Tiramos o sábado pra trocar umas lâmpadas
fazer pequenos reparos pela casa
as torneiras com coriza
e a instalação de bienal
em nossos armários.
Tiramos o sábado pra passar
ramos de faxina pela casa toda
acariciar cada canto de sua planta
com a planta bassoura enfeixada
trocando o pó e o mofo
por perfume de lavanda e alecrim.
Tiramos o sábado pra ajeitar
o depósito, o quartinho,
como é carinhosamente chamado
por todos lá de casa
talvez pra compensar o descuido
com que o inoperamos.
Tiramos o sábado pra fazer
respirar sótão e porão,
massageando-lhes o coração
suas caixas adiadas
suas teias, traças e ratos
seus contratos imemoriais
inexoravelmente vencidos.
Tiramos o sábado inteiro
pra retocar o grelado da parede
atrás dos livros, meio úmidos,
dos documentos desguarnecidos
e aparar o mato que já cobria as janelas
tornando sem sol as páginas
de nossas manhãs.
Sábado passado, tiramos
o abandono e o dia todo
em pequenos gestos
as mãos no trabalho de súplica
fazendo um apelo à casa,
como imploramos ao País,
que nunca desista de nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário