Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
13 de mar. de 2012
Fernand Khnopff : Delicadeza como marca
Feminina de Joyce
- Ô mãe, me explica, me ensina, me diz o que é feminina?
- Não é no cabelo, no dengo ou no olhar, é ser menina por todo lugar.
- Então me ilumina, me diz como é que termina?
- Termina na hora de recomeçar, dobra uma esquina no mesmo lugar.
Costura o fio da vida só pra poder cortar
Depois se larga no mundo pra nunca mais voltar
Prepara e bota na mesa com todo o paladar
Depois, acende outro fogo, deixa tudo queimar
E esse mistério estará sempre lá
Feminina menina no mesmo lugar
Sou meu hóspede
Sou meu hóspede noturno
em doses mínimas
e uso a noite
para despojar-me
da modéstia
e outras vaidades
e uso a noite
para despojar-me
da modéstia
e outras vaidades
procuro ser tratado
sem os prejuízos
das boas-vindas
e com as cortesias
do silêncio
sem os prejuízos
das boas-vindas
e com as cortesias
do silêncio
não coleciono padeceres
nem os sarcasmos
que deixam marca
nem os sarcasmos
que deixam marca
sou tão-só
meu hóspede
e trago uma pomba
que não é sinal de paz
mas sim pomba
meu hóspede
e trago uma pomba
que não é sinal de paz
mas sim pomba
como hóspede
estritamente meu
no quadro-negro da noite
traço uma linha
branca
estritamente meu
no quadro-negro da noite
traço uma linha
branca
Mario Benedetti , De La Vida ese Parentesis
12 de mar. de 2012
Sonho de Mia Couto
imagem: Sonia Madruga
É uma pena a senhora andar por aí fatigando seus olhos pelo mundo. Devia era, logo de manhã, passar um sonho pelo rosto. É isso que impede o tempo e atrasa a ruga. Sabe o que se faz? Estende-se aí na areia, oblonga-se deitadinha, estica a alma na diagonal. Depois, fica assim, caladita, rentinha ao chão, até sentir a terra se enamorar de si. Digo-lhe, Dona: quando ficamos calados, igual a uma pedra, acabamos por escutar os sotaques da terra. A senhora num certo momento, há-de ouvir um chão marinho, faz conta é um mar sob a pele do chão. Aproveita esse embalo, Dona Luarmina.Eu tiro vantagens desses silêncios submarinos. São eles que me fazem adormecer ainda hoje. Sou criança dele, do mar.
Jasmim-Manga
Jasmim-manga (Plumeria rubra) é uma planta do gênero Plumeria.
O jasmim-manga é uma árvore; pode atingir um porte entre 4 m
e 8 m. É muito usado como planta ornamental. Seus caules são grossos e lisos,
de cor cinzenta ou bronzeada de formato escultural; por essas características,
é muito apreciado por paisagistas. As folhas são verde-escuras e nascem nas
extremidades dos ramos. No inverno e na primavera, caem. Suas flores formam
grandes inflorescências terminais, e são rosa (cor)s ou vermelhas, havendo
variantes brancas e amareladas. A Plumeria rubra floresce durante o verão e o
outono. As flores exalam um olor suave, semelhante ao das flores de jasmim.
É originária da América tropical, onde ocorre naturalmente, desde
o México até a Colômbia e Venezuela.
Fonte: Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre
11 de mar. de 2012
Tem o serviço só de fantasiar de Mia Couto
- Escute o que eu falo: você, sim, é flor.
- Está, sou flor. Mas uma dessas que nunca serviu.
- Você serviu belezas, Luarmina.
- E para que servem as belezas? Para nada.
- Veja, exemplo, só: quem ilustra mais o céu? Não é o arco-íris?
E, pois, me diga: qual o serviço que tem o arco-íris?
- Nem sei lá.
-Tem o serviço só de fantasiar, de ensinar o céu a sonhar.
in “MAR ME QUER”
Ausência de Carlos Drummond de Andrade
Andrew Wyeth
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
10 de mar. de 2012
Com a sombra pela cintura ela sonha na varanda de Federico Garcia Llorca
Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura
ella sueña en su baranda,
verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas la están mirando
y ella no puede mirarlas.
(...)
in: Romance Sonambulo
Estudo do vermelho de Pedro Nava
O memorialista, na ficha 811 de Beira-mar, faz um estudo do vermelho. Primeiro lembra os sinônimos: "vermelho, rubro, carmim, escarlate, carmezim, fulvo, ruivo, aleonado (fauve), magenta, nacarado, púrpura, vinhoso, garance, nácar, zarcão, rubicundo, goles, solferino, encarnado". Depois, busca na ciência elementos vermelhos: "alizarina (lyrio vermelho), rosanilina, eosina, tornassol vermelho, laca, anêmona carmezim, pássaro de fogo, fogo, lagosta, crista de galo, a luz de Marte - milmartes, papoulas polipapoulas, rosa peônia, ocre vermelho, hematita (minério), colcotar (peróxido de ferro), ferrugem, rosalgar (sulfureto de arsênico)". Daí, parte para associações: "sangue, vinho, guelras, fauces, inferno, lava, vulcão, carne, sangue, canto de galo, clarim, toque de clarim, grito de raiva, cólera, colérico, bancos de coral". Essa viagem pela cor serve para descrever o crepúsculo em Belo Horizonte.
Algo existe de Emily Dickinson
No lento apagar de suas chamas,
Que me impele a ser solene.
Algo, num meio-dia de verão,
Uma fundura - um azul - uma fragrância,
Que o êxtase transcende.
Há, também, numa noite de verão,
Algo tão brilhante e arrebatador
Que só para ver aplaudo -
E escondo minha face inquisidora
Receando que um encanto assim tão trémulo
E subtil, de mim se escape.
9 de mar. de 2012
Companheiros Mia Couto
quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho
e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados
deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros
mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça
por ora
basta-me o arco-íris
em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço
companheiros
8 de mar. de 2012
João Urban, fotógrafo
João Urban (Curitiba, 1943) é um fotógrafo brasileiro.
Pratica a profissão desde criança. Mais tarde, entre a
militância política nos anos 60 em Curitiba, e o ingresso na fotografia
publicitária como profissão e a formação de uma cultura fotográfica, foi se
tornando um fotógrafo com técnica aprimorada e olhar sensível para questões
sociais. Publicou os livros Bóias - Frias, Tagelöhner im Süden Brasiliens.
Edition Dià, St. Gallen/Suíça e Wuppertal, Alemanha em 1984, com edição
brasileira em 1988 e Tropeiros, em 1991. Participou de várias exposições no
Brasil e no exterior. Seu trabalho integra importantes acervos e coleções de
fotografia. Recebeu o premio J. P. Morgan em1999 e, em 2000 recebeu a Bolsa
Vitae de Artes.
fonte: Wikipédia
Todo mundo tem sua Madeleine de Pedro Nava
"Todo mundo tem sua Madeleine, num cheiro, num gosto, numa cor, numa releitura - na minha vidraça iluminada de repente! - e cada um foi um pouco furtado pelo petit Marcel porque ele é quem deu forma poética decisiva e lancinante a esse sistema de recuperação do tempo. Essa retomada, a percepção desse processo de utilização da lembrança (até então inerte como a Bela Adormecida no Bosque do inconsciente) tem algo da violência e da subitaneidade de uma explosão, mas é justamente o seu contrário, porque concentra por precipitação e suscita crioscopicamente o passado diluído - doravante irresgatável e incorruptível. Cheiro de moringa nova, gosto de sua água, apito de fábrica cortando as madrugadas irremediáveis. Perfume de sumo de laranja no frio ácido das noites de junho. Escalas de piano ouvidas ao sol desolado das ruas desertas. Umas imagens puxam as outras e cada sucesso entregue assim devolve tempo e espaço comprimidos e expande, em quem evoca essas dimensões, revivescências povoadas do esquecido pronto para renascer."
Baú de ossos, p. 291/292
7 de mar. de 2012
Impatiens walleriana ou beijo-turco ou maria-sem-vergonha
Impatiens walleriana é uma planta da família das
balsamináceas, conhecida também pelos nomes de beijo-turco e
maria-sem-vergonha.
Planta de folhas macias e caule suculento e verde com diversas variedades. Muito fácil de cultivar, não exige cuidados especiais. Adaptou-se tão bem ao Brasil que surge espontaneamente em jardins urbanos e matas naturais, sendo considerada daninha em determinadas situações (por isso é chamada de maria-sem-vergonha). Forma frutinhos verdes e suculentos, ocos, com muitas sementes, que quando maduros estouram ao mais leve toque. É uma planta excelente para cultivar com as crianças. De crescimento rápido, gosta de umidade e prefere o calor.
Com o tempo perde a beleza, portanto é tratada como anual, devendo ser replantada. Deve ser cultivada em solo rico em matéria orgânica com regas freqüentes, a pleno sol ou a meia-sombra. Pode ser cultivada em vasos e floreiras, ou em maciços e bordaduras no jardim. Multiplica-se por sementes e estaquia. Para agua-lá, só é necessário deixar o solo dela úmido diariamente
É uma espécie nativa do leste da África, na região da Quênia
e de Moçambique. É uma planta herbácea perene que cresce de 15 a 60 centímetros
de altura, com grandes folhas lanceoladas com 3 a 12 cm de comprimento e 2 a 5
cm de largura. As folhas são alternadas na maior parte, embora possam ser
opostas perto do topo da planta. As flores possuem cinco pétalas e podem ser
das mais diversas cores.
A mesma mão de sempre e tão nova de Fabrício Carpinejar
A mão paterna mexendo de orgulho nossos cabelos.
A mão da caligrafia dos cadernos, com a cabeça inclinada na mesa.
A mão brincando com o graveto na boca do cachorro.
A mão boba no cinema. A mão para levantar o véu branco da esposa.
A mão ansiosa a segurar o primeiro passo do filho.
A mão assustada de ternura.
Ossuda, magra, com as veias azuis pedindo passagem.
Envelhecida, absolutamente carente, que vai acenar de verdade apertando outra mão.
6 de mar. de 2012
Orquídea Epidendrum conhecida como "orquídea estrela" ou "orquídea crucifixo"
Epidendrum é um gênero que ocorre nas Américas, do México ao Brasil. É também conhecida como "orquídea estrela" ou "orquídea crucifixo". Recompensa o cultivador com frequentes florações de cores variadas e tem boa resistência a temperaturas altas e baixas, podendo suportar bem períodos de prolongada exposição ao sol.
Grande número de espécies apresentam um néctar de forte fragrância. Seus principais agentes polinizadores são a mariposa diurnas e noturnas e o beija-flor que costuma visitar algumas espécies.
As condições de cultivo, variam muito, dependendo da região de onde se origina a espécie. Existem espécies epífitas, rupícolas e terrestres, e para cada uma as condições são diferentes, porém na sua maioria, são plantas que devem ser cultivadas em clima intermediário, com boa ventilação e umidade, sem necessitarem de grande adubação nem de períodos secos durante o ano.
Poemas escolhidos de Emily Dickinson
Um amigo que é sombra para os dias quentes,
Do que algum outro, caloroso,
Para as horas frias da mente.
Voltado um tanto para o leste, o catavento
Põe em fuga as almas de musselina;
E se mais firmes são os corações de seda
Do que os feitos de organdi,
A quem culpar? Ao tecelão?
Ó os enganadores fios!
No paraíso, as alfombras
Têm urdidura invisível.
“Poemas escolhidos”, Emily Dickinson. Seleção, tradução, introdução e notas de Ivo Bender.
5 de mar. de 2012
Poema 15: Me gusta cuando callas de Pablo Neruda
Van Gogh
Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.
Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.
Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
Déjame que me calle con el silencio tuyo.
Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.
Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.
4 de mar. de 2012
Amor-agarradinho, mimo-do-céu, amor-entrelaçado
Nome Científico: Antigonon leptopus
Sinonímia: Antigonon cordatum
Nome Popular: Amor-agarradinho, viuvinha, mimo-do-céu, coralita, cipó-coral, lágrima-de-noiva, rosália, rosa-da-montanha, cipó-mel, georgina, amor-entrelaçado, bela-mexicana
Família: PolygonaceaeDivisão: Angiospermae
Origem: México
Agora que sinto amor de Fernando Pessoa (Alberto Caieiro)
Agora que sinto amor
Tenho interesse no que cheira.
Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro.
Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova.
Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia.
São coisas que se sabem por fora.
Mas agora sei com a respiração da parte de trás da cabeça.
Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira.
Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver.
3 de mar. de 2012
Paisagem de Murilo Mendes
sinos vibrando na alma da gente,
o amor tão calmo me leva pela mão
nas ruas alinhadas da vida,
me mostra as colunas polidas do tempo,
festões cor-de-rosa,
ritmos equilibrados.
Sons de realejo na praça onde crianças jogam malha
e o ar fino de cheiro de madressilva e jasmins lavados,
água cantando na fonte mecânica, embalando a praça.
Até minha namorada que tem o corpo sólido
e a cara tristíssima
toma uns ares de garota e o mundo entra na ordem.
In Poesia Completa e Prosa
2 de mar. de 2012
Orquídeas Bulbophyllum
Etimologia: O nome do gênero (Bulb.) procede da latinização das palavras gregas: βολβος (bolbos), que significa "bulbo", "tubérculo", "raiz carnuda"; e φύλλον que significa "folha", aludindo à forma bulbosa das folhas da primeira planta descrita, folhas bastante espessas.
É o mais vasto e um dos mais complexos gêneros dentre as orquídeas, com cerca de duas mil espécies bastante diversas, distribuídas pelos trópicos de todos os continentes com predominância no sudeste africano e asiático. Somente na Nova Guiné há mais de quinhentas espécies descritas.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
É o mais vasto e um dos mais complexos gêneros dentre as orquídeas, com cerca de duas mil espécies bastante diversas, distribuídas pelos trópicos de todos os continentes com predominância no sudeste africano e asiático. Somente na Nova Guiné há mais de quinhentas espécies descritas.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Adiada enchente de Mia Couto
Velho, não.
Entardecido, talvez.
Antigo, sim.
Me tornei antigo
porque a vida,
tantas vezes, se demorou.
E eu a esperei
como um rio aguarda a cheia.
1 de mar. de 2012
A alma escolhe sua companhia de Emily Dickinson
E fecha a porta, depois.
Em sua augusta suficiência,
Cessam as intromissões.
Indiferente, vê as carruagens
Parando junto ao portão;
Indiferente, um rei de joelhos
Sobre suas alfombras.
Sei que, dentre uma vasta multidão,
Ela escolheu um ser apenas;
Depois, cerrou as aldravas de sua atenção,
Feito pedra.
In Poemas Escolhidos
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