20 de fev. de 2011

Aprendizado


E minha avó cantava e cosia. Cantava
canções de mar e de arvoredo, em língua antiga.
E eu sempre acreditei que havia música em seus dedos
e palavras de amor em minha roupa escritas.

Minha vida começa num vergel colorido,
por onde as noites eram só de luar e estrelas.
Levai-me aonde quiserdes! - aprendi com as primaveras
a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.


Cecília Meireles
In Mar Absoluto

5 de fev. de 2011

Lucidez



Woyzeck com a lucidez da loucura: 
"Todo homem é um abismo, 
a gente fica tonto de olhar pra dentro dele"

31 de jan. de 2011

Possibilidade



IGUATEMI
O espaço que determina conforto Uma sensação de possibilidade infinita Nem hostil nem hospitaleiro As proporções das entradas A magnitude dos corredores Os matizes das palavras O clima, as mulheres andando, andando Mas especialmente as jovens Cujas vidas são o paraíso de possibilidade. Vincent Katz 
In: Ilustríssima, FSP, 30.01.2011

29 de jan. de 2011

Coração

imagem: Maria Clara Gonzalez

'As pessoas te pesam? 
Não as carregue nos ombros. 
Leve-as no coração'
Dom Hélder Câmara

26 de jan. de 2011

Sujeito cheio de recantos :: Manoel de Barros

Laura Alice Watt
Sou um sujeito cheio de recantos.
Os desvãos me constam.
Tem hora leio avencas.
Tem horas Proust.
Ouço aves e Beethovens.
Gosto de Bola-Sete e Charles Chaplin.
O dia vai morrer aberto em mim.


9 de jan. de 2011

Seiscentos e sessenta e seis



A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ª feira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado... 
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente...

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil 
das horas.

Mario Quintana  Poesia Completa, p. 479 Editora Nova Aguillar

16 de dez. de 2010

Recordar



Un recuerdo amorosamente fundado
nos limpia los pulmones
nos aviva la sangre
nos sacude el otoño 
nos renueva la piel.

Poema de otros, Mario Benedetti

5 de dez. de 2010

Quem Me Mandou a Mim Querer Perceber?


Como quem num dia de Verão abre a porta de casa 
E espreita para o calor dos campos com a cara toda, 
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa 
Na cara dos meus sentidos, 
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber 
Não sei bem como nem o quê... 
Mas quem me mandou a mim querer perceber? 
Quem me disse que havia que perceber? 
Quando o Verão me passa pela cara 
A mão leve e quente da sua brisa, 
Só tenho que sentir agrado porque é brisa 
Ou que sentir desagrado porque é quente, 
E de qualquer maneira que eu o sinta, 
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo... 

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXII" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

7 de nov. de 2010

Para pensar






"Sete pecados sociais: política sem princípios, riqueza sem trabalho, prazer sem consciência, conhecimento sem caráter, comércio sem moralidade, ciência sem humanidade e culto sem sacrifício."
Collected Works of Mahatma Gandhi  Vol. 33  p. 135

Delicadeza


2 de nov. de 2010

O lado fatal :: Lya Luft


O lado fatal

I

Quando meu amado morreu, não pude acreditar:
andei pelo quarto sozinha repetindo baixo:
"Não acredito, não acredito."
Beijei sua boca ainda morna,
acarinhei seu cabelo crespo,
tirei sua pesada aliança de prata com meu nome
e botei no dedo.
Ficou larga demais, mas mesmo assim eu uso.

II

Muita gente veio e se foi.
Olharam, me abraçaram, choraram,
todos com ar de uma incrédula orfandade.

III

Aquele de quem hoje falam e escrevem
(ou aos poucos vão-se esquecendo)
é muito menos do que este, deitado em meu coração,
meu amante e meu menino ainda.

IV

Deus
(ou foi a Morte?)
golpeou com sua pesada foice
o coração do meu amado
(não se vê a ferida, mas rasgou o meu também).
Ele abriu os olhos, com ar deslumbrado,
disse bem alto meu nome no quarto do hospital,
e partiu.

Quando se foram também os médicos e suas 
[ máquinas inúteis,
ficamos sós: a Morte (ou foi Deus?)
o meu amado e eu.
Enterrei o rosto na curva do seu ombro
como sempre fazia,
disse as palavras de amor que costumávamos trocar.
O silêncio dele era absoluto: seu coração emudecido
e o meu, varados por essa dourada foice.
Por onde vou deixo o rastro de um sangue denso 
[e triste
que não estancará jamais.

V

Insensato eu estar aqui, e viva.
O rosto dele me contempla
vincado e triste no retrato sobre minha mesa;
em outros, sorri para mim, apaixonado e feliz.
Insensato, isso de sobreviver:
mas cá estou, na aparência inteira.

Vou à janela esperando que ele apareça
e me acene com aquele seu gesto largo e generoso,
que ao acordar esteja ao meu lado
e que ao telefone seja sempre a sua voz.

Sei e não sei que tudo isso é impossível,
que a morte é um abismo sem pontes
(ao menos por algum tempo).

Sobrevivo, mas pela insensatez.

VI

Pensei que estávamos apenas no começo:
a casa mal-e-mal nos alicerces.
Mas provavelmente estava concluída
e eu não sabia.
Tínhamos erguido em nossos poucos anos
as paredes necessárias;
o telhado se inclinava ao jeito certo,
e havia vidraças nas janelas.
(Éramos felizes ali dentro
mesmo com as tempestades de fora.)
Tudo se construiu num lapso tão curto:
até a porta de entrada, por onde ele saiu
casualmente como quem vai comprar jornal.A porta está apenas encostada
embora pareça alta, dura, intransponível:
do lado de lá, o meu amor vê as maravilhas
que tanto nos intrigavam nesta vida.

VII

Tanto escrevi sobre a morte
em livros e poemas nesses anos:
sempre achei que a entendia um pouco.

Mas agora que ela me dilacerou a vida,
me rasgou o peito,
me levou o amado,
sinto que mal começo a compreender
sua mensagem:
tirando-o de mim, a morte o devolve
para que seja mais meu.

Dentro de mim um quebra-cabeças, e nele
[o meu amado.
Nem Deus o tirará daqui.

VIII

O meu amado morreu:
viver sem ele, como dói.
Não tivemos filhos juntos,
nosso passado foi tão breve que era sempre
[presente.
Um dia ele mandou fazer um par de alianças
de pesada prata, parecendo antigas;
gravou apenas nossos nomes, sem data, e disse:
"Somos um só desde sempre."
Ainda não acreditei em sua morte,
e talvez isso me salve por enquanto.
Levantar-me da cama cada dia é um ato heróico,
acender o cigarro, atender o telefone, tomar café.
Mas faço tudo isso:
falo, ando, recebo visitas.
Compro móveis para a casa onde moro sem ele,
imaginando: será que ele vai gostar?

De algum secreto lugar me vem a força
para erguer a xícara, acender o cigarro,
até sorrir quando alguém me diz:
"Você hoje está com a cara ótima",
quando penso se não doeria menos
jogar-me de um décimo-primeiro andar.

XIX

Amado meu, agora morto,
postado do lado de lá da fronteira que nos seduzia,
mudo e quedo como se não existisses:
eu sei que existes,
intensamente, ardentemente existes,
feito e desfeito no fogo de um amor maior que
[o nosso
mas que nos abrange.

Amado meu, morto agora e para sempre vivo,
hás de ter ainda o intenso olhar que me entendia,
as curvas amorosas da boca que chamou meu nome,
as belas, inquietas mãos que ardiam nas minhas.
Ajuda-me agora, silencioso que estás,
a suportar a sobrevida
e a decifrar esse alto, intransponível muro que me
[cerca.

X

Nunca tivemos filhos juntos, e ele reclamava:
"Nosso amor merecia um filho ao menos.

"Nosso filho é a minha dor de hoje,
é a fulguração que nos deixava tontos,
é o novelo da memória que teço e reteço
nas minhas insônias.

Nosso filho é o meu tempo de agora
para falar do meu amado:
da sua força e sua fragilidade,
da sua indignação e seus prantos,
da sua necessidade de ser amado e aceito
como finalmente deve estar sendo, por inteiro,
na realização de todos os seus vastos desejos.

XI

O meu amor enveredou por sua morte
como quem vai a um encontro de amor:
impaciente.
Deixou-me este coração golpeado,
esta derrota.
Mas também ficou a claridade desses anos
e a sensação de que ele finalmente
vive o encontro de amor
que toda a devoção de minha vida não lhe poderia
[dar.(Um dia, celebraremos juntos.)

XII

Se me tivessem amputado braços e pernas
e furado o coração com frias facas
e cegado meus olhos com ganchos
e esfolado a minha pele como a de um podre bicho
- nada doeria mais
que te saber morto, amado meu,
depositado
nesse irremediável poço de silêncio de onde não
[respondes.(A não ser em sonho, quando me olhas
e tuas mãos tocam as minhas espalmadas,
abertas, feridas, vazias.)

XIII

O meu amado morreu:
preciso viver sua morte até o fim.
Morreu sem que se instalasse entre nós cansaço e
[banalidade.
Talvez tenha morrido na medida certa
para nada se desgastar.
Dele me vem a dor, mas também a ternura,
a claridade que me permite ver
em todos os rostos o seu rosto
em todos os vultos o seu vulto
e ouvir em todos os silêncios
o seu inesperado riso de criança

XIV

Estranha a vida:
fico tangendo meus dias
como um rebanho de ovelhas desordenadas
nessa triste e fria cidade de Porto Alegre
onde ele gostava de estar
olhando o pôr-do-sol e vendo amigos.
"Morrer é tomar um porre de não-desejo"
dizia o meu amado, que era um homem desejoso:
desejava a vida, desejava a morte, desejava 
[a justiça,
desejava a eternidade e a paz.

Estranha a vida:
quando releio uma frase sua,
"viver é modular a morte",
em sangue e dor preparo a minha ida.

Estranho também esse amor,
com hora marcada para a mutilação
da morte, o minuto acertado,
e o fim consultando o relógio
para nos golpear.

Estranho esse amor de agora,
com meu amado atrás de um espelho baço
onde às vezes penso divisar seu vulto
como num aquário.
Enrolado em silêncio,
mais que nunca o meu amor comanda a minha vida.

XV

Não falem alto comigo:
andem sempre na ponta dos pés.
Principalmente, não me toquem.
Finjam que não vêem se tenho um jeito absorto,
se nem sempre entendo as perguntas
com a rapidez de antigamente,
se pareço fatigada
e sem graça como nunca fui.

Façam silêncio ao meu redor.
Não me interessa nada o cotidiano nem o místico.
Não quero discutir o preço do mercado
nem os grandes mistérios da eternidade.

XVI

Levo meu amado no peito
como quem carrega nos braços para sempre
uma criança morta.

XVII

Amado meu, que tanto ensinaste
de mim a mim mesma, e do mundo
a quem o conhecia pouco:

quando se desfizer escura a noite desta perda,
quero enxergar pelos teus olhos,
amar através do teu amor
as coisas que me restaram.

Amado meu, vivo em mim para sempre,
apesar da ruga a mais
e do olhar mais triste,
devo-te isto:
voltar a amar a vida
como agora amas, inteiramente,
a tua morte.


28 de out. de 2010

Aldrago, árvore nativa do Brasil

Aldrago  Família: Leguminosae Nome Científico: Pterocarpus violaceus
Conhecida também como folha-larga, pau-sangue, sangueiro, dragociana e pau-vidro, devido à sua adaptação à insolação direta e à sua fácil multiplicação, é indispensável nos projetos de reflorestamento de áreas degradadas

Nomes vulgares por Unidades da Federação: no Acre, pau-sangue e pau-sangue-casca-fina; em Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí e Rio de Janeiro, pau-sangue; no Amazonas, sangue-de-galo; em Minas Gerais, folha-miúda, pau-sangue e sangueiro; no Pará, mututi; em Rondônia, mututi-branco, e em Santa Catarina, sangueiro.
Nomes vulgares no exterior: na Bolívia, verdolago blanco. 
Etimologia: o nome genérico Pterocarpus vem do grego ptero (asa) e carpus (fruto), alusão ao fruto alado, levado pelo vento
Árvore de porte médio (fica entre 8 e 14 metros de altura), a aldrago tem tronco que varia de 30 a 50 centímetros de diâmetro. Suas folhas são compostas, de um verde-musgo brilhante.
Origem: Brasil.  Ocorrência Natural do Sul da Bahia, passando por Minas Gerais até o Paraná, essencialmente na floresta pluvial da encosta atlântica. Esta árvore, nativa do Brasil, normalmente só é vista no paisagismo urbano, onde tem ampla utilização.
A sua floração, linda (dá flores amarelas de um tom intenso), é muito fugaz. Em cerca de dois dias, toda a flor já desapareceu de cena. Mas a chance de vê-la na sua exuberância acontece com data marcada: de outubro a dezembro de cada ano.  Geralmente aos dois anos esta espécie atinge facilmente a altura de 2,5 metros.  
Fonte: "Árvores Brasileiras - Manual de Identificação e Cultivo de Plantas Arbóreas Nativas do Brasil", de Harri Lorenzi.

17 de out. de 2010

Eu disse sem querer dizer: mãe, o mundo me dói, me dói pra valer.


Foi assim: de manhãzinha eu passeava dentro do pomar de D. Mariquinha. Peguei um maracujá, uma romã, ia pegando uns araçás quando senti aquela água na cara, jogada por D. Mariquinha. Xinguei assim: ô velha fedida, avarenta. Ia enxugar a cara. Um vento bateu. Fiquei parado no vento. Olhei tudo querendo ser sempre menino, querendo sempre ter um maracujá, uma romã, a vontade de alguns araçás, e água na cara e vento. Grande que eu era de pé, e alguma coisa me estufou o peito, alguma coisa me encheu a boca e eu gritei. OOOOOOOOIAAAAAAAAI e outra vez bem comprido OOOOOOOOOOOOOOOOOIAAAAAAAAAAAAAAAAAI. E a mãe veio correndo, os irmãos também, a velha muito assustada, os cachorros também, as galinhas pretas pequenininhas, a mula veio que veio depressa e todos me rodearam e a mãe falou sem respirar: oquefoimeninooquefoi? E aí eu disse sem querer dizer: mãe, o mundo me dói, me dói pra valer.
HILST, Hilda. Fluxo-floema. São Paulo: Globo, 2003. p.38-39.

14 de out. de 2010

Homens


Os homens estão atados entre si por cordas, e isso já fica ruim quando as cordas afrouxam em torno de alguém e este cai um pouco mais baixo que os outros no vazio, mas quando as cordas arrebentam e aquele cai mesmo, é horrível. É por isso que devemos segurar-nos uns aos outros. Kafka 

11 de out. de 2010

Bonito demais


Não quero a meia-luz, não quero a cara bem feita, não quero o expressivo. Quero o inexpressivo. Quero o inumano dentro da pessoa; não, não é perigoso, pois de qualquer modo a pessoa é humana, não é preciso lutar por isso: querer ser humano me soa bonito demais. 
Clarice Lispector In: A Paixão segundo GH




                                 Foto: Cartier Bresson 

10 de out. de 2010

Ir-se


Magritte 


Cada vez que te vayas de vos misma
no olvides que te espero
en tres o cuatro puntos cardinales
siempre habrá un sitio dondequiera
con un montón de bienvenidas
todas te reconocen desde lejos
y aprontan una fiesta tan discreta
sin cantos sin fulgor sin tamboriles
que sólo vos sabrás que es para vos
cada vez que te vayas de vos misma
procura que tu vida no se rompa
y tu otro vos no sufra el abandono
y por favor no olvides que te espero
con este corazón recién comprado
en la feria mejor de los domingos
cada vez que te vayas de vos misma
no destruyas la vía de regreso
volver es una forma de encontrarse
y así verás que allí también te espero.


Mario Benedetti

4 de out. de 2010

O céu sobre Berlim






No filme de Wenders, com versos de Handke, os anjos fingem estar fartos de um tempo infinito.
Sonham com os pequenos tempos de sentar-se à mesa a jogar cartas. Ser cumprimentado na rua, nem que seja com um aceno. Ter febre. Ficar com os dedos sujos de ler o jornal. Entusiasmar-me com uma refeição ou com a curva de uma nuca. Mentir com habilidade. Ao andar sentir a ossatura mexer-se a cada passo. Supor, em vez de saber sempre tudo. Cá em baixo, os humanos não suspeitam da beleza do peso, que os segura à terra e fingem
o futuro em cada minuto, para deixar de dizer agora, agora, agora..."

Inês Lourenço, "A Enganadora Respiração da Manhã"

3 de out. de 2010

O olho e o coração



“Em qualquer coisa que faça, deve existir uma relação entre o olho e o coração. 
Com o olho que está fechado, olha-se para dentro,
 com o outro que está aberto, olha-se para fora.
Cartier-Bresson

23 de set. de 2010

16 de ago. de 2010

Sempre no nunca

Talvez seja isso a vida: 
muito desespero, mas também alguns momentos de beleza em que o tempo não é mais o mesmo. 
É como se as notas de música fizessem uma espécie de parêntesis no tempo, 
de suspensão, 
um alhures aqui mesmo, 
um sempre no nunca.
Sim, é isso, um sempre no nunca. Muriel Barbery in A elegância do ouriço.

8 de ago. de 2010

Manjericão



O manjerico comprado 
Não é melhor que o que dão. 
Põe o manjerico ao lado 
E dá-me o teu coração.


Fernando Pessoa in Quadras ao gosto popular 

Sonho



Preste atenção, ela disse, ao abrir para mim a porta de sua casa: - o que a gente sonha aqui, tende a acontecer. Pensei que é preciso ter coragem para morar em um lugar assim, onde o que se sonha passa a existir. Precisa ter muita certeza do seu sonho.  Alice Ruiz 

1 de ago. de 2010

Solidariedade é horizontal

                                           Foto: João Urban 
Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras pessoas.  Eduardo Galeano

O que me toca !







"Justo a mim coube ser eu!" Mafalda 

18 de jul. de 2010

Campinas à noite, desde o céu


Quando voltava para Campinas, de madrugada, vi a cidade pela janelinha do avião. Visão maravilhosa, luzinhas mil.

15 de jun. de 2010

Sobre a morte



Respeito. Esta é sua palavra chave e o que o torna emocionante. Um filme sobre a morte e o modo como ela deve ser tratada, tanto para os que ficam quanto para os que se vão. A cultura japonesa usada como exemplo. Belo filme.
fonte: Adoro Cinema

13 de jun. de 2010

Sentimento versus Pensamento

"Quando pensamos, fazêmo-lo com o fim de julgar ou chegar a uma conclusão; quando sentimos, é para atribuir um valor pessoal a qualquer coisa que fazemos." Carl Jung

12 de jun. de 2010

Amor é o que se aprende no limite de Carlos Drummond de Andrade


Amor e seu tempo

Amor é privilégio de maduros

estendidos na mais estreita cama,

que se torna a mais larga e mais relvosa,

roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

8 de jun. de 2010

Contigo, comigo




Como contigo
Eu chego a mim!

Como me trazes
A esfera imensa
Do mundo meu
E toda a encerras
Dentro de mim!

Como contigo
Eu chego a mim!

Ah como pões
Dentro de mim
A flor, a estrela,
O vento, o sol
A água, o sonho!


Como contigo
Eu chego a mim!

Juan Ramón Jimenez

6 de jun. de 2010

Todos os dias



Todos os dias agora acordo com alegria e pena.
Antigamente acordava sem sensação nenhuma; acordava.
Tenho alegria e pena porque perco o que sonho
E posso estar na realidade onde está o que sonho.
Não sei o que hei de fazer das minhas sensações.
Não sei o que hei de ser comigo sozinho.
Quero que ela me diga qualquer cousa para eu acordar de novo.

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) in O Pastor Amoroso

Desejo de Regresso de Cecília Meireles


Deixai-me nascer de novo,
nunca mais em terra estranha,
mas no meio do meu povo,
com meu céu, minha montanha,
meu mar e minha família.

E que na minha memória
fique esta vida bem viva,
para contar minha história
de mendiga e de cativa
e meus suspiros de exílio.

Porque há doçura e beleza
na amargura atravessada,
e eu quero memória acesa
depois da angústia apagada.
Com que afeição me remiro!

Marinheiro de regresso
com seu barco posto a fundo,
às vezes quase me esqueço
que foi verdade este mundo.
(Ou talvez fosse mentira…)

16 de mai. de 2010

Para escuchar con audífonos de Julio Cortázar

(...) Me fascina que la mujer que está a mi lado escuche discos con audífonos, que su rostro refleje sin que ella lo sepa todo lo que está sucediendo en esa pequeña noche interior, en esa intimidad total de la música y sus oídos. Si también yo estoy escuchando, las reacciones que veo en su boca o sus ojos son explicables, pero cuando sólo ella lo hace hay algo de fascinante en esos pasajes, esas transformaciones instantáneas de la expresión, esos leves gestos de las manos que convierten ritmos y sonidos en movimientos gestuales, música en teatro, melodía en escultura animada. Por momentos me olvido de la realidad, y los audífonos en su cabeza me parecen los electrodos de un nuevo Frankenstein llevando la chispa vital a una imagen de cera, animándola poco a poco, haciéndola salir de la inmovilidad con que creemos escuchar la música y que no es tal para un observador exterior. Ese rostro de mujer se vuelve una luna reflejando la luz ajena, luz cambiante que hace pasar por sus valles y sus colinas un incesante juego de matices, de velos, de ligeras sonrisas o de breves lluvias de tristeza. Luna de la música, última consecuencia erótica de un remoto, complejo proceso casi inconcebible.(...)
In: SALVO EL CREPÚSCULO. Ed. Nueva Imagen, Buenos Aires, 2º Ed. 1987 (1º Ed. 1984)

9 de mai. de 2010

Outro


Escribirmos para ser lo que somos o para ser aquello que no somos.
En uno o en outro caso, nos buscamos a nosotros mismos.
Y si tenemos la suerte de encontrarnos- señal de creación- descubririmos que somos un desconocido.
Siempre el outro, siempre él, inseparable, ajeno, com tu cara y la mía, tú siempre conmigo y siempre solo.
Octavio Paz: trayectorias y visiones.

1 de mai. de 2010

O que pensaste não sei



Tens um livro que não lês, 
Tens uma flor que desfolhas; 
Tens um coração aos pés 
E para ele não olhas.


Nunca dizes se gostaste 
Daquilo que te calei. 
Sei bem que o adivinhaste. 
O que pensaste não sei.


Fernando Pessoa in Quadras ao gosto popular 

30 de abr. de 2010

O admirável número pi

PI

O admirável número pi:
três vírgula um quatro um.
Todos os dígitos seguintes são apenas o começo,
cinco nove dois porque ele nunca termina.
Não se pode capturá-lo seis cinco três cinco com um olhar,
oito nove com o cálculo,
sete nove ou com a imaginação,
nem mesmo três dois três oito comparando-o de brincadeira
quatro seis com qualquer outra coisa
dois seis quatro três deste mundo.
A cobra mais comprida do planeta se estende por alguns metros e acaba.
Também são assim, embora mais longas, as serpentes das fábulas.
O cortejo de algarismos do número pi
alcança o final da página e não se detém.
Avança, percorre a mesa, o ar, marcha
sobre o muro, uma folha, um ninho de pássaro, nuvens, e chega ao céu,
até perder-se na insondável imensidão.
A cauda do cometa é minúscula como a de um rato!
Como é frágil um raio de estrela, que se curva em qualquer espaço!
E aqui dois três quinze trezentos dezenove
meu número de telefone o número de tua camisa
o ano mil novecentos e setenta e três sexto andar
o número de habitantes sessenta e cinco centavos
a medida da cintura dois dedos uma charada um código,
no qual voa e canta descuidado um sabiá!
Por favor, mantenham-se calmos, senhoras e senhores,
céus e terra passarão
mas não o número pi, nunca, jamais.
Ele continua com seu extraordinário cinco,
seu refinado oito,
seu nunca derradeiro sete,
empurrando, arf, sempre empurrando a preguiçosa
eternidade.
Wislawa Szymborska, poetisa polonesa
Tradução: Carlos Machado

25 de abr. de 2010

Livro do Desassossego de Fernando Pessoa

"É domingo e não tenho que fazer. Nem sonhar me apetece, de tão bem que está o dia. Gozo-o com uma sinceridade de sentidos a que a inteligência se abandona. Passeio como um caixeiro liberto. Sinto-me velho, só para ter o prazer de me sentir rejuvenescer." Fernando Pessoa in Livro do Desassossego

Viagem

foto: Olivier Follmi

“O que chamo de viajar não tem muito a ver com viagens de férias. Tampouco significa necessariamente desbravar terras virgens. [...] Viajar é isto: deslocar-se para um lugar onde possamos descobrir que há, em nós, algo que não conhecíamos até então.” Contardo Calligaris

19 de abr. de 2010

Para saber

“Mas sendo ela minha alma gêmea, eu a conhecia muito bem. Quando você ama uma pessoa mais do que todas as outras, você sabe tudo o que há para saber sobre ela.”  Orhan Pamuk in “Neve”

11 de abr. de 2010

O apanhador de desperdícios


Uso a palavra para compor meus silêncios. 

Não gosto de palavras fatigadas de informar.

(...)
Dou respeito as coisas desimportantes
E aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso as palavras para compor meus silêncios.
Manoel de Barros

Os dias felizes :: Cecília Meireles

Fernando Igor Os dias felizes estão entre as árvores, como os pássaros: viajam nas nuvens, correm nas águas, desmancham-se na areia.   Todas...