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3 de jul. de 2016

Os Dois Horizontes :: Machado de Assis

          Um horizonte, — a saudade 
          Do que não há de voltar; 
          Outro horizonte, — a esperança 
          Dos tempos que hão de chegar; 
          No presente, — sempre escuro,— 
          Vive a alma ambiciosa 
          Na ilusão voluptuosa 
          Do passado e do futuro. 

          Os doces brincos da infância 
          Sob as asas maternais, 
          O vôo das andorinhas, 
          A onda viva e os rosais; 
          O gozo do amor, sonhado 
          Num olhar profundo e ardente, 
          Tal é na hora presente 
          O horizonte do passado. 

          Ou ambição de grandeza 
          Que no espírito calou, 
          Desejo de amor sincero 
          Que o coração não gozou; 
          Ou um viver calmo e puro 
          À alma convalescente, 
          Tal é na hora presente 
          O horizonte do futuro. 

          No breve correr dos dias 
          Sob o azul do céu, — tais são 
          Limites no mar da vida: 
          Saudade ou aspiração; 
          Ao nosso espírito ardente, 
          Na avidez do bem sonhado, 
          Nunca o presente é passado, 
          Nunca o futuro é presente. 

          Que cismas, homem? – Perdido 
          No mar das recordações, 
          Escuto um eco sentido 
          Das passadas ilusões. 
          Que buscas, homem? – Procuro, 
          Através da imensidade, 
          Ler a doce realidade 
          Das ilusões do futuro. 
          
          Dois horizontes fecham nossa vida. 

Machado de Assis. in Crisálidas. Civilização Brasileira, 1976. 

29 de ago. de 2015

Teus Olhos São Duas Fontes :: Amália Rodrigues


Geoffrey Dabb
Teus olhos são duas fontes
Que eu queria ver chorar
Água a correr pelos montes
Que chegasse ate ao mar

Teus olhos são meus pecados
Teus olhos pecados são
Que eu mesmo d'olhos fechados
Sei aonde teus olhos estão

Teus olhos são andorinhas
Que aparecem com o calor
Meu amor vê se adivinhas
O que já sabes de cor

Teus olhos duas asinhas
Que tu bates de mansinho
Teus olhos são andorinhas
Que perderam o caminho

23 de ago. de 2015

Borboletas :: Manoel de Barros

Yiannis Tsaroychis

Borboletas me convidaram a elas.
O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.
Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens e das coisas.
Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta seria, com certeza,
um mundo livre aos poemas.
Daquele ponto de vista:
Vi que as árvores são mais competentes em auroras do que os homens.
Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças do que pelos homens.
Vi que as águas têm mais qualidade para a paz do que os homens.
Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que os cientistas.
Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do ponto de vista de
uma borboleta.
Ali até o meu fascínio era azul.


5 de ago. de 2015

Poeminha sentimental :: Mario Quintana

Joan Miro
O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam
Preparativos de Viagem, 1987.

28 de fev. de 2015

Eu Sou Trezentos... :: Mário de Andrade

Giacomo Balla, 1913
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh ! Pirineus ! Ôh caiçaras !
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro !
Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis,
nas camarinhas seus próprios beijos !

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.

Remate de males, 1929.

11 de set. de 2013

A somar as nossas saudades de Machado de Assis



As andorinhas vinham agora em sentido contrário, ou não seriam as mesmas.
Nós é que éramos os mesmos;
ali ficamos, somando as nossas ilusões,
os nossos temores,
começando já a somar as nossas saudades.

Machado de Assis, Dom Casmurro.

27 de dez. de 2012

Quadras ao gosto popular



Teus brincos dançam se voltas 

A cabeça a perguntar. 

São como andorinhas soltas 

Que inda não sabem voar.

Fernando Pessoa in Quadras ao gosto popular 

9 de abr. de 2012

Andorinha de Manuel Bandeira



Andorinha lá fora está dizendo: 
- "Passei o dia à toa, à toa!"

Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste! 
Passei a vida à toa, à toa...

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...