Mostrando postagens com marcador Alexandre O'Neill. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Alexandre O'Neill. Mostrar todas as postagens

27 de nov. de 2017

Amigo de Alexandre O'Neill



Mal nos conhecemos 
Inauguramos a palavra amigo!

Amigo é um sorriso 
De boca em boca, 
Um olhar bem limpo

Uma casa, mesmo modesta, que se oferece. 
Um coração pronto a pulsar 
Na nossa mão! 

Amigo (recordam-se, vocês aí, 
Escrupulosos detritos?) 
Amigo é o contrário de inimigo!

Amigo é o erro corrigido, 
Não o erro perseguido, explorado. 
É a verdade partilhada, praticada. 

Amigo é a solidão derrotada! 

Amigo é uma grande tarefa, 
Um trabalho sem fim, 
Um espaço útil, um tempo fértil, 
Amigo vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill (Lisboa1924 - 1986)

2 de ago. de 2013

Dai-nos, meu Deus um pequeno absurdo quotidiano que seja de Alexandre O'Neill

Dai-nos, meu Deus, um pequeno absurdo quotidiano que seja,
que o absurdo, mesmo em curtas doses,
defende da melancolia e nós somos tão propensos a ela!
Se é verdade o aforismo faca afia faca
(não sabemos falar senão figuradamente
sinal de que somos pouco capazes de abstracção).
Se faca afia faca,
então que a faca do absurdo
venha afiar a faca da nossa embotada vontade,
venha instalar-se sobre a lâmina do inesperado
e o dia a dia será nosso e diferente.
Aflições? Teremos muitas não haja dúvida.
Mas tudo será melhor que este dia a dia.
Os povos felizes não têm história, diz outro aforismo.
Mas nós não queremos ser um povo feliz.
Para isso bastam os suiços, os suecos, que sei eu?
Bom proveito lhes faça!
Nós queremos a maleita do suíno,
a noiva que vê fugir o noivo,
a mulher que vê fugir o marido,
o órfão que é entregue à caridade pública,
o doente de hospital ainda mais miserável que o hospital
onde está a tremer, a um canto, e ainda ninguém lhe ligou nenhuma.
Nós queremos ser o aleijado nas ruas,
a pedir esmola, a esbardalhar-se frente aos nossos olhos.
Queremos ser o pai desempregado que não sabe que Natal há-de dar aos seus.
Garanti-nos, meu Deus, um pequeno absurdo cada dia,
um pequeno absurdo às vezes chega para salvar.

Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill (n. em Lisboa a 19 de Dez de 1924; m. em 21 de Agosto de 1986).

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...