Sonham as pulgas em comprar um cão como sonham os Ninguéns em sair da pobreza: que em algum dia mágico a boa sorte chova de repente, que caia a diluviar a boa sorte; mas não chove boa sorte nem ontem e nem hoje, nem amanhã e nem nunca, nem chuviscando ela cai do céu, por mais que peçam os Ninguéns, até mesmo se lhes coça a mão esquerda, ou se levantam com o pé direito, ou começam o ano trocando de vassoura.
Os Ninguéns: filhos de ninguém, donos de nada.
Os Ninguéns: os nenhuns, os ningueneados, a correr atrás da lebre, a morrer a vida, fodidos e refodidos:
Que não são, mesmo sendo.
Que não falam idiomas, e sim dialetos.
Que não professam religiões, mas superstições.
Que não fazem arte, e sim artesanato.
Que não praticam cultura, e sim folclore.
Que não são seres humanos, e sim recursos humanos.
Que não têm rosto, mas braços.
Que não têm nome, mas número.
Que não estão na história universal, mas na crônica avermelhada da imprensa local.
Os Ninguéns, que custam menos que a bala que os mata.
Tradução: Roy Sollon
.....
Los nadies
SUEÑAN las pulgas con comprarse un perro y sueñan los nadies con salir de pobres, que algún mágico día llueva de pronto la buena suerte, que llueva a cántaros la buena suerte; pero la buena suerte no llueve ayer, ni hoy, ni mañana, ni nunca, ni en lloviznita cae del cielo la buena suerte, por mucho que los nadies la llamen y aunque les pique la mano izquierda, o se levanten con el pie dere-cho, o empiecen el año cambiando de escoba.
Los nadies: los hijos de nadie, los dueños de nada.
Los nadies: los ningunos, los ninguneados, corriendo la liebre, muriendo la vida, jodidos, rejodidos:
Que no son, aunque sean.
Que no hablan idiomas, sino dialectos.
Que no profesan religiones, sino supersticiones.
Que no hacen arte, sino artesanía.
Que no practican cultura, sino folklore.
Que no son seres humanos, sino recursos humanos.
Que no tienen cara, sino brazos.
Que no tienen nombre, sino número.
Que no figuran en la historia universal, sino en la crónica roja de la prensa local.
Los nadies, que cuestan menos que la bala que los mata.
Eduardo Galeano, Los nadies, El libro de los abrazos (1989).
Nenhum comentário:
Postar um comentário