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18 de jun. de 2015

O QUE APRENDI NAS GUERRAS :: Yehuda Amichai

O que eu aprendi nas guerras
A marchar no ritmo de braços e pernas
Como bombas bombeando um poço vazio.

A marchar numa fila e sozinho no meio,
A enterrar em travesseiros,
Colchões de penas,
O corpo de uma mulher amada.
E a gritar "mamãe"
Quando ela não pode ouvir,
E a gritar por "deus"
Quando eu não creio nele,
E mesmo que acreditasse nele,
Eu não lhe falaria sobre a guerra,
Como a uma criança não se fala
Dos horrores adultos.

Que mais eu aprendi.
Aprendi
A reservar um caminho para a retirada.
Em terras estrangeiras,
Alugar um quarto em hotel
Perto do aeroporto ou da estação de trem.
E mesmo em cerimônias nupciais
Ficar sempre de olho na pequena porta
Com o sinal "exit" em letras vermelhas.

Uma batalha começa
Como tambores rítmicos para dança e termina
Com uma "retirada ao amanhecer".
Amor proibido
Algumas vezes também começa e acaba assim.

Mas acima de tudo,
Aprendi a sabedoria da camuflagem,
Não ficar visível , não ser reconhecido,
Não me distinguir daquilo que me cerca,
Nem mesmo de quem amo.
Que pensem que sou uma moita
Ou um carneiro,
Uma árvore, a sombra de uma árvore,
Uma cerca viva, uma pedra morta,
Uma casa, o canto de uma casa.

Se eu fosse um profeta
Teria diminuído o brilho da visão
Escurecido minha fé com papel negro

E quando chegar meu tempo,
Endossarei a camuflagem de gala do meu fim:
Com branco de nuvens, bastante azul de céu
E estrelas infinitas.

 tradução: Millôr Fernandes


28 de fev. de 2012

Recomendação de Goethe

imagem Pedro Ruiz


Ai, que deve o homem esperar?
É melhor ficar inerte?
É melhor viver sem leme?
A algum amor se aferrar? 
Deve em tenda residir? 
Ou uma casa edificar? 
Deve se fiar em rocha, 
Tão sujeita a vacilar? 
A cada um o seu tanto... 
Cada qual rume, com fé, 
Pense onde se fixar 
E não caia estando em pé.