30 de jul. de 2018

De dentro pra fora :: Inside Out :: Diane Wakoski


Ando o carpete roxo rumo ao seu olho
carregando a mantegueira de prata
mas um caminhão reverbera, passa,
deixando suas gravuras pretas de pneu no meu pé
e imagens antigas                      o som de portas de tela batendo em tardes
quentes e uma mosca zunindo sobre o suco em pó derramado
na pia
cintilam, como reflexos na superfície de metal.
Entre, você disse,
para dentro de suas pinturas, para dentro da fábrica de sangue, para dentro das
músicas antigas que delineam as suas mãos, para dentro de
olhos que se transmutam como um floco de neve a cada segundo,
para dentro de folhas de espinafre que escondem aquele único cascalho,
para dentro das barbas de um gato,
para dentro de seu antigo chapéu, e sobretudo para dentro de sua boca onde você
tritura pigmentos com sua arcada, pintando
com uma garrafa quebrada no chão, e pintando
com uma pena de avestruz na lua que rola da minha boca para fora.
Você não pode me deixar andar dentro de você muito tempo dentro
das veias onde os meus pés pequenos tocam
o fundo.
Você precisa alcançar lá dentro e me puxar
como uma bala de prata
do seu braço.
Tradução por Mariana Ruggieri
...
I walk the purple carpet into your eye
carrying the silver butter server
but a truck rumbles by,
leaving its black tire prints on my foot
and old images                  the sound of banging screen doors on hot
xxxx afternoons and a fly buzzing over the Kool-Aid spilled on
xxxx the sink
flicker, as reflections on the metal surface.
Come in, you said,
inside your paintings, inside the blood factory, inside the
old songs that line your hands, inside
eyes that change like a snowflake every second,
inside spinach leaves holding that one piece of gravel,
inside the whiskers of a cat,
inside your old hat, and most of all inside your mouth where you
grind the pigments with your teeth, painting
with a broken bottle on the floor, and painting
with an ostrich feather on the moon that rolls out of my mouth.
You cannot let me walk inside you too long inside
the veins where my small feet touch
bottom.
You must reach inside and pull me
like a silver bullet
from your arm.


27 de jul. de 2018

Espera :: Nelly Rocha Galassi


Matisse - A tristeza do rei

Passa uma caravana
de acontecimentos
pelo deserto
de tua vida.

Há de haver um oásis
verdejante em teus sentidos.

Quando eu estiver
junto à ti acontecendo
que seja à sombra
das palmeiras

25 de jul. de 2018

20 de jul. de 2018

Pura alegria de Clarice Lispector

Odilon Redon 


De pura alegria, seu coração bateu tão depressa como se ele tivesse engolido muitas borboletas.

in: O mistério do coelho pensante. Rio de Janeiro, Rocco, 1999.

17 de jul. de 2018

A partida :: Franz Kafka


Gerard Sekoto

Eu ordenei que meu cavalo fosse tirado do estábulo. O servo não me entendeu. Eu fui por conta própria ao estábulo, selei meu cavalo e o montei. Ouvi na distância uma trombeta soar e perguntei a ele o que aquilo significava. Ele não sabia de nada e não tinha ouvido nada. No portão ele me parou e me perguntou:
– Para onde o senhor cavalga?
– Eu não sei – eu disse – apenas embora daqui, apenas embora daqui. Sempre adiante, embora daqui, só assim eu posso alcançar meu objetivo.
– Você conhece então seu objetivo? – ele perguntou.
– Sim – eu respondi – eu já disse: “Embora daqui”, este é meu objetivo.
– Você não está levando nenhuma provisão de comida – ele disse.
– Eu não preciso de nenhuma. – eu disse. – A viagem é tão longa que eu devo morrer de fome se não receber nada no meio do caminho. Nenhuma provisão pode me salvar. Por sorte é mesmo uma viagem verdadeiramente imensa.
tradução de Tomaz Amorim Izabel

...
Der Aufbruch

Ich befahl mein Pferd aus dem Stall zu holen. Der Diener verstand mich nicht. Ich ging selbst in den Stall, sattelte mein Pferd und bestieg es. In der Ferne hörte ich eine Trompete blasen, ich fragte ihn, was das bedeutete. Er wusste nichts und hatte nichts gehört. Beim Tore hielt er mich auf und fragte: »Wohin reitet der Herr?« »Ich weiß es nicht«, sagte ich, »nur weg von hier, nur weg von hier. Immerfort weg von hier, nur so kann ich mein Ziel erreichen.« »Du kennst also dein Ziel«, fragte er. »Ja«, antwortete ich, »ich sagte es doch: ›Weg-von-hier‹ – das ist mein Ziel.« »Du hast keinen Eßvorrat mit«, sagte er. »Ich brauche keinen«, sagte ich, »die Reise ist so lang, daß ich verhungern muß, wenn ich auf dem Weg nichts bekomme. Kein Eßvorrat kann mich retten. Es ist ja zum Glück eine wahrhaft ungeheure Reise.


16 de jul. de 2018

Família


Uma cegonha parece
Porque é uma cegonha.
        Sonha
        E esquece —
Propriedade notável
De toda ave aviável.

Fernando Pessoa

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...