17 de jul. de 2013

Anna Silivonchik (Bielorrússia)





















Beleza de Burle Marx

Burle Marx
"Com o tempo, comecei a imaginar a beleza natural organizada. Queria uma coisa que tivesse ritmo, cor, surpresas e emoção estética. O jardim é isso, tem de deixar a pessoa leve. E nisso tudo, a planta é o ator principal. Cada uma representa uma peça, dramas, comédias, tragicomédias, dependendo da graça e do talento que ela traz."

15 de jul. de 2013

Cecília Meireles - Murmúrio


Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.

Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.

Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!

Nada é impossível de mudar :: Bertolt Brecht

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.

E examinai, sobretudo, o que parece habitual.

Suplicamos expressamente:

não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,

pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada,

de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada,

nada deve parecer natural

nada deve parecer impossível de mudar.

14 de jul. de 2013

Das finalidades supremas da existência e da nossa dignidade como homens - Anton Tchekhov



“Em Oreanda, sentaram-se num banco perto da igreja e ficaram calados, olhando o mar embaixo. Mal se avistava Ialta através da névoa matutina, e nos cumes das montanhas nuvens brancas pairavam imóveis. A folhagem das árvores estava quieta, cigarras cantavam e o ruído surdo e monótono do mar, vindo de baixo, falava de repouso, do sono eterno que nos espera. Esse barulho já se fazia ouvir ali quando não havia Ialta, nem Oreanda; ele se faz ouvir agora e será assim também no futuro, surdo e indiferente, quando nós não mais existirmos. E nessa constância, nessa completa indiferença em relação à vida e à morte de cada um de nós, esconde-se, talvez, a garantia de nossa salvação eterna, do incessante movimento da vida na terra, do seu contínuo aperfeiçoamento. Sentado ao lado de uma jovem mulher, que no amanhecer parecia tão bela, tranqüilizado e enfeitiçado pela visão desse panorama fantástico – o mar, as montanhas, as nuvens, o amplo céu -, Gúrov pensava que no fundo, se refletirmos bem, tudo neste mundo é maravilhoso; tudo, exceto aquilo que nós mesmos pensamos e fazemos quando esquecemos das finalidades supremas da existência e da nossa dignidade como homens.”.

Tchekhov, Anton. A dama do cachorrinho. In: A corista e outras histórias. LP&M.

Peter Callesen (Copenhagen, 1967)

















13 de jul. de 2013

Eu quis o mar :: Mariana Ianelli

Eu quis o mar, o porto de águas mornas,
Um desvão onde guardar minha ansiedade.
Larguei-me na amplitude da corrente
Que tragava as embarcações desorientadas.
Na largura da noite altaneira, o meu intuito:
Depositei em uma estrela miúda o segredo da viagem.

Poema do livro Passagens, ed. Iluminuras, 2003

Leitura das Cartas :: Mariana Ianelli

Te decidirás
Entre duas Américas
Num breve recolher de âncoras.
E será sem volta a tua decisão.

Terás espírito,
Impérios e dotes
E perderás um a um todos eles.
Tua fortuna desperdiçada em vão.

Vês aquela menina?
Alheio à sorte, não podes vê-la:
Falta-te o conhecimento do oculto.
Essa criança será tua mulher daqui a vinte anos.

Nenhum pudor em tua alegria
(Só volúpia e picardia)
No momento oportuno de o teu rosto
Converter toda beleza em mentira.

Tornarás à casa da ladeira
E o futuro será mais do que destruição.
Tal como antigamente estarão lá
As palmeiras, o lusco-fusco e o uivo dos cães.

Sentirás uma vertigem,
Mas não seu estranho sinal.
Outra vertigem no exílio da madrugada
E o pesadelo do inconsciente adormecerá a tua razão.

Saberás estar sozinho,
Coberto de idéias miraculosas.
Teu amor pela astronomia
Será maior do que o teu amor pelos homens.

Não questionarás a alegoria da vida
Até os teus quarenta e cinco,
Quando te descobrirás um místico
E num desvario este poema será escrito.

12 de jul. de 2013

"Buriti", "miriti", "muriti", "muritim" e "muruti" provêm do tupi mburi'ti "Carandá"





Sua beleza montava, magnificava. Marcava obstáculo: um tinha que parar ali, momentos que fosse, por império. E seguir um instante seu duro movimento coagulado, de que parecia pronta uma ameaça ou uma música. Diziam: o  Buriti-Grande. Ele existia. 
ROSA, J. G. Noites do sertão. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976. p. 136

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O termo buriti é a designação comum das plantas dos gêneros Mauritia, Mauritiella, Trithrinax e Astrocaryum, da família das arecáceas (antigas palmáceas). Mais especificamente, o termo costuma se referir à Mauritia flexuosa, uma palmeira muito alta, nativa de Trinidad e Tobago e das Regiões Central e Norte da América do Sul, especialmente de Venezuela e Brasil. Predomina nos estados de Roraima, Rondônia, Pará, Maranhão e Piauí, mas também encontra-se nos estados do Ceará, Bahia, Goiás, Amazonas, Tocantins, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre, Rio de Janeiro, São Paulo e no Distrito Federal. É também conhecida como coqueiro-buriti, buritizeiro, miriti, muriti, muritim, muruti, palmeira-dos-brejos, carandá-guaçu e carandaí-guaçu.
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Arecales
Família: Arecaceae
Género: Mauritia
Espécie: M. flexuosa
Nome binomial
Mauritia flexuosa

Seu fruto, além de rico em vitamina A, B e C, ainda fornece cálcio, ferro e proteínas. Consumido tradicionalmente ao natural, o fruto do buriti também pode ser transformado em doces, sucos, picolé, licor, vinho, sobremesas de paladar peculiar e ração de animais. Fornece palmito saboroso, fécula, seiva e madeira. O óleo extraído da fruta é rico em caroteno e tem valor medicinal para os povos tradicionais do Cerrado que o utilizam como vermífugo, cicatrizante e energético natural. Também é utilizado para amaciar e envernizar couro, dar cor, aroma e qualidade a diversos produtos de beleza, como cremes, xampus, filtro solar e sabonetes.
As folhas jovens produzem uma fibra muito fina, a "seda" do buriti, usada pelos artesãos na fabricação de peças de capim-dourado. Sua fibra é transformada no artesanato em bolsas, tapetes, toalhas de mesa, brinquedos, bijuterias, redes, cobertura de teto,cordas e etc. O talo das folhas se presta ainda à fabricação de móveis, que se destacam pela leveza e durabilidade. O buriti é de grande importância na manutenção de olhos d'água naturais, chegando até a conservar locais alagadiços, de água pura e permanente.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

11 de jul. de 2013

Eucanaã Ferraz, Vinheta


Ame-se o que é, como nós,

efêmero. Todo o universo
podia chamar-se: gérbera.
Tudo, como a flor, pulsa

e arde e apodrece. Sei,
repito ensinamento já sabido
e toda lição não diz mais
que margaridas e junquilhos.

Lições, há quem diga,
são inúteis, por mais belas.
Melhor, porém acrescento,
se azuis, vermelha, amarelas.

As bolas de sabão :: Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

As Bolas de Sabão


As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
Amigas dos olhos como as cousas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.
Algumas mal se vêem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer cousa se aligeira em nós
E aceita tudo mais nitidamente.

Daniela :: Clarice Lispector

Daniela tem pouco mais de quatro anos de idade e pergunta muito — pergunta sempre. E às vezes também responde.
Vou tentar reproduzir perguntas, considerações e respostas de Daniela.
— Pensar? Disse ela para a madrinha que é estudante universitária. O que é pensar? Por que se pensa? Mas por que não se pensa? Pausa.
— Por que é preciso que se pense? Porque o Moacir Franco canta na música assim: "não, não posso parar, se eu paro eu penso, se eu penso eu choro...".
A madrinha levou Daniela até a Faculdade onde estudava, mostrou-lhe a estátua de "O Pensador" e disse-lhe":
— Daniela, aquele ali é o "O Pensador".
A menina olhou atentamente e nada falou. Bem mais tarde disse:
— Pensador... pensa-a-dor?  Então por que dizemos pensa-a-dor?  Gozado tudo isso!
Passado algum tempo a madrinha resolveu fazer perguntas na esperança de receber respostas:
— Daniela, o que é pensar?
— Pensar é que nem aquele homem do teu colégio.
A madrinha insistiu:
—O que é pensar?
— Bem, então pensar é fechar os olhos.
Pela última vez a madrinha insistiu:
— Daniela, o que é pensar?
— Bem, disse muito categoricamente, pensar é colocar um monte de coisas na cabeça, fazer mistério e depois dar a surpresa.
                                                                                                                       

10 de jul. de 2013

Carta a Ophélia Queiroz - 9 Out. 1929 de Fernando Pessoa

Ophélia de Queiroz,  amor de Fernando Pessoa (1888/1935).

Bebé fera:
Peço desculpinha de a arreliar. Partiu-se a corda do automóvel velho que trago na cabeça, e o meu juízo, que
já não existia, fez tr-tr-r-r-r-...
Logo a seguir a telefonar-lhe, estou a escrever-lhe, e naturalmente telefonarei outra vez, se lhe não faz mal aos nervos, e naturalmente será, não a qualquer hora, mas à hora em que lhe telefonarei.
Gosta de mim por mim ser mim ou por não? Ou não gosta mesmo sem mim nem não? Ou então?
Todas estas frases, e maneiras de não dizer nada, são sinais de que o ex-Ibis, o extinto Ibis, o Ibis sem concerto nem gostosamente alheio, vai para o Telhal, ou para Rilhafolles, e lhe é feita uma grande manifestação à magnífica ausência.
Preciso cada vez mais de ir para Cascais — Boca do Inferno mas com dentes , cabeça para baixo, e fim, e pronto, e não há mais Ibis nenhum. E assim é que era para esse animal ave esfregar a fisionomia esquisita no chão.
Mas se o Bebé desse um beijinho, o Ibis aguentava a vida um pouco mais. Dá? — Lá está a corda partida -r-r-r-r-r-r-r-r-r-r-r-r-
a valer
9/10/1929
Fernando
9-10-1929
Cartas de Amor. Fernando Pessoa. (Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz.) Lisboa: Ática, 1978 (3ª ed. 1994). 
 - 45.

9 de jul. de 2013

Mudo de beleza de Eduardo Galeano



Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!.

In: O livro dos abraços, L&PM

8 de jul. de 2013

Encanto - Guimarães Rosa

bordado: Marie-Thérèse Pfyffer

Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto." Guimarães Rosa in Grande Sertão: veredas. p. 69

7 de jul. de 2013

Há mulheres que trazem o mar nos olhos - Sophia de Mello Breyner Andresen

Fernanda Correia Dias . Caminho no Mar .
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os Homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes
e calma

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, in OBRA POÉTICA (Ed. Caminho, 2010)

6 de jul. de 2013

Ana Cristina Cesar lê Clarice – por Elizama Almeida





É de conhecimento coletivo que Ana Cristina costumava fazer resumos, anotações, riscos – verdadeiras interações com os livros que lia. Logo na folha de rosto da edição de A legião estrangeira, ela avisa: “antes de ler este volume veja a página 137”. Seguindo a pista, somos levados a um texto intitulado “Mas já que se há de escrever…”, composto de apenas duas linhas: “Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas”. A lápis, Ana Cristina assinalou: “genial” – adjetivo que seria usado para qualificar diversos outros trechos ao longo do livro. Acima do aviso estão a data e o local – presume-se – do início da leitura: Porto Alegre, 12 de dezembro de 1967. A leitora contava apenas quinze anos.

fonte: http://blogdoims.uol.com.br/ims/ana-cristina-cesar-le-clarice-por-elizama-almeida/



Aos Namorados do Brasil :: Carlos Drummond de Andrade

Dai-me, Senhor, assistência técnica para eu falar aos namorados do Brasil. Será que namorado algum escuta alguém? Adianta falar a namorados?...