10 de mai. de 2017

CAMPO :: Sophia de Mello Breyner Andresen,


BORIS KUSTODIEV
Estou só nos campos
A doce noite murmura
A lua me ilumina
Corre em meu coração um rio de frescura
De tudo o que sonhou minha alma se aproxima

 In:  Livro sexto, 1962

9 de mai. de 2017

Nossas vidas são Suíças :: Emily Dickinson (1830-1886)


Nossas vidas são Suíças —
Tão quietas — tão Frias —
Até que uma tarde vem
Soltam os Alpes as suas Cortinas
E divisamos mais além!

A Itália fica do outro lado!
Qual sentinelas, porém
Os Alpes solenes 
Os Alpes sirenes
Para sempre intervêm!


........

Our lives are Swiss —
So still — so Cool —
Till some odd afternoon
The Alps neglect their Curtains
And we look farther on!

Italy stands the other side!
While like a guard between —
The solemn Alps —
The siren Alps
Forever intervene!

tradução: Isa Mara Lando 

4 de mai. de 2017

LA MUJER MÁS VIEJA DEL MUNDO :: CELIA FONTÁN


La mujer más vieja del mundo,
la negra
nacida esclava,
que padeció castigos,
vejaciones,
el tormento del cepo,
pide cumplir
un último,
un íntimo deseo,
emblema de su alma:
ver el mar.
Y allá va
seguida
de un alegre cortejo
de hombres jóvenes
que se mueven
como en una película muda
en blanco y negro.
La esclava, ahora vieja liberta,
la negra
mínima, agudísima, encorvada,
la mujer más vieja del mundo
llega al mar
y lo oye,
y lo aspira
y sumerge sus negros pies en esa espuma
y ella,
que es en ese instante el universo,
dice:
hasta aquí he llegado.

1 de mai. de 2017

Os Joões-Ninguém ( Los Nadies ) :: Eduardo Galeano

Os Joões-Ninguém ( Los Nadies )
Sonham as pulgas comprar um cão
e sonham os Joões-Ninguém deixar de ser pobres
Que algum dia mágico lhes traga a boa sorte,
que chova a cântaros a boa sorte.
Porém, a boa sorte não choveu ontem,
nem hoje, nem amanhã, nem nunca
Nem a chuvinha cai do céu, nem a boa sorte,
por muito que os Joões-Ninguém a chamem
Ainda que lhe acenem com a mão esquerda,
ou se levantem com o pé direito, ou comecem
o ano mudando de escova de dentes
Os Joões-Ninguém: os filhos de ninguém,
os donos de nada
Os Joões-Ninguém: os nenhuns, os sem nome,
correndo como lebres, morrendo a vida
Fodidos e refodidos
Aqueles que não são, ainda que sejam
Que não falam idiomas, apenas dialetos
Que não professam religião, apenas superstição
Que não fazem arte, apenas artesanato
Que não fazem cultura, apenas folclore
Que não são seres humanos, apenas recursos humanos
Que não têm rosto, apenas braços
Que não têm nome, apenas um número
Que não figuram na história universal,
apenas na crônica vermelha 

...................

Los Nadies

Sueñan las pulgas con comprarse un perro y sueñan los nadies con salir de pobres, que algún mágico día llueva de pronto la buena suerte, que llueva a cántaros la buena suerte; pero la buena suerte no llueve ayer, ni hoy, ni mañana, ni nunca, ni en lloviznita cae del cielo la buena suerte, por mucho que los nadies la llamen y aunque les pique la mano izquierda, o se levanten con el pié derecho, o empiecen el año cambiando de escoba.

Los nadies: los hijos de nadie, los dueños de nada,
los nadies: los ningunos, los ninguneados,
corriendo la liebre, muriendo la vida, jodidos,
rejodidos.
Que no son aunque sean.
Que no hablan idiomas sino dialectos.
Que no profesan religiones sino supersticiones.
Que no hacen arte sino artesanía.
Que no practican cultura sino folklore.
Que no son seres humanos sino recursos humanos.
Que no tienen cara sino brazos.
Que no tienen nombre sino número.
Que no figuran en la historia universal
sino en la crónica roja de la prensa local.

Los nadies.......
que cuestan menos que la bala que los mata...

...........


As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chova ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.

Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não tem cultura, têm folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.

29 de abr. de 2017

INVENTARIO GALANTE :: ANTONIO MACHADO

Van Gogh 
Tus ojos me recuerdan 
las noches de verano 
negras noches sin luna, 
orilla al mar salado, 
y el chispear de estrellas 
del cielo negro y bajo. 
Tus ojos me recuerdan 
las noches de verano. 
Y tu morena carne, 
los trigos requemados, 
y el suspirar de fuego 
de los maduros campos. 

Tu hermana es clara y débil 
como los juncos lánguidos, 
como los sauces tristes, 
como los linos glaucos. 
Tu hermana es un lucero 
en el azul lejano... 
Y es alba y aura fría 
sobre los pobres álamos 
que en las orillas tiemblan 
del río humilde y manso. 
Tu hermana es un lucero 
en el azul lejano. 

De tu morena gracia, 
de tu soñar gitano, 
de tu mirar de sombra 
quiero llenar mi vaso. 
Me embriagaré una noche 
de cielo negro y bajo, 
para cantar contigo, 
orilla al mar salado, 
una canción que deje 
cenizas en los labios... 
De tu mirar de sombra 
quiero llenar mi vaso. 

Para tu linda hermana 
arrancaré los ramos 
de florecillas nuevas 
a los almendros blancos, 
en un tranquilo y triste 
alborear de marzo. 
Los regaré con agua 
de los arroyos claros, 
los ataré con verdes 
junquillos del remanso... 
Para tu linda hermana 
yo haré un ramito blanco.

28 de abr. de 2017

UM SORRISO :: Fernando Pessoa

Na rua tive um sorriso
Que o acaso deu,
Decerto impreciso,
De algum modo’ meu.

Um sorriso alheio
Que só me foi dado
Por eu estar no meio
Do sorriso olhado:

Que me importa? A sorte
Dá o que acontece.
Tudo é sonho e morte.

Num sorriso esquece.
In: Poesia 1931-1935 e não datada . Assírio & Alvim,  2006

Mapa:: Wislawa Szymborska

Plano como a mesa na qual está colocado. Por baixo dele nada se move nem busca vazão. Sobre ele - meu hálito humano não cria vórt...