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17 de abr. de 2015

Somos Iguais Hoje ao que Fomos Outrora :: Haruki Murakami

Gopal Murti

- Eu também aprecio os livros de História. Ensinam-nos que, basicamente, somos iguais hoje ao que fomos outrora. Pode haver diferenças insignificantes em termos de vestuário e de estilo de vida, mas não há grande diferença no que pensamos e fazemos. No fundo, os seres humanos não passam de veículos, ou locais de passagem, para os genes. De geração em geração, correm dentro de nós até nos esgotarem, como cavalos de corrida. Os genes não pensam no bem e no mal. Não querem saber se somos felizes ou infelizes. Para eles, não passamos de um meio para atingir um fim. Só pensam no que é mais eficaz do seu ponto de vista.
- Apesar de tudo, não conseguimos deixar de pensar no bem e no mal. Não é o que está a dizer?
A senhora anuiu.
- Precisamente. As pessoas «têm» de pensar nessas coisas. Mas os genes são o que controla a base da forma como vivemos. Como é natural, as contradições surgem.

in '1Q84'

27 de set. de 2012

Lygia Fagundes Telles



Se a vida estiver lá fora, nessas vozes que desdenhei? E se o desvio da minha rota foi exatamente esse que escolhi? Mas haverá ainda tempo?

Fico olhando o besourinho lustroso, de pintas vermelhas no verde-esmeralda das asas. Atravessa minha mesa num andar enérgico, decidido - de onde veio e para onde vai? Toco-o com a ponta do dedo e imediatamente ele se imobiliza dentro da pequena carapaça, se faz de morto. Sua tática de defesa me emociona, também me fiz de morta tantas vezes. Tenho vontade de colher o besourinho na palma da mão e levá-lo até os potes de samambaia, não seria mais feliz lá? Fico vacilante, o que é bem para mim pode ser o mal para ele. A ambiguidade do Bem. Afasto-me para que ele não se sinta tolhido, quero-o livre. Observo de longe a bolinha verde-esmeralda que ressuscita e retoma sua marcha. Retomo a minha.

Do livro:  A disciplina do amor