31 de jul. de 2017

HOMEM EM PREPARATIVOS :: ANÍBAL M. MACHADO

Ando sempre em preparativos.

Acumulo material, encomendo peças. Junto o necessário. Tomo
todas as providências. E trato também da ornamentação.

Com isso, vou-me distraindo. Troco coisas e ideias. Alguns me
ajudam, servem-se também de mim. E todos assim nos distraímos
nesses preparativos.

Mas com que seriedade! Com que paixão!

Nos momentos de intervalo, construímos cidades, casamos,
discutimos, entramos na guerra.

Preparamo-nos todos para qualquer coisa que ainda não aconteceu.
Há dezenas de anos tem sido assim. Há milhares de anos...

adoro os detalhes que aliviam o peso do conjunto. O que me atrapalha,
porém, não é tanto o tempo perdido na escolha do material – isso
até me preenche as horas – o que me atrapalha é a rapidez com
que as coisas se deterioram.

Às vezes recebo intimações para acabar depressa. Mas desconfio
e faço cera. Acabar depressa, o quê?

Saio então a ver se encontro qualquer coisa que seja bem difícil
de achar – acontecimento ou mulher.

Meu medo é a interrupção dessa busca por colapso de entusiasmo
ou pela aparição fácil do objeto.

Procuro sempre... Procuro sem remitência. Invento novas dificuldades.

Adoro os obstáculos...

Vivo assim amontoando, renovando, corrigindo, experimentando,
caindo e me aprumando.

Assim não chegará jamais o dia da minha inauguração. Pois o meu
pavor é a viagem concluída, a coisa acabada...

o meu pavor é a estátua de pedra, o feixe de ossos gelando
na chuva ou debaixo da terra.

... enquanto vocês aí fora continuam procurando, procurando...

Não. Nunca serei inaugurado.




In: Cadernos de João.  1957

Elizabeth Patterson (1954, Pennsylvania, EUA)

















30 de jul. de 2017

Não: devagar :: Fernando Pessoa (Álvaro de Campos )

Não: devagar.
Devagar, porque não sei
Onde quero ir.
Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.
Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.
Devagar...
Sim, devagar...
Quero pensar no que quer dizer
Este devagar...
Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
TaIvez a impressão dos momentos seja muito próxima...
Talvez isso tudo...
Mas o que me preocupa é esta palavra devagar...
O que é que tem que ser devagar?
Se calhar é o universo...
A verdade manda Deus que se diga.
Mas ouviu alguém isso a Deus?

30-12-1934
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).  p.71.

26 de jul. de 2017

O Que é Escrever? :: Agustina Bessa-Luís

Johannes Vermeer

Escrever é isto: comover para desconvocar a angústia e aligeirar o medo, que é sempre experimentado nos povos como uma infusão de laboratório, cada vez mais sofisticada. Eu penso que o escritor com maior sucesso (não de livraria, mas de indignação social profunda) é aquele que protege os homens do medo: por audácia, delírio, fantasia, piedade ou desfiguração. Mas porque a poética precisão de dum acto humano não corresponde totalmente à sua evidência. Ama-se a palavra, usa-se a escrita, despertam-se as coisas do silêncio em que foram criadas. Depois de tudo, escrever é um pouco corrigir a fortuna, que é cega, com um júbilo da Natureza, que é precavida.

Agustina Bessa-Luís, in "Contemplação Carinhosa da Angústia"

Coca: do quíchua kuka (Erytroxylum coca) (do quíchua kuka)





Erytroxylum coca
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Malpighiales
Família: Erythroxylaceae
Género: Erythroxylum
Espécie: E. coca
Nome binomial
Erythroxylum coca
Lam.
Coca (do quíchua kuka) é uma planta da família Erythroxylaceae, seu nome científico é Erythroxylum coca. Nativa da Bolívia e do Peru, tem porte arbustivo/arbóreo e pode ficar frondosa, suas flores são amarelo-alvacentas, pequenas e aromáticas, solitárias ou reunidas em cimeiras, os frutos drupáceos oblongos, vermelhos, e cujas folhas possuem 14 alcaloides, e dentre eles a cocaína.

O extrato de coca possui diversos compostos orgânicos e inorgânicos, como na maioria da plantas. Há proteínas, vitaminas, carboidratos, gorduras, fibras, cálcio, fósforo e ferro, entre outros oligoelementos.[carece de fontes] As propriedades analgésicas da coca foram descobertas pelos incas e até hoje as suas folhas são habitualmente mascadas na região dos Andes. Os efeitos do alcalóide (cocaína) podem aplacar a fome e a fadiga.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre

24 de jul. de 2017

Olaf Hajek (1965 Rendsburg, Alemanha)











































Gosto das palavras :: Eugénio de Andrade

Monet
"...gosto das palavras que sabem a terra, a água, aos frutos de fogo do verão, aos barcos no vento; gosto das palavras lisas como seixos, rugosas como pão de centeio. Palavras que cheiram a feno e a poeira, a barro e a limão, a resina e a sol."

in Ensaios reunidos de Luís Miguel Nava

21 de jul. de 2017

Lobeira ou Fruta-do-lobo, jurubebão, beringela-do-campo ou maçã-do-cerrado (Solanum lycocarpum)






A Lobeira ou Fruta-do-lobo (Solanum lycocarpum) é uma belíssima espécie encontrada no Cerrado (São Paulo, de Minas Gerais, de Goiás, de Mato Grosso e do Tocantins, além do Distrito Federal). Pertence à família Solanaceae, a mesma do tomate e do jiló. Esta família apresenta mais de 96 gêneros de plantas espalhados por todo o mundo.
A lobeira também conhecida por jurubebão, beringela-do-campo ou maçã-do-cerrado, pode ser um pequeno arbusto ou uma árvore de até 5 metros de altura.
A flor da lobeira é hermafrodita de uma incrível beleza em sua cor azul arroxeada com o estigma amarelo
Folhas grandes, ovaladas com pilosidade branca que as tornam brilhantes ao sol.
A fruta é um pouco maior que uma laranja arredondada atingem até 13 cm de diâmetro, de cor verde ao amadurecer fica com tons marrons. Exala um perfume delicioso que ao entardecer fica ainda mais forte abrangendo grande área, atraindo os que dela necessita.
Não é por acaso que a lobeira possui este nome: trata- se de espécie muito apreciada pelo lobo-guará, o verdadeiro lobo brasileiro - animal em extinção, habitante da região dos cerrados - constituindo-se em um de seus principais alimentos .
Representa até 50% da dieta alimentar do lobo-guará, acreditando-se que tenha ação terapêutica contra o verme-gigante-dos-rins, que é muito frequente e geralmente fatal no lobo.
A polpa é enjoativa, possui cheiro muito ativo e penetrante e contém alcalóides de natureza pouco conhecida. São macios, meio jaca, meio manga, só que atenuadas. E é perfumada como chiclete de tutti-fruti.Constituintes químicos: taninos.
A infusão da raiz da lobeira é usada contra hepatite e o xarope dos frutos, contra asma.
Um pó branco extraído do fruto verde é também utilizado para combater diabetes e eplepsia. Os frutos verdes contêm solasodina, substância química precursora de esteróides
fonte: http://www.caliandradocerrado.com.br/2009/02/fruta-do-lobo.html