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29 de dez. de 2015

BRIONI :: Radovan Ivsic (Zagreb, 1921-2009)

Emil Carlsen
Os cervos são borboletas
as borboletas  são peixes
os peixes são claridade
a claridade é morte
a morte é laranja
a laranja é vulcão
o vulcão é feno
o feno é elefante
o elefante é afogamento
o afogamento é riso
o riso é montanha
a montanha é anel
o anel é solidão
a solidão é areia
a areia é roda
a roda é terremoto
o terremoto é cílios
os cílios são cascata
a cascata é bigorna
a bigorna é lembranças
as lembranças são vermelho
o vermelho é chicote
o chicote é fim
o fim é mel
o mel é nuvem
a nuvem é o infinito
o infinito é infinito

18 de set. de 2015

Para Ver as Meninas :: Composição de Paulinho da Viola

Maurice Prendergast
Silêncio por favor
Enquanto esqueço um pouco
a dor no peito
Não diga nada
sobre meus defeitos
Eu não me lembro mais
quem me deixou assim
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços
Só este amor
assim descontraído
Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito

8 de jun. de 2015

PARTES DE UM MUNDO: FRÉSIAS :: LUÍS QUINTAIS

julie ford oliver

I

Assim as deixei
ali,

frésias sobre
pedra escura,
ali,

onde
a memória
não é canção
nem sentimento,
ali,

sobre pedra
escura,

de tão densa
contra o tempo.

II

Flores brancas
sobre pedra
se acendendo.

Contra o tempo,
entrei
no pequeno bosque.

III

Reverenciaria
o tema procurado,
a enumeração
do infinito desgaste,
a forma
por polir.

IV

Frésias
sobre a campa,
invisíveis
de tanta luz.

22 de jan. de 2015

Ocupo muito de mim com o meu desconhecer. :: Manoel de Barros

Ocupo muito de mim com o meu desconhecer.
Sou um sujeito letrado em dicionários.
Não tenho que 100 palavras.
Pelo menos uma vez por dia me vou no Morais
ou no Viterbo -
A fim de consertar a minha ignorãça,
mas só acrescenta.
Despesas para minha erudição tiro nos almanaques:
- Ser ou não ser, eis a questão.
Ou na porta dos cemitérios:
- Lembra que és pó e que ao pó tu voltarás.
Ou no verso das folhinhas:
- Conhece-te a ti mesmo.
Ou na boca do povinho:
- Coisa que não acaba no mundo é gente besta
e pau seco.
Etc.
Etc.
Etc.
Maior que o infinito é a encomenda.

O livro das ignorãças. Record, 1997. 

17 de dez. de 2014

Sair :: Antonio Cícero

Vasile Dobrian

Largar o cobertor, a cama, o
medo, o terço, o quarto, largar
toda simbologia e religião; largar o
espírito, largar a alma, abrir a
porta principal e sair. Esta é
a única vida e contém inimaginável
beleza e dor. Já o sol,
as cores da terra e o
ar azul — o céu do dia —
mergulharam até a próxima aurora; a
noite está radiante e Deus não
existe nem faz falta. Tudo é
gratuito: as luzes cinéticas das avenidas,
o vulto ao vento das palmeiras
e a ânsia insaciável do jasmim;
e, sobre todas as coisas, o
eterno silêncio dos espaços infinitos que
nada dizem, nada querem dizer e
nada jamais precisaram ou precisarão esclarecer.


28 de jan. de 2014

Alfred Eisenstaedt - fotografia

O que a fotografia reproduz ao infinito só ocorreu uma vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente.‎

Ce que la Photographie reproduit à l'infini n'a eu lieu qu'une fois : elle répète mécaniquement ce qui ne pourra jamais plus se répéter existentiellement
Roland Barthes. La chambre claire‎. Éditions de l'Étoile, 1980. p. 15


















Alfred Eisenstaedt (Dirschau, 6 de Dezembro de 1898 — Nova Iorque, 24 de Agosto de 1995) foi fotógrafo e fotojornalista norte-americano.

Nascido na antiga Prússia, aos oito anos a família mudou-se para Berlim, na Alemanha, onde ficou até ao momento em que Adolf Hitler chegou ao poder. Aos catorze anos um tio ofereceu-lhe uma câmara fotográfica, uma Eastman Kodak nº 3 (uma câmara de fole). Três anos mais tarde foi recrutado para o exército alemão. Em 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, uma explosão de uma granada afectou-lhe ambas as pernas. Foi o único sobrevivente do ataque e foi mandado ferido para casa. Levou cerca de um ano até poder caminhar de novo sem ajuda, e foi durante a recuperação que se interessou novamente pela fotografia. Em 1922, tornou-se vendedor de cintos e botões e, com o dinheiro que conseguiu poupar, adquiriu equipamento fotográfico. Começou por revelar os seus trabalhos na casa de banho e a aprender cada vez mais.

Durante umas férias na Checoslováquia fotografou uma mulher a jogar ténis, registando a longa sombra da mulher a lançar a bolano court. Eisenstaedt conseguiu vendê-la ao Der Welt Spiegel por três marcos (cerca de doze dólares na altura), o que lhe deu a ideia da possibilidade de viver da fotografia. Assim, aos 31 anos abandonou a profissão de vendedor e passou a fotografar a tempo inteiro.

Como freelancer, trabalhou para a Pacific and Atlantic Photos, que se transformaria na famosa Associated Press em 1931. Por essa altura, começou a trabalhar com uma leica, uma câmara inovadora de 35 mm que tinha sido inventada quatro anos antes. Em 1933 foi enviado para Itália para fotografar o primeiro encontro entre Hitler e Mussolini. O seu estilo agressivo fez com que conseguisse chegar até aos dois ditadores e consequentemente fotografá-los. Dois anos depois da subida de Hitler ao poder, emigra para os Estados Unidos da América.

Em Nova York foi abordado por vários fotógrafos, entre os quais Margaret Bourke-White e Henry Luce, para fazer parte de um novo projecto que nasceria após seis meses de testes, em 1936: a revista Life. Em 1942 naturalizou-se norte-americano e viajou por vários países para documentar os efeitos da guerra: no Japão registou o efeito da bomba atómica, na Coreia a presença das tropas americanas, na Itália o estado miserável dos pobres e na Inglaterra fotografou Winston Churchill. Durante a sua carreira fotografou muitas personalidades famosas, como Marlene Dietrich, Marilyn Monroe, Ernest Hemingway, JFK ou Sophia Loren. Esta última, que também era a sua modelo favorita, apareceu numa capa da Life usando apenas um "negligee" - o que fez com que alguns subscritores da revista cancelassem a sua subscrição. Aos 81 anos regressou à Alemanha para participar numa exposição de 93 fotografias sobre a vida na Alemanha dos anos 1930.

Eisenstaedt recebeu inúmeros prémios e galardões. A cidade de Nova York nomeou um dia em sua honra, o presidente George Bush entregou-lhe a Medalha Presidencial dasArtes, o ICP (Internacional Center of Photography) atribuiu-lhe o prémio Masters of Photography, entre outros. Nos seus últimos tempos de vida continuou a trabalhar, supervisionando a impressão das suas fotografias para futuras exposições ou livros.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. o ICP (Internacional Center of Photography) atribuiu-lhe o prémio Masters of Photography, entre outros. Nos seus últimos tempos de vida continuou a trabalhar, supervisionando a impressão das suas fotografias para futuras exposições ou livros.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

28 de dez. de 2013

A vida oblíqua? :: Clarice Lispector


A vida oblíqua? Bem sei que há um desencontro leve entre as coisas, elas quase se chocam, há desencontro entre os seres que se perdem uns aos outros entre palavras que quase não dizem mais nada. Mas quase nos entendemos nesse leve desencontro, nesse quase que é a única forma de suportar a vida em cheio, pois um encontro brusco face a face com ela nos assustaria, espaventaria os seus delicados fios de teia de aranha. Nós somos de soslaio para não comprometer o que pressentimos de infinitamente outro nessa vida de que te falo.
In: Água viva. Editora Ática, 1984. p. 71.

20 de dez. de 2013

Esquecemo-nos de quase tudo :: José Eduardo Agualusa


David Dehner 

“- A nossa espécie – continuou – tem fraca memória. Esquecemo-nos de quase tudo. Muitas vezes, por outro lado, julgamos lembrar-nos de coisas que nunca nos aconteceram. Coisas que lemos, que aconteceram a outros, ou que alguém nos contou. Certos peixes esquecem-se de onde vieram no curto instante que levam a percorrer um aquário. O aquário é para eles, dessa forma, um espaço infinito, novo a cada instante, cheio de surpresas e diversidade. Cada volta que dão parece-lhes uma experiência inédita. Connosco passa-se algo semelhante. A natureza criou o esquecimento para que nos seja possível suportar o terrível tédio deste minúsculo aquário a que chamamos vida.”

In: Um Estranho em Goa.  Edições Cotovia

9 de nov. de 2013

Ínfimos infinitos de Mia Couto

Jamie Johnson 

Porque a Vida é feita contra o Tempo. Sem medida, tecida de ínfimos infinitos.

in: A confissão da leoa. Companhia das Letras, 2012.


4 de mai. de 2013

Perplexidades - Ferreira Gullar


a parte mais efêmera 
de mim
é esta consciência de que existo

e todo o existir consiste nisto

é estranho!
e mais estranho
ainda
me é sabê-lo
e saber
que esta consciência dura menos
que um fio de meu cabelo

e mais estranho ainda
que sabê-lo
é que 
enquanto dura me é dado
o infinito universo constelado
de quatrilhões e quatrilhões de estrelas
sendo que umas poucas delas
posso vê-las
fulgindo no presente do passado

Em alguma parte alguma/Ferreira Gullar; 2ª ed.- Rio de Janeiro: José Olympio, 2010

8 de fev. de 2012

É perturbador mesmo, perturbador. Adélia Prado

(...) afinal, você percebe que tudo é basicamente igual. O que interessa mesmo é a tua vidinha. Porque você não tem mais que ela (risos). Você não tem mais do que as 24 horas do dia. Ninguém tem mais que isso. E é nessa experiência pequeninha, miserável, limitada, carente, que eu vou dar uma resposta ao absurdo da minha existência e do mundo. É esse microcosmo mesmo: a filinha do supermercado, a barra da calça… Não por isso que você é poeta do cotidiano ou poeta da metafísica. A metafísica está aí nessas coisas. Aquilo do (José) Ortega y Gasset (1883-1955, filósofo espanhol): “Admirar-se do que é natural é dom do filósofo.” É o dom do poeta! Todo mundo sai correndo para ver um fenômeno da natureza, sei lá o quê. Mas preocupar-se com aquilo que é absolutamente natural é a grande riqueza, aquilo que é o dado imediato da vida. E o dado imediato são nossas carências e obrigações cotidianas. Não tem nada tão grande porque tudo você pode amansar. Você nunca viu o palácio da Rainha da Inglaterra, fica lá um dia ou dois e amansa o lugar. “Só isso? Eu quero mais, eu quero mais.” Você está sempre querendo além do que você tem. E esse além é de natureza transcendente, é a fome da alma, a fome do espírito. É uma coisa impressionante porque você, limitado e finito, fala em conceitos loucos para nós que somos tão pequenos: o infinito. Infinitamente pequeno (risos). “Infinitamente pequeno” está me perturbando ultimamente (risos). Ele é perturbador mesmo, perturbador.
fonte: Revista SaraivaConteúdo – 2010

1 de fev. de 2012

Maiores e até infinitos.

A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Manoel de Barros

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...