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6 de out. de 2015

A turma :: Manoel de Barros

A gente foi criado no ermo igual ser pedra.
Nossa voz tinha nível de fonte.
A gente passeava nas origens. Bernardo conversava pedrinhas
com as rãs de tarde.
Sebastião fez um martelo de pregar água
na parede.
A gente não sabia botar comportamento
nas palavras.
Para nós obedecer a desordem das falas
Infantis gerava mais poesia do que obedecer
as regras gramaticais.
Bernardo fez um ferro de engomar gelo.
Eu gostava das águas indormidas.
A gente queria encontrar a raiz das
palavras.
Vimos um afeto de aves no olhar de
Bernardo.
Logo vimos um sapo com olhar de árvore!
Ele queria mudar a Natureza?
Vimos depois um lagarto de olhos garços beijar as pernas da Manhã!
Ele queria mudar a Natureza?
Mas o que nós queríamos é que a nossa
palavra poemasse.

14 de jul. de 2015

O QUE É :: Adriane Garcia (Belo Horizonte - MG - 1973 )

Denise Costa
Assim como em todos os dias
Os peixes nadam
Os pássaros voam
Os mamíferos têm filhos
Dependurados em tetas
Assim como nascem e morrem células
E se reproduzem bactérias
Assim como sai vida
De ovos
E da terra brotam
Sementes
Eu sofro
Ser de minha natureza.

19 de jun. de 2015

OS PENSAMENTOS QUE ME VISITAM NAS RUAS MOVIMENTADAS :: Wislawa Szymborska

Rostos.
Bilhões de rostos na face da terra.
Dizem que cada um é diferente
dos que já se foram e dos que virão um dia.
Mas a Natureza – quem é que a entende? –
cansada do trabalho que nunca acaba
talvez repita suas ideias antigas              
e ponha-nos rostos
já usados outrora.

Pode ser Arquimedes de jeans que passa ao seu lado,
a czarina Catarina com roupa de brechó,              
um dos faraós de pasta e óculos.

A viúva de um sapateiro descalço
vinda de uma Varsóvia pequenina ainda,
um mestre da gruta de Altamira
levando as netas para o zoológico,
um Vândalo cabeludo a caminho do museu
para se deliciar com os mestres do passado.

Os que tombaram há duzentos séculos,
há cinco séculos,
há meio século.

Alguém levado em carruagem dourada,
alguém levado em vagão de extermínio.
Montezuma, Confúcio, Nabucodonosor,
suas babás, suas lavadeiras e Semíramis
que só fala inglês.

Bilhões de rostos na face da terra.
Meu, seu, de quem –
você nunca saberá. Talvez a Natureza tenha que ludibriar
para dar conta dos prazos e da demanda
e pesque até o que estava submerso              
no espelho da deslembrança.

12 de jan. de 2015

CALEIDOSCÓPIO :: FLORA FIGUEIREDO


Pela fresta observo a dança das cores 
nos vidros recortados. 
Separam-se, aglutinam-se, 
desenham maravilhas 
Como se bailassem calçando sapatilhas. 
A cada movimento, uma surpresa, 
a mesma flor concebida com destreza, 
em seguida se espalha e se desfaz. 
Por trás de seu processo giratório, 
o caleidoscópio avisa: 
a forma é fugaz e imprecisa 
e o colorido de hoje é provisório. 

In:  O Trem Que Traz a Noite, 2000 


30 de ago. de 2013

Hoje não escrevo de Carlos Drummond de Andrade



Chega um dia de falta de assunto. Ou, mais propriamente, de falta de apetite para os milhares de assuntos.
Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, purê de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário.

17 de jun. de 2013

O meu olhar é nítido como um girassol de Fernando Pessoa


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

14 de abr. de 2012

O Que é Escrever? Agustina Bessa-Luís

Ama-se a palavra, usa-se a escrita, despertam-se as coisas do silêncio em que foram criadas.
Depois de tudo, escrever é um pouco corrigir a fortuna, que é cega, com um júbilo da Natureza, que é precavida.
in "Contemplação Carinhosa da Angústia"

9 de nov. de 2009

Natureza e sobreviência


Dersu retrata de maneira poética e sensível as diferenças culturais entre um caçador  e um pesquisador (topógrafo) russo quanta se trata de natureza e sobrevivência. A fotografia é belíssima, mostrando as paisagens naturais da Sibéria. Impressionou-me na época.

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...