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28 de out. de 2014

O homem, quando jovem :: HÉLIO PELLEGRINO.

"O homem, quando jovem, é só, apesar de suas múltiplas experiências. Ele pretende, nessa época, conformar a realidade com suas mãos, servindo-se dela, pois acredita que, ganhando o mundo, conseguirá ganhar-se a si próprio. 

Acontece, entretanto, que nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é perdê-lo, é contemplá-lo na sua libérrima existência, é respeitá-lo e amá-lo na sua total e gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que tenhamos ganho ou pretendamos ganhar o mundo. Neste momento, a solidão nos atravessa como um dardo. É meio-dia em nossa vida, e a face do outro nos contempla como um enigma.


Feliz daquele que, ao meio-dia, se percebe em plena treva, pobre e nu. Este é o preço do encontro, do possível encontro com o outro. A construção de tal possibilidade passa a ser, desde então, o trabalho do homem que merece o seu nome."

17 de ago. de 2014

PEDRA de CHARLES SIMIC ( Belgrado, Sérvia, 1938)

Maki Haku

Entrar dentro de uma pedra
Seria esse o meu caminho.
Deixar outrem tornar-se pombo
Ou rilhar com dentes de tigre.
Sou feliz por ser uma pedra.

Por fora, a pedra é um enigma:
Ninguém sabe como o desvendar.
Dentro, porém, deve ser fresca e silenciosa
Mesmo que uma vaca a calque com todo o seu volume,
Mesmo que uma criança a atire para um rio;
A pedra afunda-se, lenta, imperturbavelmente
Até ao fundo do leito
Onde os peixes vêm bater na pedra
E escutar.

Eu vi as faíscas voando
Quando duas pedras são friccionadas,
Talvez então não seja escuro, apesar de tudo, lá dentro;
Talvez exista uma lua brilhando
Desde algures, como se por trás de uma colina –
Apenas a luz suficiente para distinguir
Os estranhos escritos, as cartas astrais
Nas paredes de dentro.

6 de nov. de 2013

Apoderava-se das minhas palavras :: Fernando Esteves Pinto


Apoderava-se das minhas palavras 
como se fossem uma toalha do seu rosto
alguns utensílios reservados para a sua vida. 
Eu escrevia casa e a casa teria de ser a defesa do nosso amor. 
Eu escrevia cama e a cama transformava-se num jogo de silêncio.
Vivia por trás da minha escrita 
como se preenchesse a alma de tudo o que não entendia.
Queria que eu mobilasse a vida só com palavras 
breves imagens que fossem o retrato do meu pensamento. 
Eu proporcionava-lhe a felicidade como um enigma
em cada palavra um sentimento formalmente virtual
depois abandonava-a com a ilusão do espaço decorativo.
.
In:  Área Afectada.  Temas Originais, 2010

12 de mar. de 2013

Artes - Maria Lúcia Dal Farra


Picasso


Não distingo o que queres 
e nem triunfo sobre 
o enigma que nos atrai 
(assim dessemelhantes). 
Mas se adivinho o que há dentro do teu cenho 
e se (acaso) 
empreendo o que (querendo) não fazes por 
consumar – 
ganho (em troca) 
a solidão patética de quem erra 
por acertar. 

O amor é isso: 
cisco que tolda a vista 
tão só pra se enxergar. 

fonte: Alumbramentos, 2012

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...