Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
8 de fev. de 2014
A Lua no Cinema de PAULO LEMINSKI
Jana Joana e Vitché
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado.
Era a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!
7 de fev. de 2014
Os Mistérios do Ofício :: Anna Akhmátova
e o encanto das elegias sentimentais?
Para mim, na poesia, tudo tem de ser desmesurado,
e não do jeito como todo mundo faz.
Se vocês soubessem de que lixeira
saem, desavergonhados, os versos,
como dente-de-leão que brota ao pé da cerca,
como a bardana ou o cogumelo.
Um grito que vem do coração, o cheiro fresco de alcatrão,
o bolor oculto na parede...
E, de repente, a poesia soa, calorosa, terna,
Para a minha e tua alegria.
Tradução de Lauro Machado Coelho
6 de fev. de 2014
Amo, amas :: Rubén Darío
Konstantin Bogaevsky, 1940
Amar, amar, amar, amar sempre, com todo
O ser e com a terra e com o céu,
Com o claro do sol e o escuro do lodo;
Amar por toda ciência e amar, por todo desejo.
E quando a montanha da vida
Nos seja dura e longa e alta e cheia de abismos,
Amar a imensidade que é de amor acesa
E arder na fusão de nossos peitos mesmos!
Tradução de Maria Teresa Almeida Pina
Boniteza torta :: Cecília Meireles
não gosta dos vidrados escorridos desigualmente,
não aprecia a boniteza torta das canecas,
das jarrinhas sem equilíbrio total.
Cecília Meireles, 1953
5 de fev. de 2014
Orquídea Rhyncholaelia digbyana
Origem: encontrada no México, Belize, Guatemala, Honduras e Costa Rica
Descrição: Porte médio com flores grandes perfumadas com aroma de limão, luz abundante, clima quente para temperado
Sinônimo: Bletia digbiyana; Brassavola digbyana; Brassavola digbyana var fimbripetala; Cattleya digbyana; Laelia digbyana; Laelia digbyana var fimbripetala; Rhyncholaelia digbyanan var fimbripetala
Corpo de luz de Hilda Hilst
I
Caminhas em direção ao Sul. O que te move
É alfa, Adonai, Claríssima Morada.
Teu peito é transparência em plenitude alada
E não te vejo na distância e no tempo.
Sei que a memória é límpida cancela
E que viaja a sós, eterna.
E sendo assim, a ti te reconheço.
II
Tu não estás comigo. Nem na tua noite
De antes, de granito. Nem a tua voz
É voz entre muralhas. Estás além agora:
Arco do infinito.
III
Teu sono não é o sono vulgar.
Estendes a vigília
E apreendes através da opacidade.
Também assim
Repousa o mar.
IV
Fechou-se para o efêmero das coisas
O incomensurável da retina.
Assim pousas na Verdade:
Fronte de opalina.
V
Poeta, os homens manipulam a matéria.
Artífices do grande sonho dão -se as mãos
e é o meu canto o fruto dessa espera.
Canto como quem risca a pedra. Te celebro
Na mais alta metamorfose da minha época.
Não cantarei em vão.
VI
Há um espaço finito onde o meu canto paira.
E no multidimensional, na estrutura
Onde a realidade se refaz, tu te demoras.
Pastor, o que parecia tangível se evapora.
E sobre nós, a grande noite
Num etéreo nada, jaz.
VII
Sabias de outro tempo? O universo
Agora se parece a um grande pensamento.
Tu cantaste o espanto, asa de silêncio.
Eu canto o espírito
Que penetrou no reino da matéria:
Asa de espanto do conhecimento.
4 de fev. de 2014
Contramor :: Adélia Prado
Setsiri Silapasuwanchai
O amor tomava a carne das horas
e sentava-se entre nós.
Era ele mesmo a cadeira, o ar, o tom da voz:
Você gosta mesmo de mim?
Entre pergunta e resposta, vi o dedo,
o meu, este que, dentro de minha mãe,
a expensas dela formou-se
e sem ter aonde ir fica comigo,
serviçal e carente.
Onde estás agora?
Sou-lhe tão grata, mãe,
sinto tanta saudade da senhora…
Fiz-lhe uma pergunta simples, disse o noivo.
Por que esse choro agora?
Miserere. Record, 2014.
3 de fev. de 2014
Pensamento - Arnaldo Antunes
Pensamento que vem de fora
e pensa que vem de dentro,
pensamento que expectora
o que no meu peito penso.
Pensamento a mil por hora,
tormento a todo momento.
Por que é que eu penso agora
sem o meu consentimento?
Se tudo que comemora
tem o seu impedimento,
se tudo aquilo que chora
cresce com o seu fermento;
pensamento, dê o fora,
saia do meu pensamento.
Pensamento, vá embora,
desapareça no vento.
E não jogarei sementes
em cima do seu cimento.
Antunes, Arnaldo. Tudos. São Paulo: Iluminuras, 2001.
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