17 de nov. de 2013

Renda Nhanduti ou Renda Sol ou Tenerife


















Nhanduti é uma espécie de tecelagem, uma maneira de tecer.
Nhanduti, na linguagem indígena, significa teia de aranha, é também conhecida como “Tenerife”, “Rosas de Tenerife”, “Rosetas de Vilaflor” ou ainda “Renda Sol”, pois sua forma radial lembra o formato do astro rei.
Há uma lenda indígena que conta a triste história de uma jovem cujo noivo desapareceu no dia do casamento. Ela encontrou seu amado morto por uma onça. Após passar a noite ao lado do corpo do amado, descobre que ele está envolvido por um belo manto de teia de aranha. A indiazinha tece a mortalha do noivo copiando o trabalho da aranha. Assim surgiu o nhanduti.
Essa renda é conhecida em todo o mundo, mas é possível que tenha nascido na Espanha por volta do século dezesseis e daí trazida para as Américas através das Ilhas Canárias, porto de trânsito para os navegadores espanhóis.
Ainda hoje, há artesãs que se dedicam às rendas de agulhas em Vilaflor de Chasna, localidade da paradisíaca Ilha de Tenerife, a maior das Ilhas Canárias, terra natal do padre José de Anchieta.
No Brasil, a renda surgiu logo após a guerra do Paraguai, quando soldados brasileiros voltaram ao nosso país acompanhados de mulheres paraguaias conhecedoras dessa técnica.

"...Com o nome "soles brasileños" eram feitos na França no século passado trabalhos muito semelhantes às rosas canárias: foram importados do Brasil onde haviam chegado provenientes da Espanha, depois de passar por México, Filipinas e Porto Rico."

Extraído do texto "Artes textiles canarias" de Ma.Ángeles Gonzáles Mena y Ma Pilar Ramos Munoz (Revista Narria: Estudios de Artes y Costumbres Populares, Universidad Autónoma de Madrid, nº 18, 1980)

Aos leitores amigos :: Goethe

Raphael, 1509-1511

Poetas não podem calar-se,
Querem às turbas mostrar-se.
Há de haver louvores, censuras!
Quem vai confessar-se em prosa?
Mas abrimo-nos sob rosa
No calmo bosque das musas.

Quanto errei, quanto vivi,
Quanto aspirei e sofri,
Só flores num ramo - aí estão;
E a velhice e a juventude,
E o erro e a virtude
Ficam bem numa canção.

Amarilis, Açucena, Flor-da-imperatriz.










Nome popular: Amarílis; Açucena, Flor-da-imperatriz.
Nome científico: Hippeastrum hybridum.
Família:Amaryllidaceae.
Origem: Peru.

A Amarílis é uma planta herbácea, fruto de inúmeras hibridações feitas na Holanda. Seu cultivo em vasos é muito popular em todo o mundo. Possui flores muito vistosas, com folhagem que pode ou não desaparecer no inverno.

A Amarílis cresce melhor em temperaturas medianas, mas em temperaturas mais baixas a floração é prolongada. Quando a planta estiver em pleno crescimento das folhas, mantenha ela em um local muito bem iluminado, com bastante sol direto.
Tanto o solo dos vasos como dos canteiros deve ser fértil, bem drenado e irrigado periodicamente, mas deixe os primeiros 2 cm de solo secarem antes de regá-la novamente. Regas em excesso podem levar ao apodrecimento da planta.
Pode ser multiplicada principalmente pela divisão de bulbos. Anualmente, a planta forma bulbos quando envelhecem. Multiplicam-se facilmente por bulbos, os quais devem ser separados da planta-mãe após o desaparecimento da folhagem.


16 de nov. de 2013

A palavra foi feita para dizer de Graciliano Ramos


Kathy Jennings

Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.

Graciliano Ramos em entrevista concedida em 1948, Casa de Graciliano Ramos, Palmeira dos Índios.

15 de nov. de 2013

É sempre chuva de Mia Couto


Acendemos paixões no rastilho do próprio coração. O que amamos é sempre chuva, entre o voo da nuvem e a prisão do charco. Afinal, somos caçadores que a si mesmo se azagaiam. No arremesso certeiro vai sempre um pouco de quem dispara.
fonte: Cada homem é uma raça. Caminho, Lisboa. 1990

14 de nov. de 2013

O chão é a grande pergunta - Nuno Ramos


Angela Doelling
O chão é a grande pergunta
haver chão
se tudo voa
e quer cantar.

Haver morte e poeira
cobrindo os lábios carnudos
e gozo
nos fios dos cabelos mortos.

Voltar quando partir
parece o impulso da bússola
parece o recado da ave
parece a cartilha do sopro.

RAMOS, Nuno.  Junco.  São Paulo: Iluminuras, 2011.  118 p. 

13 de nov. de 2013

Marina Terauds



















As armadilhas do tempo - Eduardo Galeano


Sentada de cócoras na cama, ela olhou-o longamente, percorreu seu corpo nu da cabeça aos pés, como se estudasse as sardas e os poros, e disse:
- A única coisa que eu mudaria em você é o endereço.
E a partir de então viveram juntos, foram juntos, se divertiam brigando pelo jornal no café-da-manhã, e cozinhavam inventando e dormiam feito um nó.
Agora este homem, mutilado dela, quer recordá-la como era. Como era qualquer uma das que ela era, cada uma com sua própria graça e seu próprio poderio, porque aquela mulher tinha o espantoso costume de nascer com frequência.
Mas não. A memória se nega. A memória não quer devolver a ele nada além desse corpo gelado onde ela não estava, esse corpo vazio das muitas mulheres que ela foi.


Bocas do tempo.  L&PM, 2012

12 de nov. de 2013

Curcuma alismatifolia, Açafrão-da-conchinchina, Tulipa, Tulipa-do-sião









Família: Zingiberaceae
Categoria: Bulbosas, Flores Perenes
Clima: Equatorial, Oceânico, Subtropical, Tropical
Origem: Ásia, China, Vietnã
Altura: 0.4 a 0.6 metros, 0.6 a 0.9 metros
Luminosidade: Meia Sombra
Ciclo de Vida: Perene
O açafrão-da-conchinchina é uma planta herbácea, de folhagem e floração decorativos. Ela apresenta porte ereto e baixo, alcançando cerca de 40 a 60 cm de altura. Suas folhas são largas, verdes, lisas e de nervura central marcada e arroxeada. A inflorescência única e terminal, surge no verão e é do tipo espiga. Ela é sustentada por um longo e rígido escapo floral, acima da folhagem. As flores são pequenas e liláses e protegidas na parte inferior por brácteas verdes e discretas e na parte superior por vistosas brácteas róseas, brancas, azuladas ou avermelhadas, de acordo com a variedade.

O açafrão-da-conchinchina têm grande potencial como flor-de-corte e como planta envasada. No entanto ela também pode enriquecer canteiros e maciços, dando um toque de sofisticação e delicadeza. Ela mistura a nobreza de uma tulipa com a graça das plantas tropicais.

Deve ser cultivada sob sol pleno ou meia-sombra em solo fértil, drenável, enriquecido com matéria orgânica e irrigado regularmente. Aprecia o clima ameno, mas não tolera geadas. Multiplica-se por divisão dos rizomas separados após a floração e replantados na primavera.

Aula de Português de Carlos Drummond de Andrade

Chagall

A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender. A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, equipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.

11 de nov. de 2013

Livia Garcia Roza

Fernand Khnopff
Tenho no olhar um outro dia.

Sucupira-do-cerrado, Sucupira-preto, sucupira-açu cutiúba, sapupira-do-campo, sepifirme, sucupira-amarela, sucupira-da-praia, sebepira, paricarana, acari-açu.






Bowdichia virgilioides
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Fabales
Família: Fabaceae
Subfamília: Faboideae
Género: Bowdichia
Nome binomial
Bowdichia virgilioides
Kunth 1823
O sucupira-preto (Bowdichia virgilioides Kunth) é uma árvore nativa do Brasil, Bolívia, Paraguai, Venezuela e Guiana.

Foram descritas as seguintes variedades da espécie:

Bowdichia virgilioides fo. ferruginea (Vogel) Yakovlev, 1972;
Bowdichia virgilioides var. ferruginea (Vogel) Benth., 1862;
Bowdichia virgilioides var. glabrata Benth., 1862;
Bowdichia virgilioides fo. major (Mart.) Yakovlev, 1972;
Bowdichia virgilioides var. pubescens (Benth.) Benth., 1862;
Bowdichia virgilioides var. tomentosa Pilg., 1901;
Bowdichia virgilioides fo. villosa Yakovlev, 1972.
A espécie consta na lista de ameaçadas do estado de São Paulo.

Altura de 8 a 16 m, tronco com 30–50 cm de diâmetro.
Folhas compostas pinadas com folíolos pubescentes.
Flores violeta, em panículas terminais. A árvore florida é muito ormanental.
Os frutos são vagens pequenas, achatadas, indeiscentes, com mais de uma semente cada. Este fato distingue a espécie da sucupira (Pterodon emarginatus), cujo fruto contém apenas uma semente, com propriedades medicinais.
É planta pioneira, nativa de terrenos secos e pobres, decídua, heliófita, xerófita. Sua dispersão é uniforme, mas em baixa densidade, tanto em formações primárias quanto secundárias.
Floresce em agosto-setembro e os frutos amadurecem a partir de outubro até dezembro (outro fator que a distingue da P. emarginatus).
O desenvolvimento das plantas no campo é lento.
No cerrado do Pará, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
A madeira é usada em assoalhos, portas e acabamentos internos.
Embora seja citada na Pharmacopeia Brasileira de 1929 como tendo sua casca usada na obtenção de extrato fluido e tintura (tintura de sucupira), e a Universidade Federal do Maranhão refira a tintura de sucupira (Bavichia vergilioides no artigo, que se deve corrigir para Bowdichia virgilioides), como analgésico nos casos de reumatismo e artrose,2 estudos mais recentes indicam a Pterodon emarginatus como sendo a sucupira medicinal, usada na tratamento de reumatismo, diabetes3 e na profilaxia da esquistossomose.4

Outras vozes de Ana Luísa Amaral

Fechar os olhos e por dentro ecoar em passado.
Pensar «podia ter outra cor de pele, outra pelagem»
E o tempo virar-se do avesso, e entrar-se ali,
em vórtice, pelo tempo dentro.
Escolher.

Trazer cota de malha e de salitre,
ter chorado quando o porto ao longe se afastara,
milhares de milhas antes,
meses em sobressalto para trás.

As febres e tremuras durante a travessia,
a água amarga, as noites
carregadas de estrelas,
junto ao balanço do navio, um astrolábio.

Numa manhã de sol, do porto de vigia,
ver muito ao fundo, em doce oval,
a linha, quase tão longínqua como constelação.
Gritar «terra», gritar aos companheiros
ao fundo do navio, do fundo dos pulmões gritar,
e o bote depois, os remos largos,
a cama de areia e o arvoredo.

Ou trazer na cabeça penas coloridas,
conhecer só a fundo a areia branca
e o mar sem fundo, peixes pescados ao sabor dos dias,
uma língua a servir de subir a palmeiras,
a servir de caçar e contar histórias.

Moldar um arpão, começar por um osso
ou pedra e madeira,
entrelaçar o corpo da madeira, e o afiado da extremidade.
Contemplar devagar o resultado do trabalho
e da espera.
Ou a beleza. Escolher.

Trazer o fogo na mão, escondido pela pólvora,
fazer o fogo na orla da floresta.
Os risos das crianças, tocar a areia branca, tocar
a outra pele. Cruel,
o medo, vacilar entre a fome e o medo.
Ou não esco1her.

As penas coloridas sobre um elmo,
a cota de malha lançada pelo ar como uma seta,
os sons dos pássaros sobre a cabeça,
imitar os seus sons,
num lago de água doce limpar corpo e
pecados de imaginação,
sentir a noite dentro da noite,
a pele junto da pele,
imaginar um sítio sem idade.

Trocar o fogo escondido pelo fogo alerta,
o arpão pelo braço que se estende,
gritar «eis-me, vida»,
sem ouro ou pratas.
Com a prata moldar um anel
e uma bola de fogo a fingir,
e do fogo desperto fazer uma ponte a estender-se
à palmeira mais alta.

Esquecer-se do estandarte no navio,
depois partir da areia branca, nadar até ao navio,
as penas coloridas junto a si,
trazer de novo o estandarte e desmembrá-lo.
Fazer uma vela, enfeitá-la de penas,
derretidos que foram, entretanto,
sob a fogueira alta e várias noites,
elmo e cota de malha.

Serão eles a dar firmeza ao suporte da vela,
um barco novo habitado de peixes
brilhantes como estrelas.

Não eleger nem mar, nem horizonte.
E embarcar sem mapa até ao fim
do escuro.


10 de nov. de 2013

Jardineiro de Rubem Alves


O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem.
In: Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação.  Loyola, 1999. p. 24

Aos Namorados do Brasil :: Carlos Drummond de Andrade

Dai-me, Senhor, assistência técnica para eu falar aos namorados do Brasil. Será que namorado algum escuta alguém? Adianta falar a namorados?...