmente em sítios, quintais, granjas e pomares de fazendas. Começa a produzir frutos em torno de quatro anos de existência, dando em média duzentos frutos, podendo durar de cinquenta a setenta anos. A fruta parece uma estrela quando cortada e tem cinco gomos.

Pode ser consumida ao natural ou no preparo de geléias, caldas, sucos e conservas. Cortada em fatias e deixada no fogo brando com açúcar, fica quase da mesma consistência e sabor do doce de ameixa-preta. Na Índia e na China são bastante consumidas como sobremesa, assim como as flores e os frutos verdes, que são utilizados nas saladas.

Pessoas portadoras de insuficiência renal crônica não podem comer carambola, pois esta fruta possui uma toxina natural - a caramboxina - que não é filtrada pelos rins destas pessoas, ficando retida no organismo e atingindo o cérebro, podendo induzir crises de soluços, vômito, confusão mental, agitação psicomotora, convulsões prolongadas (estado de mal epiléptico), coma e levar inclusive, à morte. Portadores de diabetes devem consultar o médico antes de comer, pois podem sofrer de insuficiência renal e não saber. Pessoas sem problemas renais devem evitar o abuso no consumo da carambola. Isso porque seu teor de ácido oxálico pode eventualmente produzir cálculos renais em indivíduos mais sensíveis.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Às vezes, em sonho triste :: Fernando Pessoa

 Paul Klee, 1926

Às vezes, em sonho triste
Nos meus desejos existe
Longinquamente um país
Onde ser feliz consiste
Apenas em ser feliz.
Vive-se como se nasce
Sem o querer nem saber.
Nessa ilusão de viver
O tempo morre e renasce
Sem que o sintamos correr.
O sentir e o desejar
São banidos dessa terra.
O amor não é amor
Nesse país por onde erra
Meu longínquo divagar.
Nem se sonha nem se vive:
É uma infância sem fim.
Parece que se revive
Tão suave é viver assim
Nesse impossível jardim.

21-11-1909
Novas Poesias Inéditas. Fernando Pessoa. (Direcção, recolha e notas de Maria do Rosário Marques Sabino e Adelaide Maria Monteiro Sereno.) Lisboa: Ática, 1973 (4ª ed. 1993).  p. 15.

24 de set. de 2015

Valsinha :: Vinicius de Moraes - Chico Buarque


Um dia ele chegou tão diferente 
Do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente 
Do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto 
Era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, 
Pra seu grande espanto convidou-a pra rodar

Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como 
há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça
E começaram a se abraçar

E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

Tem de haver mais :: Arseny Alexandrovich Tarkovsky

Tem de haver mais
Agora o verão se foi
E poderia nunca ter vindo.
No sol está quente.
Mas tem de haver mais.
Tudo aconteceu,
Tudo caiu em minhas mãos
Como uma folha de cinco pontas,
Mas tem de haver mais.
Nada de mau se perdeu,
Nada de bom foi em vão,
Uma luz clara ilumina tudo,
Mas tem de haver mais.
A vida me recolheu
À segurança de suas asas,
Minha sorte nunca falhou,
Mas tem de haver mais.
Nem uma folha queimada,
Nem um graveto partido,
Claro como um vidro é o dia,
Mas tem de haver mais.

23 de set. de 2015

Dona Carmen :: Ana Estaregui (1987)


gosto de como ela organiza de maneira metódica os ímãs na porta da geladeira (feito pássaros em v no céu);
como coleciona, desde sempre, selos adesivos que vêm colados nos melões, mamões e maçãs; gruda tudo num batente de madeira;
guarda (todos) os araminhos que amarram o pão num potinho de vidro de ervilha;
almoça todos os dias rigorosamente às 12h;
mergulha o filãozinho no leite com café até o miolo inchar de leite com café;
cultiva mudas - arruda, alecrim, mini rosas - em caixinhas de leite longa vida;
só assiste televisão indiretamente: através do reflexo no espelho. dona carmen explica com a propriedade de um doutor: a imagem direta da tv faz mal pra vista;