Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
28 de jun. de 2013
27 de jun. de 2013
Narciso de Manuel António Pina
e já estou tão próximo de ti
que sou eu quem me chama e quem te chama
e é o meu amor que em ti me ama.
Se me olhas sou eu que me contemplo
longamente através do teu olhar
e moro em ti e sou eu o lugar
e demoro-me em ti e sou o tempo.
Eu sou talvez aquilo que me falta
(a alma se sou corpo, o corpo se sou alma)
em ti, e afogo-me na tua vida
como na minha imagem desmedida:
Sol, Lua, água, ouro,
horizontalidade, concordância,
indiferente ordem da infância,
união conjugal, morte, repouso.
26 de jun. de 2013
Lembrança do mundo antigo - Carlos Drummond de Andrade
Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o guarda-civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranqüilo em redor de Clara.
As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas,
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, pela manhã!!!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!
25 de jun. de 2013
Albrecht Dürer (Nuremberg, 21 de maio de 1471 — Nuremberg, 6 de abril de 1528)
"Desenhar é a integridade da arte. Não há possibilidade de trapacear. Ou é bom ou é ruim." Salvador Dalli
24 de jun. de 2013
Foguete canta Maria Bethania
Tantas vezes eu soltei foguete
Imaginando que você já vinha
Ficava cá no meu canto calada
Ouvindo a barulheira
Que a saudade tinha
É como diz João Cabral de Mello Neto
Um galo sozinho não tece uma manhã
Senti na pele a mão do teu afeto
Quando escutei o canto de acauã
A brisa veio feito cana mole
Doce, me roubou um beijo
Flor de querer bem
Tanta lembrança este carinho trouxe
Um beijo vale pelo que contém
Tantas vezes eu soltei foguete
Imaginando que você já vinha
Ficava cá no meu canto calada
Ouvindo a barulheira
Que a saudade tinha
Tirei a renda da naftalina
Forrei cama, cobri mesa
E fiz uma cortina
Varri a casa com vassoura fina
Armei a rede na varanda
Enfeitada com bonina
Você chegou no amiudar do dia
Eu nunca mais senti tanta alegria
Se eu soubesse soltava foguete
Acendia uma fogueira
E enchia o céu de balão
Nosso amor é tão bonito, tão sincero
Feito festa de São João
http://letras.mus.br/maria-bethania/569723/
Compositor: J. Velloso / Roberto Mendes
23 de jun. de 2013
Canção dos que partem - Luis Enrique Belmonte (Caracas, 1971)
Os que partem a cantarolar uma canção
a deixar que a luz ocupe seu lugar nas esquinas,
nos rostos que chegam,
nas mãos que palpam o espaço habitável
Os que se aproximam do horizonte
procurando pássaros que adejam na escuridão
Os que no seu andar desprendem gravetos, espinhos,
cascas que assinalam o sentido
do que não puderam dizer a tempo
quando era preciso dizê-lo.
Os que se vão não devem olhar o rasto do seu passo
senão a cintilação da terra prometida
que não é mais que o lampejo de seus próprios corpos
a trafegar caminhos no mais côncavo da noite.
Escutemos a canção
sobre os telhados de povos afantasmados,
nos gonzo de portas entreabertas,
nos sótãos do vento.
É a canção que anuncia aos que chegam
e torna mais leve a travessia dos que partem.
.........................
Los que se van tarareando una canción
dejando que la luz ocupe su lugar en las esquinas,
en los rostros que llegan,
en las manos que tantean el espacio habitable.
Los que se van arrimando al horizonte
buscando pájaros que aletean en la oscurana.
Los que en su marcha desprenden astillas, espinas,
cáscaras que señalan el sentido
de lo que no pudieron decir a tiempo
cuando era justo decirlo.
Los que se van no deben mirar la estela de su paso
sino el relumbre de la tierra prometida
que no es más que el destello de sus propios cuerpos
trasegando caminos en lo más cóncavo de la noche.
Escuchemos la canción
sobre los tejados de pueblos afantasmados,
en los goznes de puertas entreabiertas,
en los áticos del viento.
Es la canción que anuncia a los que llegan
y hace más ligera la travesía de los que parten.
Luis Enrique Belmonte. Nasceu em Caracas, em 1971. É médico cirurgião (UCV), especializou-se em Bioética na Universidade Ramón Llull e em História das Ciências na Universidade Autónoma de Barcelona. Recebeu diferentes reconhecimentos literários, entre eles o Prêmio de Poesia Fernando Paz Castillo (1996), por Corpo baixo lâmpada; o Prêmio Adonais (1998), convocado pela editorial Rialp de Madri, por Inútil registo; e o Prêmio de Poesia da IV Bienal de Literatura Mariano Picón Salas (2005), por O encanto.
22 de jun. de 2013
As Abelhas de Vinicius de Moraes
A abelha-mestra
E as abelhinhas
Estão todas prontinhas
Para ir para a festa
Num zune-que-zune
Lá vão pro jardim
Brincar com a cravina
Valsar com o jasmim
Da rosa pro cravo
Do cravo pra rosa
Da rosa pro favo
E de volta pra rosa
21 de jun. de 2013
Com as rosas de Juan Ramón Jimenez
Klimt
Não, esta doce tarde
não poderei ficar;
esta tarde livre
tenho que ir na aragem.
Na aragem que ri
ao abrir das árvores,
amores aos milhares,
profunda, ondulante.
Esperam-me as rosas,
banhando sua carne.
Não ponha limites;
não quero ficar-me.
20 de jun. de 2013
Goeldi
“ O que me interessava eram os aspectos estranhos do Rio suburbano, com postes de luz enterrados até a metade na areia, urubu na rua, móveis na calçada, enfim, coisas que deixariam besta, qualquer europeu recém chegado. Depois descobri os pescadores, e toda madrugada ia para o mercado ver o desembarque do peixe e desenhava sem parar.” 1957, Goeldi
19 de jun. de 2013
Wislawa Szymborska
Alguns -
ou seja nem todos.
Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria.
Sem contar a escola, onde é obrigatório
e os próprios poetas,
seriam talvez uns dois em mil.
Gostam -
mas também se gosta de canja de galinha,
gosta-se da galanteios e da cor azul,
gosta-se de um xale velho,
gosta-se de fazer o que se tem vontade
gosta-se de afagar um cão.
De poesia -
mas o que é isso, poesia.
Muita resposta vaga
já foi dada a essa pergunta.
Pois eu não sei e não sei e me agarro a isto
como a uma tábua de salvação
18 de jun. de 2013
Avenca, Avenca-de-Montpellier e Cabelo-de-Vênus,
... assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira. Caio Fernando Abreu.
17 de jun. de 2013
O meu olhar é nítido como um girassol de Fernando Pessoa
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
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