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17 de dez. de 2014

Sair :: Antonio Cícero

Vasile Dobrian

Largar o cobertor, a cama, o
medo, o terço, o quarto, largar
toda simbologia e religião; largar o
espírito, largar a alma, abrir a
porta principal e sair. Esta é
a única vida e contém inimaginável
beleza e dor. Já o sol,
as cores da terra e o
ar azul — o céu do dia —
mergulharam até a próxima aurora; a
noite está radiante e Deus não
existe nem faz falta. Tudo é
gratuito: as luzes cinéticas das avenidas,
o vulto ao vento das palmeiras
e a ânsia insaciável do jasmim;
e, sobre todas as coisas, o
eterno silêncio dos espaços infinitos que
nada dizem, nada querem dizer e
nada jamais precisaram ou precisarão esclarecer.


18 de out. de 2013

Não são apenas os relógios de Albano Martins


Também se pode

regressar sem partir. Não são apenas

os relógios que se atrasam, às vezes

é o próprio tempo. E todos

os cuidados são

então necessários. Há sempre

um comboio que rola

a nosso lado sem luzes

e sem freios. E pode

faltar-nos o estribo ou já

não haver lugar

na carruagem da frente.


escrito a vermelho. campo das letras, 1999


11 de mar. de 2012

Ausência de Carlos Drummond de Andrade

Andrew Wyeth

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.