Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
28 de set. de 2020
21 de set. de 2020
De amar mucho tienes a palabra de Dulce María Loynaz
http://www.radio.uol.com.br/#/letras-e-musicas/omara-portuondo-e-maria-bethania/poema-lxiv--palabras--palavras/2349610
18 de set. de 2020
É mentira que existe a cura para a dor de perder alguém amado.:: Noemi Jaffe
Queremos abraçar, beijar, ver os olhos e o sorriso e não imaginar uma energia invisível.
Tudo isso parece se agravar ainda mais, quando a morte ocorre de forma rápida e inesperada, como durante essa terrível pandemia de Covid-19. Vem um abalo externo, como que do nada, arrebata alguém que nem apresentava doenças e pronto: perde-se uma mãe, um marido, um irmão, uma amiga. E tudo isso, a morte inexplicável, somado a um governo inoperante que, ainda por cima, estimula práticas que só fazem aumentar o risco. A sensação de impotência, muito forte diante da morte, fica ainda maior nesse cenário.
O tempo vai passando, vamos lembrando de gestos, palavras, pequenos hábitos cotidianos e reparando que, por um lado, a dor cresce e, por outro, vamos esquecendo de algumas coisas. Isso aflige o coração e o corpo e nos sentimos culpados, cansados e saudosos. Olhamos fotografias, escutamos a voz, na tentativa de reter aquilo que sempre nos escapa. Ao mesmo tempo, acompanhamos as notícias e nada muda; as estatísticas oscilam, a doença volta, a vacina se anuncia. Não sabemos de nada em todos os níveis.
A prática da hospitalidade, milenar, ensina que, antes de sabermos o nome do hóspede e os motivos de sua visita, é preciso acolhê-lo, dar de comer e de beber, oferecer uma boa cama e uma noite de sono para que só depois, no dia seguinte, perguntemos sobre sua origem e necessidades.
Penso que, com a morte, é também possível praticar a hospitalidade. Acolher a dor, dar de comer e de beber a ela, permitir que ela descanse. Acolhê-la, num primeiro momento, sem saber o que fazer com ela nem por que ela não vai embora.
Depois de um tempo recebendo-a e vendo que, em seu descanso íntimo, ela se acomodou tranquila, podemos começar a dialogar.
Dor, de onde você veio, o que você quer, o que posso fazer por você? Um hóspede sempre tem uma precisão, uma carência e, de alguma forma, sempre podemos auxiliá-lo. Um dia, certamente, também nós pediremos acolhida em outra morada.
Não existe cura para a morte, para a dor da perda e para a impotência diante de coisas muito maiores que nós. Mas existe a hospitalidade que, uma vez praticada, com continuidade e intensidade, pode levar a uma convivência mais harmoniosa com a angústia e com outros que também sentem algo semelhante.
Aos poucos – e é preciso que o processo seja lento – a pessoa que partiu vai se tornando um hóspede frequente; retorna, vai embora, desaparece por uns tempos só para voltar inesperadamente. Ela mora dentro e aprendemos a conhecê-la. A impotência pode virar aprendizado e uma chance de pequenas ações – aproximar-se de outros, fazer coisas boas para quem precisa, sair de dentro de si.
Tempo e hospitalidade. Não curam, mas quem precisa de cura?
©2020 Santinho
15 de set. de 2020
Lista de supermercado com as coisas que acabaram (Põe na lista o refil disso aí que acabou): Paulo Cândido.
14 de set. de 2020
Esses que continuam a amar :: Fatos Arapi (poeta albanes)
8 de set. de 2020
O tempo :: Manoel de Barros
7 de set. de 2020
HISTÓRIA DA PÁTRIA :: Ascenso Ferreira (1895-1965)
3 de set. de 2020
A partida :: Franz Kafka
Eu ordenei que meu cavalo fosse tirado do estábulo. O servo não me entendeu. Eu fui por conta própria ao estábulo, selei meu cavalo e o montei. Ouvi na distância uma trombeta soar e perguntei a ele o que aquilo significava. Ele não sabia de nada e não tinha ouvido nada. No portão ele me parou e me perguntou:
– Para onde o senhor cavalga?
– Eu não sei – eu disse – apenas embora daqui, apenas embora daqui. Sempre adiante, embora daqui, só assim eu posso alcançar meu objetivo.
– Você conhece então seu objetivo? – ele perguntou.
– Sim – eu respondi – eu já disse: “Emboradaqui”, este é meu objetivo.
– Você não está levando nenhuma provisão de comida – ele disse.
– Eu não preciso de nenhuma. – eu disse. – A viagem é tão longa que eu devo morrer de fome se não receber nada no meio do caminho. Nenhuma provisão pode me salvar. Por sorte é mesmo uma viagem verdadeiramente imensa.
tradução: Tomaz Amorim Izabel
Uma imagem de prazer :: Clarice Lispector
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