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6 de dez. de 2014

O Ciúme – Guilherme de Almeida


Ricard, Louis-Gustave

Minha melhor lembrança é esse instante no qual
Pela primeira vez me entrou pela retina
Tua silhueta provocante e fina
Como um punhal.

Depois, passaste a ser unicamente aquela
Que a gente se habitua a achar apenas bela
E que é quase banal.

E agora que te tenho em minhas mãos e sei
Que os teus nervos se enfeixam todos em meus dedos
Que os teus sentidos são cinco brinquedos
Com que brinquei;

Agora, que não mais me és inédita, agora
Que compreendo que tal como te vira outrora
Nunca mais te verei;

Agora que de ti, por muito que me dês,
Já não me podes dar a impressão que me deste,
A primeira impressão que me fizeste,
Louco, talvez,

Tenho ciúme de quem não te conhece ainda
E, cedo ou tarde, te verá, pálida e linda pela primeira vez.

8 de ago. de 2013

O idílio suave de Guilherme de Almeida


Watteau
Chegas. Vens tão ligeira
e és tão ansiosamente esperada, que enfim,
nem te sentindo o passo e já te tendo inteira,
completamente em mim,
quando, toda Watteau, silenciosa, apareces,
é como se não viesses.

Vens... E ficas tão perto
de mim, e tão diluída em minha solidão,
que eu me sinto sozinho e acho imenso e deserto
e vazio o salão...
E, sem te ouvir nem ver, arde-me em febre a face,
como se eu te esperasse!

Partes. Mas é tão pouco
o que de ti se vai que ainda te vejo o arfar
do seio, e o teu cabelo, e o teu vestido louco,
e a carícia do olhar,
e a tua boca em flor a dizer-me doidices,
como se não partisses!