Era tão claro o dia, mas a treva,
Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
25 de jan. de 2025
Carlos Drummond de Andrade:: Relógio do Rosário
14 de jan. de 2025
REI MENINO :: Marcílio Godoi
No galho mais firme da goiabeira
ergo meu trono de Rei menino.
Pássaros ressoam-me trombetas triunfantes
enquanto tatus-bolas passam-me a guarda imperial.
Galhadas insinuantes ao vento coroam-me
com louros perfumados de doce de tacho
e oferecem-me de bandeja deliciosos frutos
verdes, pois que os maduros têm bicho.
Corto a flor das ramagens e condecoro-me
nobre guerreiro a mim mesmo.
Afinal, os dragões brancos dos frutos maduros
foram todos dizimados pela minha ousada política
de antecipação da colheita.
Sob a copa de meu castelo
dois bambus estirados num arame
esvoaçam seus panos à minha glória
bandeira, capa, espada e lança
da minha insigne última batalha
contra os feudos vizinhos de além muro.
Do honroso combate hercúleo
resultaram muitas baixas
mas agora tudo está em paz
no Reino da Goiabas Verdes...
Esperem, ainda não!
Atrás dos manacás da cerca viva
espreitam-me outra vez
os malditos carrapatos
espalhados em minas de carrapichos
por todo o terreno!
Com meu vasto arsenal de mamonas,
entretanto, com alto poder
de destruição em massa
resistirei bravamente, em posição de sentido
até a morte, se preciso for!
Alto lá! por motivo de força maior
missão abortada, atenção!
Descansar, súditos!
Uma ordem, de repente, nos detém a todos:
Lição de casa, volver!
7 de jan. de 2025
O gato e o pássaro :: Jacques Prévert
O gato e o pássaro
Uma cidade escuta desolada
O canto de um pássaro ferido
É o único pássaro da cidade
E foi o único gato da cidade
Que o devorou pela metade
E o pássaro deixa de cantar
E o gato deixa de ronronar
E de lamber o focinho
E a cidade prepara para o pássaro
Funerais maravilhosos
E o gato que foi convidado
Segue o caixãozinho de palha
Em que deitado está o pássaro morto
Levado por uma menina
Que não pára de chorar
Se soubesse que você ia sofrer tanto
Lhe diz o gato
Teria comido ele todinho
E depois teria te dito
Que tinha visto ele voar
Voar até o fim do mundo
Lá onde o longe é tão longe
Que de lá não se volta mais
Você teria sofrido menos
Só tristeza e saudades
É preciso nunca fazer as coisas pela metade.
Imagem pixabay
29 de dez. de 2024
A CERCA, O CÓRREGO :: Marcílio Godoi
Quando falava de suas poucas reservas, de saúde e de dinheiro, meu velho pai dizia, “talvez dê pra chegar com a cerca no córrego!”. Desde sempre era isso, e a gente assim, nesse mistério, que cerca é essa? Que córrego é esse, meu deus?
Agora me encontro na mesma idade em que ele andava pela casa dizendo coisas como “cumê mais pôco, cumê mais pôco!”. E, claro, essa eterna indefectível e um tanto indecifrável imagem da cerca chegando lá embaixo, no córrego, que eu adoro.
O tempo me tirou muita coisa, devo reconhecer, mas com outras ele generosamente me presenteou. Saber fluentemente a língua do seu Marciano foi uma delas.
Não gosto de explicar imagem nenhuma a ninguém, traduzir é trair, pois que, como na poesia, se explicar, “trapaia tudo”. Mas hoje minha médica me deu o diagnóstico dela sobre o sopro que tenho no coração — sim, além de cabelos, perdi colágeno e elastina.
Ela analisou os meus exames e proferiu o veredito: você “renovou o seu visto para mais uma temporada”. Fiquei feliz com a imagem alvissareira. E respondi: Quer dizer então que eu vou chegar com a cerca no córrego? — Então ela respondeu: Oi?
Aí tive que explicar a ela a metáfora do velho, que a cerca são os paus e o arame que a gente vai gastando para delimitar nossa passagem por aqui. Uma figura simples, trazida do léxico sertanejo, do fazer e do trazer que compõe a vida propriamente dita. Sendo o córrego, sua divisa, seu limite, ou, por assim dizer, a morte mesmo. Sendo que, finalizei, sobre o outro lado do córrego, nada se pode dizer.
No idioma marciano, Dra. Fernanda, chegar com a cerca no córrego é isso: humildemente fazer empatar nossos recursos com nossa existência, uma espécie de realização, de prodígio, que justifica, ao final, a nossa passagem por aqui.
Há uma certa dignidade em se poder dizer isso, não é mesmo? É como afirmar, senão a consagração, ao menos o cumprimento daquilo que foi acertado ao nascer: não deixar que falte pau nem arame ainda se estando muito longe do córrego da morte. Os gregos não têm o Aqueronte, rio que leva ao Hades, o reino dos mortos? Pois então.
Ela sorriu, gostou de ouvir meu pequeno devaneio de sobrevivente. Agora, enquanto escrevo, é que me dou conta, final de ano, a gente sempre fica meio bobo, né? E fica imaginando essas coisas, teremos estoque para mais uma jornada na terra? Estaremos bem aqui, esticando arame, fincando nossas modestas estacas no chão do agora?
Tudo isso lembra um pouco a feliz imagem do pau e da pedra no fim do caminho, do resto de toco um pouco sozinho que o Jobim magistralmente nos legou em Águas de Março.
Feliz 2025 pra você, doutora, obrigado por carimbar meu visto!
27 de dez. de 2024
23 de dez. de 2024
21 de dez. de 2024
SIMPLEX : Marcílio Godoi
A beleza, que é a parte mais sublime da arte, é filha mais velha da simplicidade. Sejamos dessa linhagem: simples. Foi sendo simples que Colombo prendeu a respiração e colocou o ovo em pé. Foi sendo simples que Tom fez o Samba de uma nota só, foi sendo simples que Pelé driblou Mazurkiewicz sem tocar na bola, foi sendo simples que Miles Davis colocou surdina num trumpete, foi sendo simples que Drummond parou. Bem No meio do caminho.
Foi sendo assustadoramente simples que Aníbal Augusto Sardinha compôs Gente Humilde e assinou, simplesmente, "Garoto". Foi sendo simples que Gentil Cardoso, primeiro técnico de Garrincha, resumiu toda a questão futebolística: "Se a bola é feita de couro, se o couro vem da vaca e se a vaca come capim, então rola a bola na grama!".
Foi sendo simples que Pixinguinha e Braguinha fizeram Carinhoso, e Ravel compôs seu indescritível Bolero. Foi sendo drasticamente simples que Cartola e Dorival Caymmi tornaram-se simplesmente Cartola e Dorival Caymmi. "Eu vim de lá pequenininho", garantiu precisa dona Ivone Lara.
Belchior disse "me abrace e me beije bem devagar". Caetano disse "Tempo, tempo, tempo", e Gil disse só "Tempo rei", todos acometidos de vertiginosa simplicidade. E foi também de modo muito simples que, sem ser simplório, meu pai, seu Marciano, cunhou a frase lapidar, passando um cafezinho: "a melhor maneira docê não resolver um problema é ômentá bastante ele".
Sigamos simples. Como? Ora, aguando uma planta, costurando uma meia, apagando as luzes que você não é sócio da Light, cozinhando o feijão e requentando o mexido. Cumprindo os contratos dentro do que deles é possível ainda cumprir, girando suficientemente os pratinhos chineses da felicidade estampada quando eles dão aquela entortada na haste nos avisando que estão prestes a cair.
Fique simples. Não trivial, elementar, ma naturalmente Simples. Não banal, tosco, rude, simplezinho. Não. Simples. Simples com a imensa complexidade do poeta cubano Silvio Rodrigues, cantando “como el musguito en la piedra, si, si, si”.
Não diga nada. O que, em si, repara, é algo extraordinário, o melhor começo para a simpatia, o silêncio. E, o que pode ser ainda mais simples do que dizer Bom dia, simplesmente sorria. E só. E pronto. Sem encher o saco de ninguém.
Vigie, preserve bravamente a simplicidade, que é a alma dos puros, a arma fria dos imperturbáveis e o segredo dos amantes. Lute por ela. Vivamos com o orgulho mais austero, com a vaidade no modo mais espartano, a imodéstia no osso mesmo da existência, o hedonismo na conta do chá: café com leite, pão com manteiga; água de bilha em copo lagoinha, simples assim.
Rode em baixa resolução, carregue a partícula pixel do ar lentamente, ouvindo a sua própria respiração como se estivesse num mergulho com cilindro. Sobreviva, sóbrio e de pé, mãos espalmadas, quase nu, despojado de tudo, olhando no outro e sabendo com ele agora o momento mais doido e doído desse nosso Planeta.
Nessa crise, eu garanto a você, vai por mim: chão de terra batida, parede caiada. Estar vivo e razoavelmente lúcido sem revestimentos é muito mais legal do que ser feliz, essa abstração um tanto confusa e pretensiosa, coisa feita para tempos menos duros.
Pilriteiro, abronceiro, branca-espinha, cambrulheiro, combroeiro, corníolo, escalheiro, escambrulheiro, estrapoeiro, estrepeiro, pilrito, pirliteiro. Esta espécie, também conhecido como espinha-branca, espinheiro-alvar, espinheiro-branco, espinheiro-ordinário,
Em Portugal, o pilriteiro é também conhecido como abronceiro, branca-espinha, cambrulheiro, combroeiro, corníolo, escalheiro, escambrulheiro, estrapoeiro, estrepeiro, pilrito, pirliteiro.
Esta espécie, também conhecido como espinha-branca, espinheiro-alvar, espinheiro-branco, espinheiro-ordinário, por ter espinhos longos e aguçados que surgem axilas das folhas
Crataegus monogyna
Crataegus monogyna
Classificação científica
Reino: Plantae
Clado: angiospérmicas
Clado: eudicotiledóneas
Clado: rosídeas
Ordem: Rosales
Família: Rosaceae
Género: Crataegus
Espécie: C. monogyna
Nome binomial
Crataegus monogyna
Jacq.
A designação científica desta espécie deve-se à robustez da planta, em particular da sua madeira, e ao facto de as suas flores terem apenas um pistilo. O nome do género crataegus provém do grego krataios – que significa forte, robusto e monogyna deriva também do grego mono- (único) e de –gyne (feminino), que significa “flor com apenas 1 pistilo”. O pistilo é a parte feminina de uma flor.
Ele é de facto bastante resistente e robusto e pode viver até 500 anos de idade.
Na Grécia antiga simbolizava esperança no amor e felicidade conjugal. Anualmente, em Maio, mês da purificação, os casais ofereciam ramos floridos de pilriteiro à Deusa Maia como forma de agradecimento. Segundo a mitologia romana, consta que o cabo da lança de Rómulo era feito de madeira desta planta. A cultura Celta também reconhecia o seu valor sagrado e era tradição pedir-lhe autorização antes de lhe cortar um ramo.
No Cristianismo, diz-se que a coroa de espinhos de Jesus era composta por ramos de pilriteiro. Daí que em muitas regiões portuguesas seja tradição que se coloquem ramos desta planta nas portas, do lado de fora das casas, para proteção em dias de tempestade e de trovoada, para defender e proteger os seus moradores e os seus bens, pois diz-se que tudo aquilo que tocou Cristo nos protege.
Fonte: wikipedia
CASA EXAUSTA :: Marcílio Godoi
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