Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
31 de jul. de 2008
30 de jul. de 2008
26 de jul. de 2008
23 de jul. de 2008
Inteiramente
Canova Antonio Amore e Psiche, 1788-1793
Tenho desejo, tenho saudade de você - mas tamanha - que não encontro paz (hoje particularmente!) e penso somente em você. Não vou à parte alguma, caminho de um canto a outro, olho no seu armário vazio, nada pode ser mais triste do que a vida sem você. Não me esqueça, por Deus, amo-a um milhão de vezes mais que todos os outros postos juntos. Não me interessa ver ninguém, não tenho vontade de falar com ninguém a não ser com você. O dia mais lindo da minha vida será o da sua chegada. Ame-me, menina. Não se descuide, descanse, escreva se necessita de alguma coisa. Beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a, beijo-a beijo-a, beijo-a. Não me esqueça, querida, inteiramente seu.
Maiakovski
17 de jul. de 2008
Anjo - Madri
“ Os anjos não dão os ombros, não;
quando querem mostrar indiferença
os anjos dão as asas.”
Mário Quintana, in Caderno H
15 de jun. de 2008
12 de jun. de 2008
A cançãozinha do primeiro desejo
Na manhã verde,
queria ser coração.
Coração.
E na tarde madura
queria ser rouxinol.
Rouxinol.
(Alma,
põe-te cor de laranja.
Alma,
põe-te da cor do amor.)
Na manhã viva,
eu queria ser eu.
Coração.
E na tarde caída
queria ser minha voz.
Rouxinol.
Alma,
põe-te cor de laranja!
Alma,
põe-te da cor do amor!
Garcia Lorca
11 de mai. de 2008
Palavra
Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho...São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas... E então as revolvo, agito-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as... Deixo-as como estalactites em meu poema como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda... Tudo está na palavra... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que lhe obedeceu... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que se lhes foi agregado de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes... São antiqüíssimas e recentíssimas.
Pablo Neruda in Confesso que vivi
28 de abr. de 2008
Escolha
O mundo globalizado volta-se todo para o futuro. A vida imita a urgência das apostas antecipadas que cria as tais bolhas de não-riqueza do capital financeiro. A tecnologia aponta para a superação de todas as descobertas, que já nascem com os dias contados, fadadas à obsolescência. Chamamos de progresso a essa forma de vida breve das coisas, fruto do trabalho humano que envelhece tão rapidamente quanto elas.
O presente é uma partícula mínima de tempo, cada vez mais comprimida entre o que já foi e o que será. A rigor, pensem bem: o presente não existe. O futuro é um lugar gelado onde não vive ninguém, de onde só nos acenam promessas de velocidade. A depender das tecnociências hoje, no futuro nos deslocaremos ainda mais depressa, nos comunicaremos mais depressa, ganharemos e perderemos dinheiro mais depressa – e tentaremos envelhecer mais devagar.
O passado tornou-se o único terreno seguro onde a imaginação pode armar sua tenda e contemplar o mundo em relativa tranqüilidade. Na vida em retrospecto, todas as nossas escolhas teriam sido corretas. Teríamos sido abolicionistas no século XIX, modernistas nos anos 1920, resistentes antifascistas em 1930-40, opositores firmes contra as duas ditaduras brasileiras. O passado nos poupa da dimensão trágica da escolha.
Mas é no presente que o corpo está vivo. No presente é que se jogam os lances de dados do destino. Ele é tudo o que temos – e nos escapa.
Maria Rita Kelh
27 de abr. de 2008
Tempo da delicadeza
Todo o Sentimento
Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.
Chico Buarque
Chico Buarque
21 de abr. de 2008
Outoniza-te de Carlos Drummond de Andrade
Sou tua árvore-de-guarda e simbolizo teu outono pessoal. Quero apenas que te outonize com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons suaves...
Outoniza-se com dignidade, meu velho.
20 de abr. de 2008
Moto-contínuo :: Edu Lobo e Chico Buarque
Um homem pode ir ao fundo do fundo do fundo
se for por você
Um homem pode tapar os buracos do mundo
se for por você
Pode inventar qualquer mundo, como um vagabundo
se for por você
basta sonhar com você
Juntar o suco dos sonhos e encher um açude
se for por você
A fonte da juventude correndo nas bicas
se for por você
Bocas passando saúde com beijos nas bocas
se for por você
Homem também pode amar e abraçar e afagar seu ofício porquê
Vai habitar o edifício que faz pra você
E no aconchego da pele na pele, da carne na carne, entender
Que homem foi feito direito, do jeito que é feito o prazer
Homem constrói sete usinas usando a energia
que vem de você
Homem conduz a alegria que sai das turbinas
de volta a você
E cria o moto-contínuo da noite pro dia
se for por você
E quando um homem já está de partida, da curva da vida ele vê
Que o seu caminho não foi um caminho sozinho porquê
Sabe que um homem vai fundo e vai fundo e vai fundo
se for por você
Edu Lobo e Chico Buarque
se for por você
Um homem pode tapar os buracos do mundo
se for por você
Pode inventar qualquer mundo, como um vagabundo
se for por você
basta sonhar com você
Juntar o suco dos sonhos e encher um açude
se for por você
A fonte da juventude correndo nas bicas
se for por você
Bocas passando saúde com beijos nas bocas
se for por você
Homem também pode amar e abraçar e afagar seu ofício porquê
Vai habitar o edifício que faz pra você
E no aconchego da pele na pele, da carne na carne, entender
Que homem foi feito direito, do jeito que é feito o prazer
Homem constrói sete usinas usando a energia
que vem de você
Homem conduz a alegria que sai das turbinas
de volta a você
E cria o moto-contínuo da noite pro dia
se for por você
E quando um homem já está de partida, da curva da vida ele vê
Que o seu caminho não foi um caminho sozinho porquê
Sabe que um homem vai fundo e vai fundo e vai fundo
se for por você
Edu Lobo e Chico Buarque
16 de abr. de 2008
Escrever
Imagem: Tarsila do Amaral
(...) e vou definitivamente ao encontro de um mundo que está dentro de mim, eu que escrevo para me livrar da carga difícil de uma pessoa ser ela mesma.
Em cada palavra pulsa um coração. Escrever é tal procura de íntima veracidade de vida. Vida que me perturba e deixa o meu próprio coração trêmulo sofrendo a incalculável, dor que parece ser necessária ao meu amadurecimento —amadurecimento? Até agora vivi sem ele!
É. Mas parece que chegou o instante de aceitar em cheio a misteriosa vida dos que um dia vão morrer. Tenho que começar por aceitar-me e não sentir o horror punitivo de cada vez que eu caio, pois quando eu caio a raça humana em mim também cai. Aceitar-me plenamente? é uma violentação de minha vida. Cada mudança, cada projeto novo causa espanto: meu coração está espantado. É por isso que toda a minha palavra tem um coração onde circula sangue.
Tudo o que aqui escrevo é forjado no meu silêncio e na penumbra.
in UM SOPRO DE VIDA
Em cada palavra pulsa um coração. Escrever é tal procura de íntima veracidade de vida. Vida que me perturba e deixa o meu próprio coração trêmulo sofrendo a incalculável, dor que parece ser necessária ao meu amadurecimento —amadurecimento? Até agora vivi sem ele!
É. Mas parece que chegou o instante de aceitar em cheio a misteriosa vida dos que um dia vão morrer. Tenho que começar por aceitar-me e não sentir o horror punitivo de cada vez que eu caio, pois quando eu caio a raça humana em mim também cai. Aceitar-me plenamente? é uma violentação de minha vida. Cada mudança, cada projeto novo causa espanto: meu coração está espantado. É por isso que toda a minha palavra tem um coração onde circula sangue.
Tudo o que aqui escrevo é forjado no meu silêncio e na penumbra.
in UM SOPRO DE VIDA
14 de abr. de 2008
13 de abr. de 2008
6 de abr. de 2008
29 de mar. de 2008
Eu que me Aguente Comigo
foto: Clarinda
Vi sempre o mundo independentemente de mim.
Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,
Mas isso era outro mundo.
Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja.
Acima de tudo o mundo externo!
Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim.
Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterônimo de Fernando Pessoa
28 de mar. de 2008
18 de mar. de 2008
Visão do Paraíso
Se o amor na sua doação absoluta os faz mais frágeis,
ao mesmo tempo os protege como uma armadura.
Os apaixonados voltaram ao Jardim do Paraíso,
provaram da Árvore do Conhecimento
e agora sabem.
Lygia Fagundes Telles in: A disciplina do amor
11 de mar. de 2008
Três orquídeas :: Cecilia Meireles
As orquídeas do mosteiro fitam-me com seus
olhos roxos.
Elas são alvas, todas de pureza,
com uma leve mácula violácea para uma
pureza de sonho triste, um dia.
Que dia? que dia? dói-me a sua brevidade.
Ah! não vêem o mundo. Ah! não me vêem
como eu as vejo.
Se fossem de alabastro seriam mais amadas?
Mas eu amo o eterno e o efêmero e queria
fazer o efêmero eterno.
As três orquídeas brancas eu sonharia que
durassem,
com sua nervura humana,
seu colorido de veludo,
a graça leve do seu desenho,
o tênue caule de tão delicado verde.
Se elas não vêem o mundo, que o mundo as
visse.
Quem pode deixar de sentir sua beleza?
Antecipo-me em sofrer pelo seu
desaparecimento.
E paira sobre elas a gentileza igualmente frágil,
a gentileza floril
da mão que as trouxe para alegrar a minha
vida.
Durai, durai, flores como se estivésseis ainda
no jardim do mosteiro amado onde fostes
colhidas,
que escrevo para perdurardes em palavras,
pois desejaria que para sempre vos soubessem,
alvas, de olhos roxos (ah! cegos?)
com leves tristezas violáceas na brancura de
alabastro
2 de fev. de 2008
TODAS AS VIDAS :: CORA CORALINA
Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
- Enxerto de terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo ser alegre seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera das obscuras.
In: Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais, 1965
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
- Enxerto de terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo ser alegre seu triste fado.
Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera das obscuras.
In: Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais, 1965
1 de jan. de 2008
Humildade :: Cecília Meireles
Varre o chão de cócoras.
Humilde.
Vergada.
Adolescente anciã.
Na palha, no pó
seu velho sári inscreve
mensagens ao sol
com o tênue galão dourado.
Prata nas narinas,
nas orelhas,
nos dedos,
nos pulsos.
Pulseiras nos pés.
Uma pobreza resplandecente.
Toda negra:
frágil escultura de carvão.
Toda negra:
e cheia de centelhas.
Varre seu próprio rastro.
Apanha as folhas do jardim
aos punhados,
primeiro;
uma
por
uma
por fim.
Depois desaparece,
tímida,
como um pássaro numa árvore.
Recolhe à sombra
suas luzes:
ouro,
prata,
azul.
E seu negrume.
O dia entrando em noite.
A vida sendo morte.
O som virando silêncio.
in: Poesia Completa. Poemas Escritos na Índia
17 de jun. de 2007
Amizade :: Kafka
Entre muitas outras coisas,
tu eras para mim uma janela
através da qual podia ver as ruas.
Sozinho não o podia fazer.
Kafka em carta para um amigo
2 de jun. de 2007
1 de jun. de 2007
Raduan Nassar (27 de novembro de 1935, Pindorama, SP )
“... rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua corrente, estando aberto para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira; o equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é.”
Lavoura Arcaica
31 de mai. de 2007
Turista Acidental :: Affonso Romano de Sant'Anna
Fui fotografado à minha revelia,
em frente a um templo egípcio
no Metropolitan Museum de Nova York.
À minha revelia,de novo, fotografado fui
na 5a.Avenida às três e meia da tarde.
Assim, um sem- número de vezes
em frente ao Coliseu,
nas ruínas de Machu Pichu,
perto da Torre de Londres,
junto à Catedral de Colônia,
sobre as pedras da Acrópole ,em Atenas,
nas mesquitas de Istambul
e, evidente, em Juiz de Fora.
Guardado estou
em álbuns
japoneses, italianos,americanos,alemães, franceses
argentinos, senegaleses,
disperso
desatento
como se aquele corpo
não fosse meu.
Quando mostram as fotos aos parentes e vizinhos
sou pedra-porta-árvore-sombra-paisagem.
Ninguém, reunindo as fotos, perguntará:
-Quem é este constante figurante
no flagrante do alheio instante?
Disperso-dispersivo estou.
Que álbum conterá a unidade perdida
revelada do negativo
perambulante que sou?
em frente a um templo egípcio
no Metropolitan Museum de Nova York.
À minha revelia,de novo, fotografado fui
na 5a.Avenida às três e meia da tarde.
Assim, um sem- número de vezes
em frente ao Coliseu,
nas ruínas de Machu Pichu,
perto da Torre de Londres,
junto à Catedral de Colônia,
sobre as pedras da Acrópole ,em Atenas,
nas mesquitas de Istambul
e, evidente, em Juiz de Fora.
Guardado estou
em álbuns
japoneses, italianos,americanos,alemães, franceses
argentinos, senegaleses,
disperso
desatento
como se aquele corpo
não fosse meu.
Quando mostram as fotos aos parentes e vizinhos
sou pedra-porta-árvore-sombra-paisagem.
Ninguém, reunindo as fotos, perguntará:
-Quem é este constante figurante
no flagrante do alheio instante?
Disperso-dispersivo estou.
Que álbum conterá a unidade perdida
revelada do negativo
perambulante que sou?
24 de mai. de 2007
ME TENS EM TUAS MÃOS:: JAIME SABINES (1926-1999) Tuxtla Gutiérrez, México
Me tens em tuas mãos
e me lês tal como um livro.
Sabes o que ignoro
e me dizes coisas que não me digo.
Aprendo em ti mais que em mim mesmo.
És como um milagre de todas as horas,
como uma dor sem lugar.
Se não fosses mulher serias meu amigo.
Às vezes quero falar-te de mulheres
que a um lado teu persigo.
És como o perdão
e eu sou como teu filho.
Que bons olhos tens quando estás comigo?
Que distante te colocas e que ausente
quando à solidão te sacrifico!
Doce como teu nome, como um figo,
me esperas em teu amor até que arrimo.
És como minha casa,
és como minha morte, meu amor.
ME TIENES EN TUS MANOS
Me tienes en tus manos
y me lees lo mismo que un libro.
Sabes lo que yo ignoro
y me dices las cosas que no me digo.
Me aprendo en ti más que en mi mismo.
Eres como un milagro de todas horas,
como un dolor sin sitio.
Si no fueras mujer fueras mi amigo.
A veces quiero hablarte de mujeres
que a un lado tuyo persigo.
Eres como el perdón
y yo soy como tu hijo.
¿Qué buenos ojos tienes cuando estás conmigo?
¡Qué distante te haces y qué ausente
cuando a la soledad te sacrifico!
Dulce como tu nombre, como un higo,
me esperas en tu amor hasta que arribo.
Tú eres como mi casa,
eres como mi muerte, amor mío.
e me lês tal como um livro.
Sabes o que ignoro
e me dizes coisas que não me digo.
Aprendo em ti mais que em mim mesmo.
És como um milagre de todas as horas,
como uma dor sem lugar.
Se não fosses mulher serias meu amigo.
Às vezes quero falar-te de mulheres
que a um lado teu persigo.
És como o perdão
e eu sou como teu filho.
Que bons olhos tens quando estás comigo?
Que distante te colocas e que ausente
quando à solidão te sacrifico!
Doce como teu nome, como um figo,
me esperas em teu amor até que arrimo.
És como minha casa,
és como minha morte, meu amor.
ME TIENES EN TUS MANOS
Me tienes en tus manos
y me lees lo mismo que un libro.
Sabes lo que yo ignoro
y me dices las cosas que no me digo.
Me aprendo en ti más que en mi mismo.
Eres como un milagro de todas horas,
como un dolor sin sitio.
Si no fueras mujer fueras mi amigo.
A veces quiero hablarte de mujeres
que a un lado tuyo persigo.
Eres como el perdón
y yo soy como tu hijo.
¿Qué buenos ojos tienes cuando estás conmigo?
¡Qué distante te haces y qué ausente
cuando a la soledad te sacrifico!
Dulce como tu nombre, como un higo,
me esperas en tu amor hasta que arribo.
Tú eres como mi casa,
eres como mi muerte, amor mío.
20 de mai. de 2007
Às vezes tenho ideias, felizes :: (Álvaro de Campos) Fernando Pessoa.
Às vezes tenho ideias, felizes,
Ideias subitamente felizes, em ideias
E nas palavras em que naturalmente se despejam...
Depois de escrever, leio...
Porque escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...
18-12-1934
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).
19 de mai. de 2007
18 de mai. de 2007
Paralelepípedro :: Pedro Américo
pedregulho entre pedreiras
rolando penhasco abaixo
cresci pedra por ladeiras
açudes, roças e rios
fui trempe para fogueiras
sofri febres, calafrios
senti no couro chibatas
meus ais viraram assobios
sonhei sonhos em cascatas
neles cacei capivaras
vivi com nefelibatas
habitando nuvens raras
caí que nem bendengó
amassando algumas caras
mas hoje sou pedra-mó
Amor que serena, termina? Juan Gelman (1930 - 2014)
Amor que serena, termina?
começa? que nova
velhice o espera para viver?
qual fulgor? amor surgindo
de si mesmo a si mesmo sendo
também memória de si
comendo
de si, que velha
sombra chupará sua nuca? Oh pestes
que visitaram meu país
atacaram se foram
alheias como o vento
Tradução de Eric Nepomuceno. Record, 2001.
13 de mai. de 2007
Negócio :: Noemi Jaffe
Sabe quando você se espreme, comprime a barriga e se afina ao máximo para passar por um lugar bem apertado? então. nessas horas você raspa nos lugares ou pessoas que ocupam o espaço por onde você precisa passar. você é obrigado a adotar uma postura, uma largura, uma posição no espaço a que não está habituado. você não está nem aqui nem lá, mas num espaço intermediário, mais difícil, complicado, mas com algo de desafiador, divertido, delicado. então. é isso aí o negócio.
9 de mai. de 2007
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Os dias felizes :: Cecília Meireles
Fernando Igor Os dias felizes estão entre as árvores, como os pássaros: viajam nas nuvens, correm nas águas, desmancham-se na areia. Todas...

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Tem de haver mais Agora o verão se foi E poderia nunca ter vindo. No sol está quente. Mas tem de haver mais. Tudo aconteceu, Tu...
-
A ilha da Madeira foi descoberta no séc. XV e julga-se que os bordados começaram desde logo a ser produzidos pel...