2 de ago. de 2018

Saudades da pátria! :: Marina Tsvetáieva

Saudades da pátria! Com esse mal
Há muito tempo que eu luto!
Para mim é absolutamente igual
Onde estar só em absoluto.
  
Quais cascalhos que eu arranhe
Arrastando o carrinho de feira
Para a casa, que me é de todo estranha –
Se hospital ou se caserna, como queira.
  
A mim é indiferente, qual o povo
Que há de ver em cativeiro
A leonina minha crespa cabeleira,
Ou me expulsar – de novo! –
  
Ao deserto dessa minha solidão.
Urso polar apartado do gelo
Onde não posso viver (e não faço questão!),
Tanto me faz – onde será o pesadelo.
  
Não me ilude o chamado longínquo
Da materna minha língua, que convida… –
Não me importa, em qual língua
Serei mal-compreendida.
  
(O leitor de jornais, o ouvinte
De notícias, fuçador de mexericos…)
Ele – é do século vinte,
E eu – de todo século abdico!
  
Como um tronco que a esmo
Vê na rua em seu redor passar a gente,
Para mim é indiferente, dá no mesmo –
E, talvez, de tudo o mais indiferente
  
Seja a pátria onde se acha.
Cada marca dela em mim que se esconde
Vou despir, de cima a baixo:
Eis a alma, que nasceu – tanto faz onde.
  
E eu também, para a pátria, tanto faço, –
De frente para trás, de trás para frente,
Investigue se encontra dela traço,
Inspetor, em minha alma indiferente!
  
Estranha é cada casa, vazios todos os templos, –
E tudo – indiferente, e tudo – igual.
Mas basta que um arbusto eu contemple, –
E da sorva me lembre – da terra natal…
  
1934
 
* * *
Тоска по родине! Давно
Разоблаченная морока!
Мне совершенно все равно —
Где — совершенно одинокой
Быть, по каким камням домой
Брести с кошелкою базарной
В дом, и не знающий, что — мой,
Как госпиталь или казарма.
Мне все равно, каких среди
Лиц ощетиниваться пленным
Львом, из какой людской среды
Быть вытесненной — непременно —
В себя, в единоличье чувств.
Камчатским медведем без льдины
Где не ужиться (и не тщусь!),
Где унижаться — мне едино.
Не обольщусь и языком
Родным, его призывом млечным.
Мне безразлично, на каком
Непонимаемой быть встречным!
(Читателем, газетных тонн
Глотателем, доильцем сплетен…)
Двадцатого столетья — он,
А я — до всякого столетья!
Остолбеневши, как бревно,
Оставшееся от аллеи,
Мне все — равны, мне всё — равно;
И, может быть, всего равнее —
Роднее бывшее — всего.
Все признаки с меня, все меты,
Все даты — как рукой сняло:
Душа, родившаяся — где-то.
Так край меня не уберег
Мой, что и самый зоркий сыщик
Вдоль всей души, всей — поперек!
Родимого пятна не сыщет!
Всяк дом мне чужд, всяк храм мне пуст,
И всё — равно, и всё — едино.
Но если по дороге — куст
Встает, особенно — рябина …
1934

Tradução André Nogueira 

30 de jul. de 2018

De dentro pra fora :: Inside Out :: Diane Wakoski


Ando o carpete roxo rumo ao seu olho
carregando a mantegueira de prata
mas um caminhão reverbera, passa,
deixando suas gravuras pretas de pneu no meu pé
e imagens antigas                      o som de portas de tela batendo em tardes
quentes e uma mosca zunindo sobre o suco em pó derramado
na pia
cintilam, como reflexos na superfície de metal.
Entre, você disse,
para dentro de suas pinturas, para dentro da fábrica de sangue, para dentro das
músicas antigas que delineam as suas mãos, para dentro de
olhos que se transmutam como um floco de neve a cada segundo,
para dentro de folhas de espinafre que escondem aquele único cascalho,
para dentro das barbas de um gato,
para dentro de seu antigo chapéu, e sobretudo para dentro de sua boca onde você
tritura pigmentos com sua arcada, pintando
com uma garrafa quebrada no chão, e pintando
com uma pena de avestruz na lua que rola da minha boca para fora.
Você não pode me deixar andar dentro de você muito tempo dentro
das veias onde os meus pés pequenos tocam
o fundo.
Você precisa alcançar lá dentro e me puxar
como uma bala de prata
do seu braço.
Tradução por Mariana Ruggieri
...
I walk the purple carpet into your eye
carrying the silver butter server
but a truck rumbles by,
leaving its black tire prints on my foot
and old images                  the sound of banging screen doors on hot
xxxx afternoons and a fly buzzing over the Kool-Aid spilled on
xxxx the sink
flicker, as reflections on the metal surface.
Come in, you said,
inside your paintings, inside the blood factory, inside the
old songs that line your hands, inside
eyes that change like a snowflake every second,
inside spinach leaves holding that one piece of gravel,
inside the whiskers of a cat,
inside your old hat, and most of all inside your mouth where you
grind the pigments with your teeth, painting
with a broken bottle on the floor, and painting
with an ostrich feather on the moon that rolls out of my mouth.
You cannot let me walk inside you too long inside
the veins where my small feet touch
bottom.
You must reach inside and pull me
like a silver bullet
from your arm.


Aos Namorados do Brasil :: Carlos Drummond de Andrade

Dai-me, Senhor, assistência técnica para eu falar aos namorados do Brasil. Será que namorado algum escuta alguém? Adianta falar a namorados?...