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26 de set. de 2016

Amor à primeira vista de Wislawa Szymborska



Os dois estão convencidos
de que foi um sentimento súbito que os juntou.
É bela uma certeza como essa,
mas é mais bela a incerteza.

Acham que por não se terem conhecido antes
nunca houve nada entre eles.
E o que diriam as ruas, escadas, corredores,
onde há muito podiam se cruzar?

Queria perguntar-lhes
se não lembram –
na porta giratória talvez
um dia cara a cara?
em meio à multidão um “com licença”?
no telefone a voz “engano”?
– mas conheço sua resposta.
Não, não se lembram.

Ficariam surpreendidos de saber
que já faz tempo
o acaso brincava com eles.

Não preparado ainda
a transformar-se para eles num destino,
aproximava-os e os afastava,
cortava-lhes o caminho
e, abafando a gargalhada,
saltava para o lado.

Houve sinais, signos,
só que ilegíveis.
Talvez há três anos atrás
ou na terça-feira passada
certa folha voou
de um ombro para o outro?

Houve algo perdido e recolhido.
Quem sabe, uma bola
já no bosque da infância.

Houve maçanetas e campainhas,
em que antes
já o toque se punha no toque.
As malas lado a lado no depósito de bagagem.
Talvez, numa certa noite, o mesmo sonho
apagado imediatamente depois de acordar.

Pois cada princípio
é apenas uma continuação,
e o livro de eventos
sempre aberto no meio.
Wisława Szymborska (Kórnik, 2 de Julho de 1923 — Cracóvia, 1 de fevereiro de 2012)

20 de out. de 2015

A VERDADEIRA HISTÓRIA DO SÉCULO XX :: Claudio Willer

Van Gogh 
contemplação: estrela no fundo do mar
você: véu de gaze azulada roçando, suave apelo
furacão: róseo
perfeição: parábola de perfumes
lâmina: mente na alucinada
gruta: você e os arcanos da natureza
gelo: explosão de relâmpagos
essa solidez, essa presença: capim ao vento
rápidos, passando à frente – lavanda
e também sombra de árvore
montanha inteiramente nossa
intimidade sorridente no calor da tarde
Iris, o nome da flor, o seio ao sol

– quanta coisa que você fez que eu visse

gnose do redemoinho, foi o que soubemos
o acaso nos transportava e podíamos ir a qualquer lugar
(que vontade de grafitar as paredes do quarto)




31 de jan. de 2013

Lento mas vem de Mario Benedetti


Lento mas vem 
o futuro se aproxima 
devagar
mas vem

hoje está mais além
das nuvens que escolhe
e mais além do trovão
e da terra firme

demorando-se vem 
qual flor desconfiada 
que vigila ao sol 
sem perguntar-lhe nada

iluminando vem 
as últimas janelas 

lento mas vem 
o futuro se aproxima 
devagar
mas vem

já se vai aproximando 
nunca tem pressa 
vem com projetos 
e sacos de sementes

com anjos maltratados 
e fiéis andorinhas

devagar mas vem 
sem fazer muito ruído 
cuidando sobretudo 
os sonhos proibidos

as recordações dormidas 
e as recém-nascidas

lento mas vem 
o futuro se aproxima 
devagar
mas vem

já quase está chegando
com sua melhor notícia 
com punhos com olheiras 
com noites e com dias

com uma estrela pobre 
sem nome ainda 

lento mas vem
o futuro real 
o mesmo que inventamos 
nós mesmos e o acaso

cada vez mais nós mesmos 
e menos o acaso

lento mas vem 
o futuro se aproxima 
devagar
mas vem

lento mas vem 
lento mas vem 
lento mas vem


fonte: Perguntas ao acaso. Tradução de Julio Luís Gehlen

3 de mai. de 2012

Serendipidade

Nizami (Ilyas Abu Muhammad Nizam al-Din of Ganja) (probably 1141–1217)

Serendipidade, também conhecido como Serendipismo, Serendiptismo ou ainda Serendipitia, é um neologismo que se refere às descobertas afortunadas feitas, aparentemente, por acaso.
A palavra Serendipismo se origina da palavra inglesa Serendipity, criada pelo escritor britânico Horace Walpole em 1754, a partir do conto persa infantil "Os três príncipes de Serendip". Esta história de Walpole conta as aventuras de três príncipes do Ceilão, atual Sri Lanka, que viviam fazendo descobertas inesperadas, cujos resultados eles não estavam procurando realmente. Graças à capacidade deles de observação e sagacidade, descobriam “acidentalmente” a solução para dilemas impensados. Esta característica tornava-os especiais e importantes, não apenas por terem um dom especial, mas por terem a mente aberta para as múltiplas possibilidades.
Serendib é o nome que os comerciantes árabes da antiguidade deram ao Sri Lanka (um entre vários nomes dados a esta ilha através de sua história, sendo que os cartógrafos gregos antigos a chamavam de Toprobane; já o atual nome do país significa Terra Resplandecente no idioma sânscrito, conforme registrado nos antigos épicos indianos Mahabharata e Ramayana; finalmente, com a chegada dos portugueses, a ilha recebeu o nome luso de Ceilão, do qual deriva a versão inglesa Ceylon).
fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Serendipidade#Etimologia_e_hist.C3.B3ria


22 de out. de 2011

Distraído



O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Titãs

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...