Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
2 de fev. de 2018
30 de jan. de 2018
"Preciso" :: Eucanaã Ferraz
tenham vinte e quatro horas, ossos,
o sol, a noite, para que ruas, praças
e túneis estejam nos seus lugares.
Meu esforço para que a voz se mova
na fibra exata, para que a cidade,
cada dedo de sua álgebra, não desabe,
para que as fábulas, risos e palavras
estejam no ponto certo, assim como
as pedras, prédios e montanhas
que mantenho quietos a custo.
Amor a quanto obriga.
Meu esforço, faina de todo dia,
para que disso tudo ele nada perceba.
E ele nada percebe. Chove,
e só eu sei.
27 de jan. de 2018
Limites :: ::Juan Gelman
Quem disse alguma vez: até aqui a sede,
até aqui a água?
Quem disse alguma vez: até aqui o ar,
até aqui o fogo?
Quem disse alguma vez: até aqui o amor,
até aqui o ódio?
Quem disse alguma vez: até aqui o homem,
até aqui não?
Só a esperança tem os joelhos nítidos.
Sangram.
..........
¿Quién dijo alguna vez: hasta aquí la sed,
hasta aquí el agua?
¿Quién díjo alguna vez: hasta aquí el aire,
hasta aquí el fuego?
¿Quién dijo alguna vez: hasta aquí el amor,
hasta aquí el ódio?
¿Quién dijo alguna vez: hasta aquí el hombze,
hasta aquí no?
Sólo la esperanza tiene las rodillas nítidas.
Sangran.
Edição bilingüe .Trad. de Eric Nepomuceno. Rio de Janeiro: Record, 2001. 160 p.
até aqui a água?
Quem disse alguma vez: até aqui o ar,
até aqui o fogo?
Quem disse alguma vez: até aqui o amor,
até aqui o ódio?
Quem disse alguma vez: até aqui o homem,
até aqui não?
Só a esperança tem os joelhos nítidos.
Sangram.
..........
¿Quién dijo alguna vez: hasta aquí la sed,
hasta aquí el agua?
¿Quién díjo alguna vez: hasta aquí el aire,
hasta aquí el fuego?
¿Quién dijo alguna vez: hasta aquí el amor,
hasta aquí el ódio?
¿Quién dijo alguna vez: hasta aquí el hombze,
hasta aquí no?
Sólo la esperanza tiene las rodillas nítidas.
Sangran.
Edição bilingüe .Trad. de Eric Nepomuceno. Rio de Janeiro: Record, 2001. 160 p.
25 de jan. de 2018
Eu nem sei se vale a pena :: Mário de Andrade
Christian Tragni
Eu nem sei se vale a pena
Cantar São Paulo na lida,
Só gente muito iludida
Limpa o goto(*) e assopra a avena(**),
Esta angústia não serena,
Muita fome pouco pão,
Eu só vejo na função
Miséria, dolo, ferida,
Isso é vida?
São glórias desta cidade
Ver a arte contando história,
A religião sem memória
de quem foi Cristo em verdade,
Os chefes nossa amizade,
Os estudantes sem textos,
Jornalismo no cabresto,
Tolos cantando vitória,
Isso é glória?
divórcio pra todo o lado,
As guampas fazem furor,
Grã ‑finos do despudor,
no gasogênio empestado,
das moças do operariado
São os gozosos mistérios,
Isso de ter filho, néris,
E se ama seja o que for,
Isso é amor?
Mas o pior desta nação
E ter fábrica de gás
Que donos‑da‑vida faz
Ianques e ingleses de ação,
Tudo vem de convulsão
Enquanto se insulta o Eixo,
Lights, Tramas, Corporation,
E a gente de trás pra trás,
Isso é paz?
Pois nada vale a verdade,
Ela mesma está vendida,
A honra é uma suicida,
nuvem a felicidade,
E entre rosas a cidade,
Muito concha e relambória,
Sem paz, sem amor, sem glória,
Se diz terra progredida,
Eu pergunto:
Isso é vida?
** Goto é um sinônimo informal de glote. As duas locuções significam, nas
palavras do Houaiss, “ser objeto de agrado, de atenção; cair nas boas
graças”.
** antiga flauta
** antiga flauta
24 de jan. de 2018
Viajantes de Baudelaire
Carte postale "17e courrier par Ballon - Wien 1957"
Mas viajantes de fato apenas são aqueles
Que partem por partir; o coração flutuante,
Jamais hão de aceitar ser outros senão eles
E, sem saber por quê, ordenam sempre: Adiante!
outra versão
Mas os verdadeiros viajantes são só aqueles que partem
Por partir; corações leves, semelhantes a balões,
Jamais se separam de seu destino,
E, sem saber por que, dizem sempre: Vamos!
.........................
.........................
Mais les vrais voyageurs sont ceux-là seuls qui partent
Pour partir, coeurs légers, semblables aux ballons,
De leur fatalité jamais ils ne s'écartent,
Et, sans savoir pourquoi, disent toujours : Allons !
................................
But the true voyagers are only those who leave
But the true voyagers are only those who leave
Just to be leaving; hearts light, like balloons,
They never turn aside from their fatality
And without knowing why they always say: "Let's go!”
23 de jan. de 2018
22 de jan. de 2018
Homem-tração :: DALILA TELES VERAS DALILA TELES VERAS Dalila (Isabel Agrela) Teles Veres, Natural do Funchal, Ilha da Madeira, Portugal, (1946), vive no Brasil desde 1957
Sebastião Salgado
colhem
latas, caixas, vidros, papéis
(miserável quinhão
no latifúndio consumísta)
brancaleônicas figuras
recolhem e carregam
(penas - carga brutal)
carregam e caminham
caminham e descarregam
(elas próprias, descartes
menos-valia
não armazenável
ração restrita à hora
incerta e presente)
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