“ - Não quero amigos novos. A mim me bastam os velhos, cujas
qualidades e defeitos já conheço. Amigo novo dá muito trabalho. Sabe por quê ?
Pra começo de conversa porque a gente tem que descobrir as suas manias e
implicâncias, tatear os assuntos que lhe agradam ou aborrecem, precisa
afeiçoá-lo às nossas próprias
implicâncias, amolda-los aos hábitos que cultivamos, impor-lhe que respeite
nossas opiniões e, em contrapartida, acatar as suas, detectar-lhe a
inteligência e a burrice. Todos nós somos, a um tempo – você já reparou ? –
perspicazes e obtusos. Em suma, a gente tem que se acostumar a ele, o que leva
anos. Amigo velho não: é um sossego, uma tranqüilidade ! Não dá surpresas
desagradáveis, já se sabe como se comporta, que reações vai ter. Em suma, é previsível.
Olhe, amizade é como picles: tem que ser
curtida pelo tempo para bem se impregnar dos temperos que lhe dão sabor.”
Mário da Silva Brito in: Conversa vai, conversa vem. Rio de
Janeiro, Civilização Brasileira, 1974