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4 de ago. de 2014

Pido Silencio de Pablo Neruda

Enric Cristofol Ricart i Nin

Ahora me dejen tranquilo.

Ahora se acostumbren sin mí.

Yo voy a cerrar los ojos

Yo sólo quiero cinco cosas,

cinco raices preferidas.

Una es el amor sin fin.

Lo segundo és ver el otoño.

No puedo ser sim que las hojas

vuelen y vuelvan a la tierra.

Lo tercero es el grave invierno,

La lluvia que amé, la caricia

del fuego em el frio silvestre.

Em cuarto lugar el verano

redondo como una sandía.

La quinta cosa son tus ojos,

Matilde mia, bienamada,

no quiero dormir sin tus ojos,

no quiero ser sin que me mires:

yo cambio la primavera

por que tú me sigas mirando.
.......................................................
Peço silêncio 
Agora me deixem tranqüilo.
Agora se acostumem sem mim.
Eu vou cerrar os meus olhos.
Somente quero cinco coisas,
cinco raízes preferidas.
Uma é o amor sem fim.
A segunda é ver o outono.
Não posso ser sem que as folhas
voem e voltem à terra.
A terceira é o grave inverno,
a chuva que amei, a carícia
do fogo no frio silvestre.
Em quarto lugar o verão
redondo como uma melancia.
A quinta coisa são os teus olhos,
Matilde minha, bem amada,
não quero ser sem que me olhes :
eu mudo a primavera
para que me sigas olhando.
Amigos, isso é quanto quero.
É quase nada e quase tudo.
Agora se querem, podem ir.

tradução de Thiago de Melo

19 de abr. de 2014

Outono de Russell Edson (n.1935)




Uma vez um homem encontrou duas folhas e entrou em casa segurando-as com os braços esticados dizendo aos pais que era uma árvore.
Ao que eles disseram então vai para o pátio e não cresças na sala pois as tuas raízes podem estragar a carpete.
Ele disse eu estava a brincar não sou uma árvore e deixou cair as folhas.
Mas os pais disseram olha é outono.

12 de abr. de 2014

Amor de sombras de ocasos e de ovelhas :: Hilda Hilst

Felix Vallotton, 1913
Amor de sombras de ocasos e de ovelhas.
Volto como quem soma a vida inteira
A todos os outonos. Volto novíssima, incoerente
Cógnita
Como quem vê e escuta o cerne da semente
E da altura de dentro já lhe sabe o nome.

E reverdeço
No rosa de umas tangerinas
E nos azuis de todos os começos.


 fonte: Amavisse, 1989

24 de mar. de 2014

Inverno de Muhammad Al-Maghut

John Lyes

como lobos em períodos de seca
crescemos por toda a parte
amámos a chuva
amámos o outono

um dia até pensámos
em enviar uma carta de agradecimento ao céu
com uma folha de outono como selo de correio
acreditávamos que as montanhas desapareceriam
os mares se dissipariam
apenas o amor seria eterno
de súbito separámo-nos
ela gostava de sofás compridos
e eu de longos navios
ela gostava de sussurrar e suspirar nos cafés
eu gostava de saltar e gritar nas ruas
e, apesar de tudo,
os meus braços vastos como o universo
estão à espera dela …

1 de jan. de 2014

Um lugar, quero um lugar! de Mahmoud Darwich


«Um lugar, quero um lugar! Quero um lugar para voltar a mim mesmo, para colocar o meu papel sobre uma madeira mais dura, para escrever uma carta maior, para pregar na parede um quadro, para arrumar os meus fatos. Para te dar o meu endereço, para fazer crescer a menta, para esperar a chuva. Quem não tem um lugar também não tem estações. Poderás tu transmitir-me o cheiro do nosso Outono nas tuas cartas? Leva-me para aí, se é que ainda há um lugar para mim na miragem estagnada. Leva-me para o eflúvios de cheiros que respiro nos écrans, no papel, ao telefone... »

Trecho de "Les deux moitiés de l’orange", carta escrita durante o exílio em Paris a Samih al-Kassem, seu amigo residindo na Palestina.

22 de abr. de 2013

Atravesso o bosque de Carlos Saraiva Pinto


Lincoln Koga 
atravesso o bosque
de castanheiros
pisando o manto das folhas
levadas pelo vento
no princípio do outono.

fecho a cancela de madeira do jardim
e lavo o rosto para entrar em casa.

esta noite
dormirei à luz das velas
se for preciso.


21 de mar. de 2012

Fala, amendoeira de Carlos Drummond de Andrade



Fala, amendoeira – por que fugia ao rito de suas irmãs, adotando vestes assim particulares, a árvore pareceu explicar-lhe:

-- Não vês? Começo a outonear. É 21 de março, data em que as folhinhas assinalam o equinócio do outono. Cumpro meu dever de árvore, embora minhas irmãs não respeitem as estações.

-- E vais outoneando sozinha?

-- Na medida do possível. Anda tudo muito desorganizado, e, como deves notar, trago comigo um resto de verão, uma antecipação de primavera e mesmo, se reparares bem neste ventinho que me fustiga pela madrugada, uma suspeita de inverno.

-- Somos todos assim.

-- Os homens, não. Em ti, por exemplo, o outono é manifesto e exclusivo. Acho-te bem outonal, meu filho, e teu trabalho é exatamente o que os autores chamam de outonada: são frutos colhidos numa hora da vida que já não é clara, mas ainda não se dilui em treva. Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza.

-- Não me entristeças.

-- Não, querido, sou tua árvore-de-guarda e simbolizo teu outono pessoal. Quero apenas que te outonize com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons suaves... Outoniza-se com dignidade, meu velho.

19 de fev. de 2012

Versos de otoño de Rubén Dario

Van Gogh 

Cuando mi pensamiento va hacia ti, se perfuma; 
tu mirar es tan dulce, que se torna profundo. 
Bajo tus pies desnudos aún hay blancos de espuma, 
y en tus labios compendias la alegría del mundo. 

El amor pasajero tiene encanto breve, 
y ofrece un igual término para el gozo y la pena. 
Hace una hora que un nombre grabé sobre la nieve; 
hace un minuto dije mi amor sobre la arena. 

Las hojas amarillas caen en la alameda, 
en donde vagan tantas parejas amorosas. 
Y en la copa de otoño un vago vino queda 
en que han de deshojarse, primavera, tus rosas.

29 de mar. de 2011

Más allá de tus ojos





Te recuerdo como eras en el último otoño.  Eras la boina gris y el corazón en calma. En tus ojos peleaban las llamas del crepúsculo Y las hojas caían en el agua de tu alma. Apegada a mis brazos como una enredadera. las hojas recogían tu voz lenta y en calma. Hoguera de estupor en que mi sed ardía. Dulce jacinto azul torcido sobre mi alma. Siento viajar tus ojos y es distante el otoño: boina gris, voz de pájaro y corazón de casa hacia donde emigraban mis profundos anhelos y caían mis besos alegres como brasas. Cielo desde un navío. Campo desde los cerros. Tu recuerdo es de luz, de humo, de estanque en calma! Más allá de tus ojos ardían los crepúsculos. Hojas secas de otoño giraban en tu alma. 


Pablo Neruda

21 de mar. de 2011

Outonear de Carlos Drummond de Andrade




Todas estavam ainda verdes, mas essa ostentava algumas folhas amarelas e outras já estriadas de vermelho, numa gradação fantasista que chegava mesmo até o marrom – cor final de decomposição, depois da qual as folhas caem. Pequenas amêndoas atestavam seu esforço, e também elas se preparavam para ganhar coloração dourada e, por sua vez, completado o ciclo, tombar sobre o meio-fio, se não as colhe algum moleque apreciador de seu azedinho. É como se o cronista, lhe perguntasse – Fala, amendoeira – por que fugia ao rito de suas irmãs, adotando vestes assim particulares, a árvore pareceu
explicar-lhe:
-- Não vês? Começo a outonear. É 21 de março, data em que as folhinhas assinalam o equinócio do outono. Cumpro meu dever de árvore, embora minhas irmãs não respeitem as estações.
-- E vais outoneando sozinha?
-- Na medida do possível. Anda tudo muito desorganizado, e, como deves notar, trago comigo um resto de verão, uma antecipação de primavera e mesmo, se reparares bem neste ventinho que me fustiga pela madrugada, uma suspeita de inverno.
-- Somos todos assim.
-- Os homens, não. Em ti, por exemplo, o outono é manifesto e exclusivo. Acho-te bem outonal, meu filho, e teu trabalho é exatamente o que os autores chamam de outonada: são frutos colhidos numa hora da vida que já não é clara, mas ainda não se dilui em treva. Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza.
-- Não me entristeças.
-- Não, querido, sou tua árvore-de-guarda e simbolizo teu outono pessoal. Quero apenas que te outonize com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons suaves... Outoniza-se com dignidade, meu velho.

16 de dez. de 2010

Recordar



Un recuerdo amorosamente fundado
nos limpia los pulmones
nos aviva la sangre
nos sacude el otoño 
nos renueva la piel.

Poema de otros, Mario Benedetti

21 de abr. de 2008

Outoniza-te de Carlos Drummond de Andrade




Sou tua árvore-de-guarda e simbolizo teu outono pessoal. Quero apenas que te outonize com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons suaves...
Outoniza-se com dignidade, meu velho.



Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...