Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
28 de jan. de 2019
25 de jan. de 2019
Treino :: Lia Scorsi
TREINO
para o treinador Diego que tem um lindo terço tatuado do lado direito de sua perna
1.
sobedesce, sobedesce
20 quilos
ombros fortes
fé no halteres
2.
abrefecha, abrefecha
15 quilos
peck deck
o peito eleva
3.
agachalevanta, agachalevanta
3 x 15
respiração
glúteos em oração
4.
extensãoredução, extensãoredução
20 quilos
leg press
pernas pedem perdão
5. 6. 7. 8. 9. 10.
Completa a sequência
Haja clemência
treino ombros
treino braços
treino o peito
antebraços
treino as costas
treino as pernas
treino as coxas
treino os glúteos
a panturrilha
o abdômem
segunda quarta e sexta
a mesma cantilena
terça quinta e sábado
é outra a chorumela
domingo dia de missa e comunhão
a hóstia alveja o corpo distenso
o cloreto de sódio pede indulgência
e todos pecados perdoados são
24 de jan. de 2019
Quando você sorri :: Yehuda Amichai (1924-2000
william merritt chase
Quando você sorri
As idéias serias se exaurem.
De noite as montanhas ficam quietas ao teu lado,
de manhã a areia te acompanha os passos até a praia.
Quando você me faz coisas agradáveis,
todas as indústrias pesadas encerram atividades.
Quando você sorri
As idéias serias se exaurem.
De noite as montanhas ficam quietas ao teu lado,
de manhã a areia te acompanha os passos até a praia.
Quando você me faz coisas agradáveis,
todas as indústrias pesadas encerram atividades.
tradução: Miriam Adelman e Claudia Borio
23 de jan. de 2019
D. Quixote: Cervantes, Portinari, Drummond
Portinari
Disquisição na Insónia
Que é loucura ser cavaleiro andante
ou segui-lo, como escudeiro?
De nós dois, quem o louco verdadeiro?
O que, mesmo vendado,
vê o real e segue o sonho
de um doido pelas bruxas embruxado?
Eis-me, talvez, o único maluco,
e me sabendo tal, sem grão de siso,
sou – que doideira – um louco de juizo.
22 de jan. de 2019
Dançar :: Angeles Arrien
Chagall
Em muitas sociedades xamânicas, se alguém recorria a um xamã ou curandeiro queixando-se de desalento, desânimo ou depressão, ele fazia uma de quatro perguntas: quando deixou de dançar? quando deixou de cantar? quando deixou de se encantar com os contos? quando deixou de encontrar consolo no doce território do silêncio? Assim que deixamos de dançar, de cantar, de nos sentirmos enfeitiçados pelos contos ou de encontrarmos consolo no silêncio, experimentamos a perda da alma. Dançar, cantar, contar histórias e o silêncio são os quatro bálsamos curativos universais.
21 de jan. de 2019
20 de jan. de 2019
19 de jan. de 2019
15 de jan. de 2019
14 de jan. de 2019
Não há dor que dure para sempre! :: Chico Buarque de Holanda
Minha mãe sempre diz: Não há dor que dure para sempre!
Tudo é vário. Temporário. Efêmero. Nunca somos, sempre estamos!
E apesar de saber de tudo isso. Por que algumas dores duram tanto?
Por que alguns sentimentos (diga-se de passagem os mais ridículos) demoram tanto a passar?
Por que olhar pra ele reaviva esperanças perdidas e suscitas lágrimas quentes até então contidas?
Por que o cérebro ainda não inculcou no coração que esquecer faz bem a saúde?
Por que tudo não pode ser como um bonito filme francês?
Tudo é vário. Temporário. Efêmero. Nunca somos, sempre estamos!
E apesar de saber de tudo isso. Por que algumas dores duram tanto?
Por que alguns sentimentos (diga-se de passagem os mais ridículos) demoram tanto a passar?
Por que olhar pra ele reaviva esperanças perdidas e suscitas lágrimas quentes até então contidas?
Por que o cérebro ainda não inculcou no coração que esquecer faz bem a saúde?
Por que tudo não pode ser como um bonito filme francês?
Leite Derramado
13 de jan. de 2019
Carta a Ute, desaparecida na noite de ontem :: Roberto Taddei
Querida Ute,
Desisti de buscar no passado qualquer justificativa para explicar
como vamos vivendo sem poesia nesse país esses dias
Poderia me esforçar para dizer como foram feitas as escolhas
da minha geração e as minhas e separar as reativas das reacionárias
Mas você sabe muito bem que as histórias são mentirosas
e eu faria papel de palhaço aqui
A verdade é que não somos nós quem decidimos as coisas, Ute.
Fazemos apenas na medida em que nos restam os espaços para tanto
E é sobre isso que escrevo,
É o que tentei dizer ontem mas você
tendo estado o tempo todo sob efeito de entorpecentes
não teve disposição para ouvir.
Ainda assim é preciso falar sobre essa condição inevitável do poeta contemporâneo
É nos espaços que está a poesia, ou que se forma a poesia, talvez.
Como se forma a poesia é questão da qual trataremos outro dia
Falo dos espaços, Ute. Não de apartamentos ou quartos, com janelas e vistas amplas
para rios e praias, montanhas ou esquinas com quatro ou cinco cantos
Mas os espaços entre as coisas, especificamente entre os seres,
que é o espaço que se transfigura em tempo, Ute.
E tempo é poesia,
E é também silêncio.
12 de jan. de 2019
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