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1 de mai. de 2022

Distração :: Adriane Garcia


O mundo e seus assuntos
Mundanos
A beleza da xícara trincada
Ficando despercebida
Entre os gritos dos socos
Na mesa
Todos resolveram parar
O trabalho e os dias
Para gritar
Truco!
Ganha quem engana melhor
Ganha a perspicácia
O poeta perdendo
Palavras como
Acácia
Uma feiura de implorar
Música
A Beleza desarrumadinha
Do lado, calada
Esperando vez.

21 de set. de 2020

De amar mucho tienes a palabra de Dulce María Loynaz

Salvador Dali

De amar mucho tienes 
a palabra que persuade, 
la mirada que vence 
y que turba...

De amar mucho dejas amor
en torno tuyo, el que pasa 
cerca y se huele el perfume
en el pecho, viene a creer
que tiene la rosa dentro...


fonte: Poemas sin nombre. Letras Cubanas, 1993.

http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/omara-portuondo-e-maria-bethania/poema-lxiv--palabras--palavras/2349610

27 de abr. de 2020

Dicionário das Tristezas Obscuras :: John Koenig

1. Adronitis
Frustrar-se com a quantidade de tempo necessário para se conhecer bem alguém.

 2. Aimonimia
Medo de que aprender o nome de algo – um pássaro, uma constelação, uma pessoa bonita – irá estragar tudo. Transformando uma descoberta do acaso em uma casca conceitual vazia.

3. Altschmerz
Exaustão diante dos problemas que você sempre teve – as mesmas falhas e ansiedades entediantes que vêm lhe atormentando por anos.

4. Ambedo
Tipo de transe melancólico no qual você se torna completamente absorto por pequenos detalhes sensoriais – pingos de chuva escorrendo pela janela, árvores altas se dobrando lentamente com o vento, espirais de creme se formando no café –  levando a uma devastadora constatação da fragilidade da vida.

5. Anchorage
Desejo de segurar o tempo enquanto ele passa, como tentar se segurar em uma pedra diante de uma forte correnteza bem no meio de um rio.

6. Anecdoche
Conversa em que todo mundo está falando mas ninguém está ouvindo.

7. Anemoia
Nostalgia de um tempo no qual você nunca viveu.

8. Anthrodynia
Estado de exaustão ao perceber como as pessoas podem ser horríveis umas com as outras.

9. Chrysalism
A tranquilidade confortável de se estar dentro de casa durante uma tempestade.

10. Ecstatic Shock
Onda de energia que surge ao olhar de relance para alguém que você gosta.

11. Ellipsism
Tristeza por não ser capaz de saber como a história vai terminar.

12. Énouement
Sensação agridoce por ter chegado no futuro, visto como tudo aconteceu, mas não poder contar para o seu ‘eu’ do passado.

13. Exulansis
Tendência de desistir ao tentar falar sobre uma determinada experiência porque as pessoas são incapazes de se relacionar com ela.

14. Gnossienne
Momento em que você percebe que alguém que você conhece há anos, tem uma vida interna, privada e misteriosa.

15. Jouska
Conversa hipotética que você repete compulsivamente na sua cabeça.

16. Kairosclerosis
Momento em que você percebe que está feliz – e tenta conscientemente aproveitar essa sensação – o que obriga seu intelecto a identificar e colocar a sensação em um contexto, onde a felicidade lentamente se dissolve até se tornar pouco mais do que um retrogosto.

17. Kenopsia
Atmosfera misteriosa e desamparada de um lugar que normalmente está cheio de gente, mas que agora está abandonado e quieto.
18. Lachesism
Desejo de ser atingido por um desastre – sobreviver a uma queda de avião, ou perder tudo em um incêndio.

19. Lalalalia
Dar-se conta, enquanto fala sozinho, que outra pessoa pode estar escutando, levando-o- a rapidamente transformar as palavras em um cantarolar sem sentido.
2
0. Lapyear
Idade em que você se torna mais velho de quando seus pais eram quando você nasceu.

21. Lethobenthos
Hábito de esquecer o quão importante uma pessoa é para você, até o momento em que você a encontra pessoalmente.

22. Liberosis
Desejo de se importar menos com as coisas.

23. Mimeomia
Frustração ao perceber o quão facilmente você se encaixa em um estereótipo.
24. Monachopsis
Sentimento sutil, porém persistente, de estar fora de lugar.

25. Moriturism
Perceber, como um solavanco durante um momento de insônia, que você vai morrer.
2
6. Nementia
O esforço que vem logo após um momento de distração, para lembrar porque é mesmo que você está se sentindo irritada, ou ansiosa, ou animada.

27. Nodus Tollens
Dar-se conta de que o roteiro da sua vida já não faz o menor sentido.

28. Occhiolism
Dar-se conta da pequenez da sua perspectiva. Com a qual você não tem como chegar a qualquer conclusão significativa sobre o mundo, o passado, ou as complexidades da cultura.

29. Onism
Frustração de estar preso em apenas um corpo que habita apenas um lugar por vez.

30. Opia
Intensidade ambígua de olhar alguém nos olhos, e sentir-se simultaneamente invasivo e vulnerável.

31. Reverse Shibboleth
Prática de atender o telefone com um “alô?” genérico, como se você já não soubesse quem está ligando.

32. Rückkehrunruhe
Sentimento de voltar para casa depois de uma viagem imersiva, e perceber que toda a experiência já está desaparecendo rapidamente da sua consciência.

33. Sonder
Dar-se conta de que cada pessoa tem uma vida tão vívida e complexa quanto a sua – preenchida por ambições, amigos, rotinas, preocupações e loucura.

34. Scabulous
Sentir orgulho de uma cicatriz. Como um autógrafo dado a você pelo mundo.

35. The Bends
A frustração ao perceber que você não está aproveitando uma experiência tanto quanto deveria.

36. Trumspringa
A tentação de sair da sua meta de carreira e se tornar pastor de ovelhas nas montanhas.

37. Vemödalen
Frustração ao fotografar algo incrível quando milhares de outras fotos idênticas já existem.

38. Vemödalen
Medo de que tudo já tenha sido feito.

39. Waldosia
Olhar para todos os rostos em uma multidão, procurando uma pessoa específica que não teria motivo algum para estar aí.

40. Zenosyne
Sensação de que o tempo está passando cada vez mais rápido.


 Não se trata de uma tentativa de condensar emoções e rotulá-las em novos conceitos. O “Dicionário das Tristezas Obscuras” é, em si mesmo, poesia. São ideias e sensações sublimadas em arte.
Não são palavras prisioneiras das limitações próprias do que se define. O trabalho de Koenig é criação, expressão livre e artística, que proporciona a identificação com a subjetividade humana.
fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/The_Dictionary_of_Obscure_Sorrows

30 de jan. de 2018

"Preciso" :: Eucanaã Ferraz

Childe Hassam 
 
Meu esforço para que os dias
tenham vinte e quatro horas, ossos,
o sol, a noite, para que ruas, praças
e túneis estejam nos seus lugares.

Meu esforço para que a voz se mova
na fibra exata, para que a cidade,
cada dedo de sua álgebra, não desabe,
para que as fábulas, risos e palavras

estejam no ponto certo, assim como
as pedras, prédios e montanhas
que mantenho quietos a custo.
Amor a quanto obriga.

Meu esforço, faina de todo dia,
para que disso tudo ele nada perceba.
E ele nada percebe. Chove,
e só eu sei.

24 de jul. de 2017

Gosto das palavras :: Eugénio de Andrade

Monet
"...gosto das palavras que sabem a terra, a água, aos frutos de fogo do verão, aos barcos no vento; gosto das palavras lisas como seixos, rugosas como pão de centeio. Palavras que cheiram a feno e a poeira, a barro e a limão, a resina e a sol."

in Ensaios reunidos de Luís Miguel Nava

16 de nov. de 2016

Claridades de Cecília Meireles


E como o bom uso das palavras e o bom uso do pensamento são uma coisa só e a mesma coisa, conhecer o sentido de cada uma é conduzir-se entre claridades, é construir mundos tendo como laboratório o Dicionário, onde jazem, catalogados, todos os necessários elementos.

Eu levaria o Dicionário para a ilha deserta. O tempo passaria docemente, enquanto eu passeasse por entre nomes conhecidos e desconhecidos, nomes, sementes e pensamentos e sementes das flores de retórica.

Poderia louvar melhor os amigos, e melhor perdoar os inimigos, porque o mecanismo da minha linguagem estaria mais ajustado nas suas molas complicadíssimas. E sobretudo, sabendo que germes pode conter uma palavra, cultivaria o silêncio, privilégio dos deuses, e ventura suprema dos homens.


Fonte: SÃO PAULO, FOLHA DA MANHÃ, 11 DE JULHO DE 1948)

30 de jun. de 2016

Começo de Rui Pires Cabral

Vejo-te um pouco como se já não houvesse 
uma casa para nós. As grandes perguntas estão aí
por todo o lado, onde quer que se respire, dentro
dos próprios frutos. É o começo da noite
e os cinzeiros já estão cheios de meias palavras:
porque escolhemos tão pouco
aquilo que nos pertence?
Vejo-te de olhos fechados enquanto me confiavas
a tua história – à mesa da cozinha, quase um espelho,
quase uma razão. As minhas canções preferidas
pareciam convergir para ti a certa altura, dir-se-ia
que te vestias com elas. E no entanto
como se apressaram as grandes florestas a invadir
as gavetas, como misturaram as raízes
no eco que fazia o teu desejo contra mim.


16 de jun. de 2016

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos de Mario Quintana



Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim... 
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo, 
porém não sei que luz as iluminaria 
que terias de fechar teus olhos para as ouvir... 
Sim! Uma luz que viria de dentro delas, 
como essa que acende inesperadas cores 
nas lanternas chinesas de papel! 
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas 
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te 
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento 
da Poesia... 
como uma pobre lanterna que incendiou!

8 de dez. de 2015

Ah! Palavras :: Silvana Conterno :


John William Godward
Ah! Palavras que não cabem em si
Tentam e não conseguem ser concisas 
Como caberão em mim?
Não encontram sons
Que as encorpem
Vagam entorpecidas
E como toda palavra
Quer ser reconhecida
Para ganhar vida 
Transbordam
Na forma líquida

17 de nov. de 2015

Na Casa das Palavras :: Eduardo Galeano (Montevidéu, 3 de setembro de 1940- 2015)

Na Casa das  Palavras, sonhou Helena Villagra, chegavam os poetas.
As palavras, guardadas em velhos frascos de cristal,
esperavam pelos poetas e se ofereciam,
loucas de vontade de ser escolhidas:
Elas rogavam aos poetas...
Que as olhassem... as cheirassem... as tocassem... as provassem!
Os poetas  abriam os frascos,
provavam palavras com o dedo e então...
lambiam os lábios ou fechavam a cara.
Os poetas andavam em busca de palavras que não conheciam,
e também buscavam palavras que conheciam e tinham perdido.
Na casa das palavras havia uma mesa das cores.
Em grandes travessas as cores eram oferecidas,
E cada poeta se servia da cor que estava precisando:
amarelo-limão ou amarelo-sol,
azul do mar ou de fumaça,
vermelho-lacre, vermelho-sangue, vermelho-vinho...

.....

A la casa de las palabras, soñó Helena Villagra, acudían los poetas. Las palabras, guardadas en viejos frascos de cristal, esperaban a los poetas y se les ofrecían, locas de ganas de ser elegidas: ellas rogaban a los poetas que las miraran, que las olieran, que las tocaran, que las lamieran. Los poetas abrían los frascos, probaban palabras con el dedo y entonces se relamían o fruncían la nariz. Los poetas andaban en busca de palabras que no conocían , y también buscaban palabras que conocían y habían perdido.
En la casa de las palabras había una mesa de los colores. En grandes fuentes se ofrecían los colores y cada poeta se servía del color que le hacía falta: amarillo limón o amarillo sol, azul de mar o de humo, rojo lacre, rojo sangre, rojo vivo...

fonte: El libro de los abrazos.

9 de nov. de 2015

Palavras-amálgamas :: Silvana Conterno

 Henrique Martins
Não joguei fora o que quebrou
Junto cacos, na esperança
de um dia ser inteira
Com as marcas da colagem
Traço o mapa em que me forjei
Desenho único e estranho
Finos traços e queloides
Quem se aproxima e me toca
De olhos fechados me reconhece
Sente planícies calmas, regaço acolhedor
alguns penhascos de dar vertigem
e cicatrizes profundas
Que hoje preencho
com palavras-amálgamas 
que a vida me doou


23 de out. de 2015

Para guardar :: ANA ESTAREGUI


anotou em seu moleskine a palavra laringe.
o poema, em geral, cresce em volta de uma palavra estranha.
às vezes nem tão estranha, mas que provoca uma pequena paralisia.
[e eu adoro ser flagrada por essas palavras]
elas interrompem o meu dia, param tudo mesmo.
de vez em quando, quando posso,
pego elas com as mãos
e aí desenho um espaço pra elas, feito de letras.

17 de out. de 2015

Sobre a exaustão das retinas :: GREGORIO DUVIVIER ( 1986)

Georges Seurat 

já não me diz nada um por do sol em cancun
e um coqueiro em alto-mar já vagou por protetores
de tela demais para me causar qualquer sensação
de bem-estar; os casais parisienses que habitam
calendários já não me dão sequer vontade
de ir a paris assim como não me comovem
mais as crianças de sebastião salgado nem
a menina que foge do ataque do napalm
e que em breve estampará cangas e biquínis;
as imagens estão gastas e não há nenhuma
que erga pontes como a palavra que.

6 de out. de 2015

A turma :: Manoel de Barros

A gente foi criado no ermo igual ser pedra.
Nossa voz tinha nível de fonte.
A gente passeava nas origens. Bernardo conversava pedrinhas
com as rãs de tarde.
Sebastião fez um martelo de pregar água
na parede.
A gente não sabia botar comportamento
nas palavras.
Para nós obedecer a desordem das falas
Infantis gerava mais poesia do que obedecer
as regras gramaticais.
Bernardo fez um ferro de engomar gelo.
Eu gostava das águas indormidas.
A gente queria encontrar a raiz das
palavras.
Vimos um afeto de aves no olhar de
Bernardo.
Logo vimos um sapo com olhar de árvore!
Ele queria mudar a Natureza?
Vimos depois um lagarto de olhos garços beijar as pernas da Manhã!
Ele queria mudar a Natureza?
Mas o que nós queríamos é que a nossa
palavra poemasse.

29 de jul. de 2015

A Palavra :: Carlos Drummond de Andrade

Anna Cunha 
Já não quero dicionários
consultados em vão.
Quero só a palavra
que nunca estará neles
nem se pode inventar.
Que resumiria o mundo
e o substituiria.
Mais sol do que o sol,
dentro da qual vivêssemos
todos em comunhão,
mudos,
saboreando-a.


26 de jul. de 2015

Para guardar :: Ana Estaregui


anotou em seu moleskine a palavra laringe.
o poema, em geral, cresce em volta de uma palavra estranha.
às vezes nem tão estranha, mas que provoca uma pequena paralisia.
[e eu adoro ser flagrada por essas palavras]
elas interrompem o meu dia, param tudo mesmo.
de vez em quando, quando posso,
pego elas com as mãos
e aí desenho um espaço pra elas, feito de letras.

12 de jul. de 2015

Ainda lembrei de suas palavras :: Mia Couto


Valentin Serov
Ainda lembrei de suas palavras amadurecendo uma esperança para mim quando eu de tudo descria:
-Não vê os rios que nunca enchem o mar? A vida de cada um também é assim: está sempre toda por viver.
In:  O último voo do flamingo

11 de jul. de 2015

Perto muito perto :: Helder Moura Pereira

 Robert Henri, 1903

Perto muito perto
Chego ao pé do limite,
o corpo cansado
traz as setas
do sono e a noite
esconde a alegria.
Onde tudo acontece
passam as imagens,
pressinto as nuvens
sobre os navios, o eco
de sons de aviso.
Como se inquieta
a cabeça tocando outra
na luz atravessada
de luzes. Chego à ponta
dos dedos, à esquina
da memória, adormeço, não
adormeço, canto
para adormecer.
Tudo parte de baixo
para a paisagem
do tecto, alegro-me
porque não é preciso
falar. O que sentes
está aí tão à vista
desaba sobre os olhos
o falso espaço
da casa. E a manhã
perde a luz
que só havia nas palavras.

             (Para não falar)

15 de jun. de 2015

Despedida :: Rubem Braga

E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

fonte: A Traição das Elegantes.  Sabiá, 1967.  p. 83.

4 de jun. de 2015

NOSSA HISTÓRIA :: Yehuda Amichai

Andrew Wyeth
Na história de nosso amor, um foi sempre
Uma tribo nômade, outro uma nação em seu próprio solo.
Quando trocamos de lugar, tudo tinha acabado.
O tempo passará por nós, como paisagens
Passam por trás de atores parados em suas marcas
Quando se roda um filme.
As palavras
Passarão por nossos lábios, até as lágrimas
Passarão por nossos olhos.
O tempo passará
Por cada um em seu lugar.
E na geografia do resto de nossas vidas,
Quem será uma ilha e quem uma península.
Ficará claro pra cada um de nós no resto de nossas vidas
Em noites de amor com outros.

tradução de Millôr Fernandes

Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector

     Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma flor...