5 de dez. de 2010

Quem Me Mandou a Mim Querer Perceber?


Como quem num dia de Verão abre a porta de casa 
E espreita para o calor dos campos com a cara toda, 
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa 
Na cara dos meus sentidos, 
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber 
Não sei bem como nem o quê... 
Mas quem me mandou a mim querer perceber? 
Quem me disse que havia que perceber? 
Quando o Verão me passa pela cara 
A mão leve e quente da sua brisa, 
Só tenho que sentir agrado porque é brisa 
Ou que sentir desagrado porque é quente, 
E de qualquer maneira que eu o sinta, 
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo... 

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXII" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

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