Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
19 de jun. de 2019
17 de jun. de 2019
A pantera :: Rainer Maria Rilke
Raden Saleh
De tanto olhar as grades seu olhar
esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na terra:
grades, apenas grades para olhar.
A onda andante e flexível do seu vulto
em círculos concêntricos decresce,
dança de força em torno a um ponto oculto
no qual um grande impulso se arrefece.
De vez em quando o fecho da pupila
se abre em silêncio. Uma imagem, então,
na tensa paz dos músculos se instila
para morrer no coração.
....................
Der Panther
Im Jardin des Plantes, Paris
Sein Blick ist vom Vorübergehn der Stäbe
so müd geworden, daß er nichts mehr hält.
Ihm ist, als ob es tausend Stäbe gäbe
und hinter tausend Stäben keine Welt.
Der weiche Gang geschmeidig starker Schritte,
der sich im allerkleinsten Kreise dreht,
ist wie ein Tanz von Kraft um eine Mitte,
in der betäubt ein großer Wille steht.
Nur manchmal schiebt der Vorhang der Pupille
sich lautlos auf — Dann geht ein Bild hinein,
geht durch der Glieder angespannte Stille —
und hört im Herzen auf zu sein.
RILKE, Rainer Maria. Der Panther. Tradução de Augusto de Campos In: Coisas e anjos de Rilke. 130 poemas traduzidos. Trad. e org. de Augusto de Campos. São Paulo: Perspectiva, 2013.
15 de jun. de 2019
Roberto Burle Marx (4 de agosto de 1909 São Paulo, São Paulo -4 de junho de 1994 (84 anos) Rio de Janeiro, Rio de Janeiro)
Roberto Burle Marx foi um artista plástico brasileiro, renomado internacionalmente ao exercer a profissão de paisagista.
Morou grande parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde estão localizados seus principais trabalhos, embora sua obra possa ser encontrada ao redor de todo o mundo.
Seu primeiro projeto de jardim público foi a Praça de Casa Forte, localizada no Recife, cidade natal de sua mãe. É uma das seis praças de autoria do paisagista na capital pernambucana que foram tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Era o quarto filho da recifense Cecília Burle, membro da tradicional família pernambucana de ascendência francesa Burle Dubeux, e de Wilhelm Marx, judeu alemão nascido em Estugarda e criado em Tréveris.
A mãe, exímia pianista e cantora, despertou nos filhos o amor pela música e pelas plantas. Roberto a acompanhava, desde muito pequeno, nos cuidados diários com as rosas, begônias, antúrios, gladíolos, tinhorões e muitas outras espécies que plantava no seu jardim.
Seu primeiro projeto de jardim público foi a Praça de Casa Forte, localizada no Recife, cidade natal de sua mãe. É uma das seis praças de autoria do paisagista na capital pernambucana que foram tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Era o quarto filho da recifense Cecília Burle, membro da tradicional família pernambucana de ascendência francesa Burle Dubeux, e de Wilhelm Marx, judeu alemão nascido em Estugarda e criado em Tréveris.
A mãe, exímia pianista e cantora, despertou nos filhos o amor pela música e pelas plantas. Roberto a acompanhava, desde muito pequeno, nos cuidados diários com as rosas, begônias, antúrios, gladíolos, tinhorões e muitas outras espécies que plantava no seu jardim.
14 de jun. de 2019
Verdade :: Carlos Drummond de Andrade
Roy Lichtenstein
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os dois meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram a um lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em duas metades,
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
As duas eram totalmente belas.
Mas carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
In Contos Plausíveis. José Olympio, 1985
12 de jun. de 2019
10 de jun. de 2019
As Palavras de Eugénio de Andrade (1923-2005)
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
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