Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
14 de jun. de 2017
13 de jun. de 2017
Escadas :: Mario Quintana
Escadas de caracol
Sempre
São misteriosas: conturbam.
Quando as descem, a gente
Se desparafusa.
Quando a gente as sobe
Se parafusa
- o peito
estreito –
o teto descendo
Descendo descendo como nas histórias de imortal horror!
Mas de que jeito,
Mas como pode ser,
Morrer cair rolar por uma escada de parafuso?
Além disso não têm, pelo que dizem, nenhuma acústica...
Oh! não há como as escadarias daqueles antigos edifícios públicos
Para ser assassinado...
Porém não fiques tão eufórico,
- nem tudo são rosas:
Há,
no sonho das velhas casas de cômodos onde moras,
Passos que vêm subindo degrau por degrau em direção ao teu quarto
E “sabes” que é um fantasma chamejante e fosfóreo
- o corpo todo feito de inconsumíveis labaredas verdes!
O melhor
Mesmo
É fechar os olhos
E pensar numa outra coisa...
Pensa, pensa
- o quanto antes!
Naquelas pobres escadas de madeira das casas pobres
- escurinho dos teus primeiros aconchegos...
Pensa em cascatas de risos
Escada abaixo
De crianças deixando a escola...
Pensa na escada do poema
Que tu
comigo
vens descendo
agora...
(Hoje em dia todas as escadas são para descer)
Mas não! este poema não é
Nenhum
Abrigo
Antiaéreo...
Ah, tu querias que eu te embalasse?!
Eu estava, apenas, explorando uns abismos...
Apontamentos de História Sobrenatural, 2005.
Sempre
São misteriosas: conturbam.
Quando as descem, a gente
Se desparafusa.
Quando a gente as sobe
Se parafusa
- o peito
estreito –
o teto descendo
Descendo descendo como nas histórias de imortal horror!
Mas de que jeito,
Mas como pode ser,
Morrer cair rolar por uma escada de parafuso?
Além disso não têm, pelo que dizem, nenhuma acústica...
Oh! não há como as escadarias daqueles antigos edifícios públicos
Para ser assassinado...
Porém não fiques tão eufórico,
- nem tudo são rosas:
Há,
no sonho das velhas casas de cômodos onde moras,
Passos que vêm subindo degrau por degrau em direção ao teu quarto
E “sabes” que é um fantasma chamejante e fosfóreo
- o corpo todo feito de inconsumíveis labaredas verdes!
O melhor
Mesmo
É fechar os olhos
E pensar numa outra coisa...
Pensa, pensa
- o quanto antes!
Naquelas pobres escadas de madeira das casas pobres
- escurinho dos teus primeiros aconchegos...
Pensa em cascatas de risos
Escada abaixo
De crianças deixando a escola...
Pensa na escada do poema
Que tu
comigo
vens descendo
agora...
(Hoje em dia todas as escadas são para descer)
Mas não! este poema não é
Nenhum
Abrigo
Antiaéreo...
Ah, tu querias que eu te embalasse?!
Eu estava, apenas, explorando uns abismos...
Apontamentos de História Sobrenatural, 2005.
10 de jun. de 2017
AUTOMÓVILES:: CELIA FONTÁN
Guardo la fotografía
en que mi abuela
conduce un Buick sedan
y lleva a su madre en el asiento trasero.
A menudo pienso
que quise hacer lo mismo:
conducir un automóvil
y llevar a mi madre a donde ella quisiera,
quizás hacia la escena lejana en que la abuela
condujo el viejo Buick.
Mi madre
nunca tuvo automóvil ni manejó ninguno,
mi abuela fue algo serio:
condujo como en sueños,
lo que no existió nunca.
8 de jun. de 2017
um enorme rabo de baleia :: Alice Sant’Anna
Nathaniel Mather
um enorme rabo de baleia
cruzaria a sala nesse momento
sem barulho algum o bicho
afundaria nas tábuas corridas
e sumiria sem que percebêssemos
no sofá a falta de assunto
o que eu queria mas não te conto
é abraçar a baleia mergulhar com ela
sinto um tédio pavoroso desses dias
de água parada acumulando mosquito
apesar da agitação dos dias
da exaustão dos dias
o corpo que chega exausto em casa
com a mão esticada em busca
de um copo d’água
a urgência de seguir para uma terça
ou quarta boia e a vontade
é de abraçar um enorme
rabo de baleia seguir com ela
7 de jun. de 2017
LIEJA, MEDIANOCHE :: CELIA FONTÁN ( Rosario, Santa Fe, Argentina)
De todas las luces que bebe el manso río,
una sola habré de recordar.
(En las colinas
se esparce una ciudad de diminutos prismas)
Pronto estaré lejos, aunque aún lo ignore,
y el hombre que duerme a mi costado
también ha de pasar
como las aguas verdes
de luz
bajo los puentes.
fonte: Hijas del mar.
una sola habré de recordar.
(En las colinas
se esparce una ciudad de diminutos prismas)
Pronto estaré lejos, aunque aún lo ignore,
y el hombre que duerme a mi costado
también ha de pasar
como las aguas verdes
de luz
bajo los puentes.
fonte: Hijas del mar.
6 de jun. de 2017
Canção :: Allen Ginsberg Irwin Allen Ginsberg (Newark, Nova Jersey, 3 de junho de 1926 – Manhattan, Nova York, 5 de abril de 1997)
O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação
o peso
o peso que carregamos
é o amor.
Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano -
sai para fora do coração
ardendo de pureza -
pois o fardo da vida
é o amor,
mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.
Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor -
quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
- não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contigo
quando negado:
o peso é demasiado
- deve dar-se
sem nada de volta
assim como o pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.
Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro
da carne,
a pele treme
na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho -
sim, sim,
é isso que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar
ao corpo
em que nasci.
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação
o peso
o peso que carregamos
é o amor.
Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano -
sai para fora do coração
ardendo de pureza -
pois o fardo da vida
é o amor,
mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.
Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor -
quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
- não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contigo
quando negado:
o peso é demasiado
- deve dar-se
sem nada de volta
assim como o pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.
Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro
da carne,
a pele treme
na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho -
sim, sim,
é isso que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar
ao corpo
em que nasci.
4 de jun. de 2017
Houve morte na casa ali defronte :: Emily Dickinson (1830-1886)
Houve morte na casa ali defronte —
Foi hoje, coisa recente;
Eu sei por esse ar de anestesia
Que dessas casas recende.
Vizinhos em sussurros entram e saem,
De carro afasta-se o médico,
Uma janela se abre como vagem,
De modo abrupto, automático,
E por ela atiram fora um colchão.
Crianças passam correndo —
Intrigadas — "foi ali que morreu?"
Eu ficava assim, me lembro.
Formal e teso vai entrando o clérigo,
Qual se sua a casa fosse —
Hoje são dele todos os que choram
E das crianças toma posse.
Vem o homem do armarinho — e aquele homem
Da horrorosa profissão —
O que toma as medidas para a casa.
Vai haver a soturna procissão —
Vão vir os coches, as franjas douradas
Sem nem cartaz ou rumor,
Corre fácil a intuição das notícias
Nas vilas do interior.
(c. 1862)
There's been a Death, in the Opposite House,
As lately as Today —
I know it, by the numb look
Such Houses have — alway —
The Neighbors rustle in and out —
The Doctor — drives away —
A Window opens like a Pod —
Abrupt — mechanically —
Somebody flings a Mattress out —
The Children hurry by —
They wonder if it died — on that —
I used to — when a Boy —
The Minister — goes stiffly in —
As if the House were His —
And He owned all the Mourners — now —
And little Boys — besides —
And then the Milliner — and the Man
Of the Appalling Trade —
To take the measure of the House —
There'll be that Dark Parade —
Of Tassels — and of Coaches — soon —
It's easy as a Sign —
The Intuition of the News —
In just a Country Town —
tradução: Aíla de Oliveira Gomes
2 de jun. de 2017
Alguns gostam de poesia :: Wislawa Szymborska
Konstantin Makovsky
Alguns -
ou seja nem todos.
Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria.
Sem contar a escola onde é obrigatório
e os próprios poetas
seriam talvez uns dois em mil.
Gostam -
mas também se gosta de canja de galinha,
gosta-se de galanteios e da cor azul,
gosta-se de um xale velho,
gosta-se de fazer o que se tem vontade
gosta-se de afagar um cão.
De poesia -
Mas o que é isso, poesia.
Muita resposta vaga
já foi dada a essa pergunta.
Pois eu não sei e me agarro a isso
como a uma tábua de salvação.
1 de jun. de 2017
Esqueceria outros :: ANA CRISTINA CESAR (1952-1983)
Carel Willink
pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos
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