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17 de ago. de 2013

T.S. Elliot Quatro Quartetos


O tempo presente e o tempo passado


Estão ambos talvez presentes no tempo futuro,


E o tempo futuro contido no tempo passado.


Se todo o tempo é eternamente presente


Todo o tempo é irredimível.


O que podia ter sido é uma abstracção


Permanecendo possibilidade perpétua


Apenas num mundo de especulação.


O que podia ter sido e o que foi


Tendem para um só fim, que é sempre presente.


Ecoam passos na memória


Ao longo do corredor que não seguimos


Em direcção à porta que nunca abrimos


Para o roseiral. As minhas palavras ecoam


Assim, no teu espirito.


                                Mas para quê


Perturbar a poeira numa taça de folhas de rosa


Não sei.


                         Outros ecos


Habitam o jardim. Vamos segui-los?


Depressa, disse a ave, procura-os, procura-os,


Na volta do caminho. Através do primeiro portão,


No nosso primeiro mundo, seguiremos


O chamariz do tordo? No nosso primeiro mundo.


Ali estavam eles, dignos, invisíveis,


Movendo-se sem pressão, sobre as folhas mortas,


No calor do outono, através do ar vibrante,


E a ave chamou, em resposta à


Música não ouvida dissimulada nos arbustos,


E o olhar oculto cruzou o espaço, pois as rosas


Tinham o ar de flores que são olhadas.


Ali estavam como nossos convidados, recebidos e recebendo.


Assim nos movemos com eles, em cerimonioso cortejo,


Ao longo da alameda deserta, no círculo de buxo,


Para espreitar o lago vazio.


Lago seco, cimento seco, contornos castanhos,


E o lago encheu-se com água feita de luz do sol,


E os lótus elevaram-se, devagar, devagar,


A superfície cintilava no coração da luz,


E eles estavam atrás de nós, reflectidos no lago.


Depois uma nuvem passou, e o lago ficou vazio.


Vai, disse a ave, pois as folhas estavam cheias de crianças,


Escondendo-se excitadamente.. contendo o riso.


Vai, vai, vai, disse a ave: o gênero humano


Não pode suportar muita realidade.


O tempo passado e o tempo futuro


O que podia ter sido e o que foi


Tendem para um só fim, que é sempre presente.


T.S. Elliot. Quatro Quartetos. Tradução de Maria Amélia Neto. 3ª edição. ÁTICA, 1983

19 de jul. de 2013

O próprio desejo é movimento de T.S. Elliot



O próprio desejo é movimento
Não desejável em si;
O próprio amor é inamovível,
Apenas a causa e o fim do movimento,
Intemporal, e sem desejo
Excepto no aspecto do tempo
Capturado sob a forma de limitação
Entre o não ser e o ser.
De repente num raio de sol
Mesmo enquanto se move a poeira
Eleva-se o riso escondido
De crianças na folhagem
Depressa, aqui, agora, sempre-
Ridículo o triste tempo inútil
Que se estende antes e depois.

In: T.S. Elliot. Quatro Quartetos. Tradução de Maria Amélia Neto. 3ª edição. ÁTICA, 1983

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...