Veríssimo, Érico. Clarissa. Globo, 1982.
Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
22 de set. de 2013
A Primavera chegou :: Érico Veríssimo
Só agora Amaro acredita que a Primavera chegou: de sua janela vê Clarissa a brincar sob os pessegueiros floridos. As glicínias roxas espiam por cima - do muro que separa o pátio da pensão do pátio da casa vizinha. O menino doente está na sua cadeira de rodas; o sol lhe ilumina o rosto pálido, atirando-lhe sobre os cabelos um polvilho de ouro. Um avião cruza o céu, roncando - asas coruscantes contra o azul nítido.
21 de set. de 2013
Aos olhos de um apaixonado :: Andréa Beheregaray
Toda esquina é Paris,
Toda janela um quadro,
Qualquer traço, Picasso
Um sorriso Mona lisa
Aos olhos de um apaixonado
Passarinho é Quintana,
Cama, paraíso
Qualquer adeus fim de mundo
Toda canção confissão
Aos olhos de um apaixonado
Todo sussurro, uma prece
Sessão da tarde, Felinni
Um rodopio, Fred Astaire
Telefone é evento e todo dia, feriado
Aos olhos de um apaixonado.
20 de set. de 2013
Marinha de João Cabral de Melo Neto
adormecidos na praia
que nuvens procuram
agarrar?
(MELO NETO, João Cabral de. Marinha. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1985. p. 14.)
19 de set. de 2013
Because - Beatles
imagem: Elisandra
Because the world is round it turns me on
Because the world is round.
Because the wind is high it blows my mind
Because the wind is high.
Love is old, love is new
Love is all, love is you
Because the sky is blue, it makes me cry
Because the sky is blue.
..................................................................................................
Porque o mundo está girando, fico animado
Porque o mundo está girando.
Porque o vento está forte, enche a minha mente
Porque o vento está forte
O amor é velho, o amor é novo.
O amor é tudo, o amor é você.
Porque o céu é azul, me faz chorar
18 de set. de 2013
A arte de perder :: Elizabeth Bishop
A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subsequente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.
tradução de Paulo Henriques Britto
A verdade Histórica :: Ana Luísa Amaral
A minha filha partiu uma tigela
na cozinha.
E eu que me apetecia escrever
sobre o evento,
tive que pôr de lado inspiração e lápis,
pegar numa vassoura e varrer
a cozinha.
A cozinha varrida de tigela
ficou diferente da cozinha
de tigela intacta:
local propício a escavação e estudo,
curto mapa arqueológico
num futuro remoto.
Uma tigela de louça branca
com flores,
restos de cereais tratados
em embalagem estanque
espalhados pelo chão.
Não eram grãos de trigo de Pompeia,
mas eram respeitosos cereais
de qualquer forma.
E a tigela, mesmo não sendo da dinastia Ming,
mas das Caldas,
daqui a cinco ou dez mil anos
devia ter estatuto admirativo.
Mas a hecatombe
deu-se.
E escorregada de pequeninas mãos,
ficou esquecida de famas e proveitos,
varrida de vassouras e memórias.
Por mísero e cruel balde de lixo
azul
em plástico moderno
(indestrutível)
17 de set. de 2013
Maneira de bem sonhar de Fernando Pessoa
Pablo Picasso
Cuidarás primeiro em nada respeitar, em nada crer, em nada . Guardarás, da tua atitude ante o que não respeites, a vontade de respeitar alguma coisa; do teu desgosto ante o que não ames, o desejo doloroso de amar alguém; do teu desprezo pela vida guardarás a ideia de que deve ser bom vivê-la e amá-la. E assim terás construído os alicerces para o edifício dos teus sonhos.Repara bem que a obra que te propões fazer é a mais alta de todas. Sonhar é encontrarmo-nos. Vais ser o Colombo da tua alma. Vais buscar as suas paisagens. Cuida bem pois em que o teu rumo seja certo e não possam errar os teus instrumentos.
A arte de sonhar é difícil porque é uma arte de passividade, onde o que é de esforço é na concentração da ausência de esforço. A arte de dormir, se a houvesse, deveria ser de qualquer forma parecida com esta.
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=5348
16 de set. de 2013
Para uma amiga que se foi
"Entre muitas outras coisas,
tu eras para mim uma janela através da qual podia ver as ruas.
Sozinho não o podia fazer."
Kafka em carta para um amigo
14 de set. de 2013
O meu olhar azul como o céu Alberto Caeiro (Heterônimo de Fernando Pessoa)
Matisse - Dança
O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta ...
Azul / blue / blau / bleu / blu / blå / синий / 青 / biru / 蓝色 / أزرق / בלוי / नीला
A produção de pigmentos artificiais de azul tem sido um desafio constante na história da humanidade: pela dificuldade de encontrá-lo, o azul foi considerado uma cor destinada a temas nobres. Vermelho, preto e branco dominaram quase todas as representações artísticas até o início da Idade Média devido à facilidade com que as tintas podiam ser fabricadas, em comparação com a dificuldade de obter pigmento azul. É certo, no entanto, que os egípcios conheciam um pigmento dessa cor há mais de 5 mil anos, mas ele era misturado ao pigmento de uma pedra semipreciosa, o lápis-lazúli. Foi a dificuldade para chegar ao tom que fez com que os romanos durante a Antigüidade o associassem aos bárbaros - até ter os olhos azuis era sinônimo de barbárie.
No começo da Idade Média, o vermelho era a cor da nobreza, enquanto o azul era dos servos. Os tecidos eram tingidos de azul com o pigmento extraído de uma planta chamada Ísatis, ou pastel-de-tintureiro. Para conseguir a tinta, era necessário deixar a planta fermentando em urina humana. Com o tempo, perceberam que o álcool acelerava o processo - por isso, tintureiros ingeriam bebidas alcoólicas com a desculpa de que a urina já sairia rica em álcool. A expressão em alemão blau werden, literalmente traduzida como "ficar azul", significa na Alemanha "ficar bêbado".
No século VI, a técnica para obtenção do pigmento chamado azul-ultramar, feita com o lápis-lazúli, ganhou a Europa - a pedra, no entanto, chegou a custar mais que o ouro. A descoberta do caminho marítimo para as Índias, no fim do século XV, levou para a Europa o pigmento conhecido como índigo indiano, obtido com uma planta oriental. A utilização foi proibida – uma tentativa de preservar o tom produzido na região com a ísatis – e dava até pena de morte.
O pigmento azul-da-prússia foi descoberto na Alemanha, numa experiência sobre oxidação do ferro em 1704. Custava um décimo do preço da tinta feita a partir do lápis-lazúli e fez sucesso entre os pintores da época. De lá para cá, a indústria química evoluiu e possibilitou a obtenção de centenas de pigmentos mais baratos. Isso foi um fator crucial para o surgimento no século XIX, do impressionismo de artistas como Monet, que davam grande valor à cor. Mas, como muitos pigmentos desse período não possuíam uma boa resistência, vários quadros da época sofreram uma prematura descoloração
http://pt.wikipedia.org/wiki/Azul
Origin:
1250–1300; Middle English blewe < Anglo-French blew, bl ( i ) u, bl (i ) ef blue, livid, discolored, Old French blo, blau ( French bleu ) <Germanic *blǣwaz; compare Old English blǣwen, contraction ofblǣhǣwen deep blue, perse ( see blae, hue), Old Frisian blāw,Middle Dutch blā ( u ), Old High German blāo ( German blau ), OldNorse blār
Can be confused: blew, blue .1250–1300; Middle English blewe < Anglo-French blew, bl ( i ) u, bl (i ) ef blue, livid, discolored, Old French blo, blau ( French bleu ) <Germanic *blǣwaz; compare Old English blǣwen, contraction ofblǣhǣwen deep blue, perse ( see blae, hue), Old Frisian blāw,Middle Dutch blā ( u ), Old High German blāo ( German blau ), OldNorse blār
Synonyms
1. azure, cerulean, sapphire. 14. despondent, unhappy, morose,doleful, dispirited, sad, glum, downcast. 15. gloomy, dispiriting.16. righteous, puritanical, moral, severe, prudish.
Antonyms
14. happy.
14. happy.
fonte: http://dictionary.reference.com/browse/blue
c.1300, bleu, blwe, etc., from O.Fr. blo "pale, pallid, wan, light-colored; blond; discolored; blue, blue-gray," from Frankish *blao, from P.Gmc. *blæwaz (cf. O.E. blaw, O.S., O.H.G. blao, Dan. blaa, Swed. blå, O.Fris. blau, M.Du. bla, Du. blauw, Ger. blau "blue"), from PIE *bhle-was "light-colored, blue, blond, yellow." "The exact color to which the Gmc. term applies varies in the older dialects; M.H.G. bla is also 'yellow,' whereas the Scandinavian words may refer esp. to a deep, swarthy black, e.g. O.N. blamaðr, N.Icel. blamaður 'Negro' " [Buck]. Replaced O.E. blaw, from the same PIE root, which also yielded L. flavus "yellow," O.Sp. blavo "yellowish-gray," Gk. phalos "white," Welsh blawr "gray," O.N. bla "livid" (the meaning in black and blue), showing the usual slippery definition of color words in I.E. The present spelling is since 16c., from French influence (Mod.Fr. bleu).
Few words enter more largely into the composition of slang, and colloquialisms bordering on slang, than does the word BLUE. Expressive alike of the utmost contempt, as of all that men hold dearest and love best, its manifold combinations, in ever varying shades of meaning, greet the philologist at every turn. [John S. Farmer, "Slang and Its Analogues Past and Present," 1890, p.252]
The color of constancy since Chaucer at least, but apparently for no deeper reason than the rhyme in true blue (c.1500). From early times blue was the distinctive color of the dress of servants, which may be the reason police uniforms are blue, a tradition Farmer dates to Elizabethan times. For blue ribbon see cordon bleu under cordon. Many IE languages seem to have had a word to describe the color of the sea, encompasing blue and green and gray; e.g. Ir. glass (see Chloe); O.E. hæwen "blue, gray," related to har (see hoar); Serbo-Cr. sinji "gray-blue, sea-green;" Lith. šyvas, Rus. sivyj "gray.
13 de set. de 2013
Mulher pena :: Clara Coelho de Carvalho
de pena em pena
fico nua
só com a alma despenada
me permito chorar
cachoeiras
debaixo d'agua
pena de mim
tão grande em amor
que não caibo em ti
pena de ti
tão grande em si
que não entra em mim
pena de todos
dos homens pássaros
e das mulheres sabiás
penas penas
apenas
(leves, no primeiro vento, as penas se vão)
12 de set. de 2013
O espírito das casas de Contardo Calligaris
NUMA MESMA tarde, assisti (com prazer) a duas estréias da sexta passada: uma história de horror, "Almas Reencarnadas", de Takashi Shimizu, e uma história de amor, "A Casa do Lago", de Alejandro Agresti.
Os dois filmes têm em comum um clima sobrenatural. No primeiro, um diretor de cinema filma a história de uma série de assassinatos que aconteceram num hotel 35 anos antes; com isso, o passado se desperta. No segundo, um homem e uma mulher se correspondem e se amam: eles estão vivendo em épocas diferentes (ele, em 2004; e ela, em 2006), mas na mesma casa.
Interessei-me pelos filmes porque gosto daquela tradição narrativa na qual o espaço concreto, em que os personagens vivem e circulam, é por sua vez uma personagem importante da história. No primeiro filme, o hotel (ou sua reconstrução no estúdio) parece impor a repetição do passado. No segundo, a casa do lago, na qual, em épocas diferentes, ambos os protagonistas escolhem viver, é a ponte entre eles, o lugar onde se abre uma brecha no tempo. Em geral, subestimamos o espaço concreto no qual vivemos. Não acreditamos que sentimentos, afetos e relações dependam também do cenário concreto de nossa vida.
Ora, os militantes do espírito new age adotaram a arte do feng shui para corrigir as energias negativas de casas e escritórios. Mas não é preciso disso para entender que o espaço no qual moramos nos determina e nos expressa. Que seja ou não escolhido por nós, ele diz qual é a convivência com os outros que desejamos ou que nos permitimos: banalmente, o tipo de mesa (não só seu tamanho) diz se queremos jantar em companhia ou cada um no seu canto, a disposição do sofá diz se preferimos conversar com os amigos ou parar na frente da televisão, e por aí vai. O mesmo vale para o espaço urbano: temos a vida pública que nossas cidades nos impõem. Quando, numa mudança, estamos apostando no futuro, sonhamos com uma casa e uma decoração desenhadas pelo próprio Walter Gropius, modernistas, limpas, funcionais, despojadas.
Tempo atrás, Ana Verônica Mautner, numa crônica do caderno Equilíbrio, da Folha, comentou a proliferação de caçambas pelas ruas de São Paulo: reformamos custosamente até os apartamentos que alugamos porque queremos fazer tábula rasa na hora de mudar de casa, queremos evitar que nossos novos caminhos sigam as passagens que foram desenhadas no chão pelos hábitos de quem lá morou antes da gente.
Uma vez instalados, esvaziamos as caixas de nosso passado e nos tornamos, aos poucos, Biedermeier e kitsch, enchendo o espaço de móveis que limitam as potencialidades da casa e de lembranças que nos forçam a continuar sendo quem sempre fomos (a foto do casamento dos avós, a coleção de pedras que nosso filho juntou no primário, um quadro horrendo que compramos na lua-de-mel). Um bom arquiteto ou decorador, ao visitar nossos aposentos, deveria poder descobrir as grandes linhas de nossa vida relacional: talvez ele pudesse até enxergar, atrás da vida que temos, a vida que desejaríamos ter.
Aviso: se seu parceiro ou sua parceira muda de repente a disposição dos móveis de casa, não é apenas de estética que se trata. Nas minhas gavetas tenho alguns romances inacabados. Um deles é a história de alguém que compra uma casa cujos antigos donos saíram fugindo, sem nem fazer as malas.
O comprador deixa tudo assim como está (a roupa espalhada, a forma oca dos corpos nas camas desfeitas, os pratos do almoço interrompido etc.) e se dedica a adivinhar cada detalhe da existência de seus predecessores. Claro, comecei esse romance logo após a morte de meus pais. Isso me leva de volta ao clima comum aos dois filmes: não sou muito fã do sobrenatural, mas confesso o seguinte.
Numa casa que já abandonei, em Brookline (EUA), eu tinha construído um quarto-biblioteca que evocava, descobri depois, a biblioteca da casa de minha infância. Um dia, Maria, a jovem mulher que nos ajudava a cuidar da casa (e que dizia ser dotada de poderes mediúnicos), anunciou: "Doutor, seu pai está na biblioteca". "Meu pai está morto", respondi. Fui com ela até a biblioteca.
"Ele está lá, sentado", apontou Maria. Eu não via nada e não acredito em espíritos, mas perguntei, sem brincadeira nenhuma: "Poderia falar com ele?". Maria: "Não, mas lhe garanto que ele está sorrindo, feliz".
Os dois filmes têm em comum um clima sobrenatural. No primeiro, um diretor de cinema filma a história de uma série de assassinatos que aconteceram num hotel 35 anos antes; com isso, o passado se desperta. No segundo, um homem e uma mulher se correspondem e se amam: eles estão vivendo em épocas diferentes (ele, em 2004; e ela, em 2006), mas na mesma casa.
Interessei-me pelos filmes porque gosto daquela tradição narrativa na qual o espaço concreto, em que os personagens vivem e circulam, é por sua vez uma personagem importante da história. No primeiro filme, o hotel (ou sua reconstrução no estúdio) parece impor a repetição do passado. No segundo, a casa do lago, na qual, em épocas diferentes, ambos os protagonistas escolhem viver, é a ponte entre eles, o lugar onde se abre uma brecha no tempo. Em geral, subestimamos o espaço concreto no qual vivemos. Não acreditamos que sentimentos, afetos e relações dependam também do cenário concreto de nossa vida.
Ora, os militantes do espírito new age adotaram a arte do feng shui para corrigir as energias negativas de casas e escritórios. Mas não é preciso disso para entender que o espaço no qual moramos nos determina e nos expressa. Que seja ou não escolhido por nós, ele diz qual é a convivência com os outros que desejamos ou que nos permitimos: banalmente, o tipo de mesa (não só seu tamanho) diz se queremos jantar em companhia ou cada um no seu canto, a disposição do sofá diz se preferimos conversar com os amigos ou parar na frente da televisão, e por aí vai. O mesmo vale para o espaço urbano: temos a vida pública que nossas cidades nos impõem. Quando, numa mudança, estamos apostando no futuro, sonhamos com uma casa e uma decoração desenhadas pelo próprio Walter Gropius, modernistas, limpas, funcionais, despojadas.
Tempo atrás, Ana Verônica Mautner, numa crônica do caderno Equilíbrio, da Folha, comentou a proliferação de caçambas pelas ruas de São Paulo: reformamos custosamente até os apartamentos que alugamos porque queremos fazer tábula rasa na hora de mudar de casa, queremos evitar que nossos novos caminhos sigam as passagens que foram desenhadas no chão pelos hábitos de quem lá morou antes da gente.
Uma vez instalados, esvaziamos as caixas de nosso passado e nos tornamos, aos poucos, Biedermeier e kitsch, enchendo o espaço de móveis que limitam as potencialidades da casa e de lembranças que nos forçam a continuar sendo quem sempre fomos (a foto do casamento dos avós, a coleção de pedras que nosso filho juntou no primário, um quadro horrendo que compramos na lua-de-mel). Um bom arquiteto ou decorador, ao visitar nossos aposentos, deveria poder descobrir as grandes linhas de nossa vida relacional: talvez ele pudesse até enxergar, atrás da vida que temos, a vida que desejaríamos ter.
Aviso: se seu parceiro ou sua parceira muda de repente a disposição dos móveis de casa, não é apenas de estética que se trata. Nas minhas gavetas tenho alguns romances inacabados. Um deles é a história de alguém que compra uma casa cujos antigos donos saíram fugindo, sem nem fazer as malas.
O comprador deixa tudo assim como está (a roupa espalhada, a forma oca dos corpos nas camas desfeitas, os pratos do almoço interrompido etc.) e se dedica a adivinhar cada detalhe da existência de seus predecessores. Claro, comecei esse romance logo após a morte de meus pais. Isso me leva de volta ao clima comum aos dois filmes: não sou muito fã do sobrenatural, mas confesso o seguinte.
Numa casa que já abandonei, em Brookline (EUA), eu tinha construído um quarto-biblioteca que evocava, descobri depois, a biblioteca da casa de minha infância. Um dia, Maria, a jovem mulher que nos ajudava a cuidar da casa (e que dizia ser dotada de poderes mediúnicos), anunciou: "Doutor, seu pai está na biblioteca". "Meu pai está morto", respondi. Fui com ela até a biblioteca.
"Ele está lá, sentado", apontou Maria. Eu não via nada e não acredito em espíritos, mas perguntei, sem brincadeira nenhuma: "Poderia falar com ele?". Maria: "Não, mas lhe garanto que ele está sorrindo, feliz".
11 de set. de 2013
A somar as nossas saudades de Machado de Assis
Nós é que éramos os mesmos;
ali ficamos, somando as nossas ilusões,
os nossos temores,
começando já a somar as nossas saudades.
Machado de Assis, Dom Casmurro.
José Altino - Xilogravura
Ainda criança muda-se para o bairro de Miramar, perto da praia de Tambaú, aonde a fauna e flora vivia quase intocada pelo homem.
Xilogravador, desenhista, pintor, desenvolve suas xilogravuras ligado aos temas ecológicos e a gravura de cordel.
Com exposição do Brasil e no exterior, vários prêmios em salões de arte, dedica parte de sua vida ao ensino da xilogravura, no Rio de Janeiro e na Paraíba – no Atelier Miramar.
Recebe em 2008 o diploma de Mestre em Artes Plásticas, do Conselho de Cultura da Secretária de Educação do Estado da Paraíba.
10 de set. de 2013
Tu de Vladimir Maiakoviski
A sério, olhaste
a estatura,
o bramido
e simplesmente adivinhaste:
uma criança.
Tomaste,
arrancaste-me o coração
simplesmente foste com ele jogar
como uma menina com sua bola.
E todas,
como se vissem um milagre,
senhoras e senhoritas exlamaram:
- A esse amá-lo?
Se se atira em cima,
derruba a gente!
Ela, com certeza, é domadora!
Por certo, saiu duma jaula!
E eu de júbilo
esqueci o jugo.
Louco de alegria
saltava
como em casamento de índio,
tão leve,
tão bem me sentia.
9 de set. de 2013
Vento de Clara Coelho de Carvalho
Louise Richardson
Eu pensava que nunca mais ia amar ninguém, depois de ter o coração partido aos 19.
Mas o Tempo vem e traz a Vida com ele. E a Vida carrega o Amor na ponta da saia
fonte: http://poetetre.wordpress.com/2012/10/03/vento/
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Turquesa
8 de set. de 2013
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