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23 de jun. de 2013

Canção dos que partem - Luis Enrique Belmonte (Caracas, 1971)


Os que partem a cantarolar uma canção
a deixar que a luz ocupe seu lugar nas esquinas,
nos rostos que chegam,
nas mãos que palpam o espaço habitável
Os que se aproximam do horizonte
procurando pássaros que adejam na escuridão
Os que no seu andar desprendem gravetos, espinhos,
cascas que assinalam o sentido
do que não puderam dizer a tempo
quando era preciso dizê-lo.
Os que se vão não devem olhar o rasto do seu passo
senão a cintilação da terra prometida
que não é mais que o lampejo de seus próprios corpos
a trafegar caminhos no mais côncavo da noite.
Escutemos a canção
sobre os telhados de povos afantasmados,
nos gonzo de portas entreabertas,
nos sótãos do vento.
É a canção que anuncia aos que chegam
e torna mais leve a travessia dos que partem.

.........................
Los que se van tarareando una canción
dejando que la luz ocupe su lugar en las esquinas,
en los rostros que llegan,
en las manos que tantean el espacio habitable.
Los que se van arrimando al horizonte
buscando pájaros que aletean en la oscurana.
Los que en su marcha desprenden astillas, espinas,
cáscaras que señalan el sentido
de lo que no pudieron decir a tiempo
cuando era justo decirlo.
Los que se van no deben mirar la estela de su paso
sino el relumbre de la tierra prometida
que no es más que el destello de sus propios cuerpos
trasegando caminos en lo más cóncavo de la noche.
Escuchemos la canción
sobre los tejados de pueblos afantasmados,
en los goznes de puertas entreabiertas,
en los áticos del viento.
Es la canción que anuncia a los que llegan
y hace más ligera la travesía de los que parten.


Luis Enrique Belmonte. Nasceu em Caracas, em 1971. É médico cirurgião (UCV), especializou-se em Bioética na Universidade Ramón Llull e em História das Ciências na Universidade Autónoma de Barcelona. Recebeu diferentes reconhecimentos literários, entre eles o Prêmio de Poesia Fernando Paz Castillo (1996), por Corpo baixo lâmpada; o Prêmio Adonais (1998), convocado pela editorial Rialp de Madri, por Inútil registo; e o Prêmio de Poesia da IV Bienal de Literatura Mariano Picón Salas (2005), por O encanto.

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