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10 de ago. de 2015

BAIRRO RECONQUISTADO :: Jorge Luis Borges

Maurice Brazil Prendergast
Ninguém viu a beleza das ruas
até que, pavoroso, num clamor,
se precipitou o céu esverdeado
num abatimento de água e de sombra.
A tempestade foi unânime
e malquisto aos olhares foi o mundo,
mas quando um arco abençoou
a tarde com as cores do seu perdão
e um cheiro a terra molhada
animou os jardins,
pusemo-nos a andar por entre as ruas
como por uma herdade recuperada,
e nos cristais houve generosidades de sol
e nas folhas luzentes
disse a sua trémula imortalidade o verão.

31 de dez. de 2014

FIM DE ANO ::

Salvador Dali

Nem o pormenor simbólico
de substituir um dois por um três
nem essa vã metáfora
que convoca um lapso que morre e outro que surge,
nem o cumprimento de um processo astronómico
atordoam ou minam
o planalto desta noite
e obrigam-nos a esperar
as doze irreparáveis badaladas.
A causa verdadeira
é a suspeita geral e confusa
do enigma do Tempo;
é o assombro em face do milagre
de que apesar de todos os acasos,
de que apesar de sermos
as gotas do rio de Heraclito,
perdure em nós alguma coisa:
imóvel,
alguma coisa que não encontrou o que procurava.

26 de dez. de 2014

O Sul :: Jorge Luis Borges


De um dos teus pátios ter olhado
as antigas estrelas,
e do banco da sombra ter olhado
essas luzes dispersas
que a minha ignorância não aprendeu a nomear
nem a ordenar em constelações,
ter sentido o círculo da água
na secreta cisterna,
o cheiro do jasmim, da madressilva,
o silêncio do pássaro a dormir,
o arco do saguão, a umidade
- essas coisas talvez sejam o poema.

:::::::::::::::::::

EL SUR
Desde uno de tus patios haber mirado

las antiguas estrellas,
desde el banco de
la sombra haber mirado
esas luces dispersas
que mi ignorancia no ha aprendido a nombrar
ni a ordenar en contelaciones,
haber sentido el circulo del agua
en el secreto aljibe,
el olor del jazmin y la madreselva,
el silencio del pájaro dormido,
el arco del zanguán, la hemedad
–esas cosas, acaso, son el poema.

de la edición 1969 de Fervor de Buenos Aires

22 de abr. de 2014

14 de fev. de 2014

Mistério de Jorge Luis Borges

Andrzej Dragan

No hay una sola cosa en el mundo que no sea misteriosa, 
pero ese misterio es más evidente en algunas cosas que en otras: 
en el mar, en el color amarillo, 
en los ojos de los ancianos y en la música...

fonte: El templo de Poseidón. Atlas

28 de abr. de 2013

O fazedor de Jorge Luis Borges


Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de moradas, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto.

BORGES, Jorge Luis. O fazedor. In: Obras completas (volume II). São Paulo: Editora Globo, 2000.

26 de abr. de 2013

Las cosas - Jorge Luís Borges

El bastón, las monedas, el llavero,
la dócil cerradura, las tardías
notas que no leerán los pocos días
que me quedan, los naipes y el tablero,
un libro y en sus páginas la ajada
violeta, monumento de una tarde
sin duda inolvidable y ya olvidada,
el rojo espejo occidental en que arde
una ilusoria aurora. Cuántas cosas,
limas, umbrales, atlas, copas, clavos,
nos sirven como tácitos esclavos,
ciegas y extrañamente sigilosas
durarán más allá de nuestro olvido;
no sabrán nunca que nos hemos ido.
....................................................................
A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro.
Um livro e em suas páginas a seca
Violeta, monumento de uma tarde
Sem dúvida inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
Nos servem como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além de nosso esquecimento;
Nunca saberão que nos fomos num momento.

23 de abr. de 2013

O ameaçado de Jorge Luis Borges

Leon Ferrari

É o amor. Terei de me esconder ou fugir.
Crescem as paredes de seu cárcere,
como em um sonho atroz.

A bela máscara mudou,
mas como sempre é a única.
De que me servirão meus talismãs:
o exercício das letras, a vaga erudição,
o aprendizado das palavras que usou
o vago norte para cantar seus mares e suas espadas,
a serena amizade, as galerias da biblioteca,
as coisas comuns, os hábitos,
o jovem amor de minha mãe,
a sombra militar de meus mortos,
a noite intemporal, o gosto do sonho?

Estar ou não é a medida do meu tempo.
O cântaro já se quebra sobre a fonte,
já se levanta o homem à voz da ave,
já escureceram os que olham pelas janelas,
mas a sombra não trouxe a paz.

É, eu sei, é o amor:
a ansiedade e o alívio de ouvir tua voz,
espera e a memória, o horror de viver o sucessivo.
É o amor com suas mitologias,
com suas pequenas magias inúteis.
Há uma esquina pela qual não me atrevo a passar.
Agora os exércitos me cercam, as hordas.
(este quarto é irreal; ela não o viu.)

O nome de uma mulher me delata.
Dói-me uma mulher por todo o corpo.

             ******************

Es el amor. Tendré que cultarme o que huir.
Crecen los muros de su cárcel, como en un sueño atroz.
La hermosa máscara ha cambiado, pero como siempre es la única.
¿De qué me servirán mis talismanes: el ejercicio de las letras,
la vaga erudición, el aprendizaje de las palabras que usó el áspero Norte para cantar sus mares y sus espadas,
la serena amistad, las galerías de la biblioteca, las cosas comunes,
los hábitos, el joven amor de mi madre, la sombra militar de mis muertos, la noche intemporal, el sabor del sueño?
Estar contigo o no estar contigo es la medida de mi tiempo.
Ya el cántaro se quiebra sobre la fuente, ya el hombre se
levanta a la voz del ave, ya se han oscurecido los que miran por las ventanas, pero la sombra no ha traído la paz.
Es, ya lo sé, el amor: la ansiedad y el alivio de oír tu voz, la espera y la memoria, el horror de vivir en lo sucesivo.
Es el amor con sus mitologías, con sus pequeñas magias inútiles.
Hay una esquina por la que no me atrevo a pasar.
Ya los ejércitos me cercan, las hordas.
(Esta habitación es irreal; ella no la ha visto.)
El nombre de una mujer me delata.
Me duele una mujer en todo el cuerpo.

7 de fev. de 2013

Outro poema dos dons : Jorge Luis Borges


Quero dar graças ao Divino
Labirinto dos efeitos e das causas 
Pela diversidade das criaturas 
Que formam este singular universo, 
Pela razão, que não cessará de sonhar 
Com um plano do labirinto, 
Pelo rosto de Helena e a perseverança de Ulisses, 
Pelo amor que nos deixa ver os outros 
Tal como os vê a divindade, 
Pelo firme diamante e pela água solta, 
Pela álgebra, palácio de precisos cristais, 
Pelas místicas moedas de Ângelus Silesius, 
Por Schopenhauer, 
Que talvez tenha decifrado o universo, 
Pelo fulgor do fogo 
Que nenhum ser humano pode olhar sem
um assombro antigo, 
Pela carnaúba, o cedro e o sândalo, 
Pelo pão e pelo sal, 
Pelo mistério da rosa, 
Que prodiga cor e que não a vê, 
Por certas vésperas e dias de 1955, 
Pelos rijos tropeiros que na planura 
Arreiam os animais e a aurora, 
Pelas manhãs de Montevidéu, 
Pela arte da amizade, 
Pelo último dia de Sócrates, 
Pelas palavras que num crepúsculo foram ditas 
De uma cruz a outra cruz, 
Por aquele sonho do Islã que abarcou 
Mil noites e uma noite, 
Por aquele outro sonho do inferno, 
Da torre do fogo que purifica 
E das estrelas gloriosas, 
Por Swedenborg, 
Que conversava com os anjos nas ruas de Londres, 
Pelos rios secretos e imemoriais 
Que convergem em mim, 
Pelo idioma que, faz séculos, falei
na Nortúmbria, 
Pela espada e pela harpa dos saxões, 
Pelo mar, que é um deserto resplandecente 
E um número de coisas que não sabemos, 
Pela música verbal da Inglaterra, 
Pela música verbal da Alemanha, 
Pelo ouro, que resplende nos versos, 
Pelo épico inverno, 
Pelo título de um livro que não li: 'Gesta Dei per Francos', 
Por Verlaine, inocente como os pássaros, 
Pelo prisma de cristal e o pêndulo de bronze, 
Pelas listras do tigre, 
Pelas altas torres de São Francisco e da Ilha de Manhattan, 
Pela manhã no Texas, 
Por aquele sevilhano que redigiu a Epístola Moral 
E cujo nome, como ele teria preferido, ignoramos, 
Por Sêneca e Lucano, de Córdoba, 
Que antes do espanhol escreveram 
Toda a literatura espanhola,
Pelo jogo de xadrez, geométrico e bizarro, 
Pela tartaruga de Zenão e o mapa de Royce, 
Pelo cheiro medicinal dos eucaliptos, 
Pela linguagem, que pode simular a sapiência, 
Pelo esquecimento, que anula ou modifica o passado, 
Pelo hábito, 
Que nos repete e confirma como um espelho, 
Pela manhã, que nos depara a ilusão de um começo, 
Pela noite, sua treva e sua astronomia, 
Pela coragem e a felicidade dos outros, 
Pela pátria, percebida nos jasmins 
Ou numa espada velha, 
Por Whitman e Francisco de Assis, que já escreveram o poema, 
Pelo fato de que o poema é inesgotável 
E se confunde com a soma das criaturas 
E não chegará jamais ao último verso 
E varia como os homens, 
Por Frances Haslam, que pediu perdão a seus filhos 
Por morrer tão devagar, 
Pelos minutos que precedem o sono, 
Pelo sono e a morte, 
Esses dois tesouros ocultos, 
Pelos íntimos dons que não enumero, 
Pela música, misteriosa forma do tempo.

Tradução de Paulo Mendes Campos
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OTRO POEMA DE LOS DONES

Jorge Luis Borges

Gracias quiero dar al divino Laberinto de los efectos y de las causas
Por la diversidad de las criaturas que forman este singular universo,
Por la razón, que no cesará de soñar con un plano del laberinto,
Por el rostro de Elena y la perseverancia de Ulises,
Por el amor, que nos deja ver a los otros como los ve la divinidad,
Por el firme diamante y el agua suelta,
Por el álgebra, palacio de precisos cristales,
Por las místicas monedas de Ángel Silesio,
Por Schopenhauer, que acaso descifró el universo,
Por el fulgor del fuego,
Que ningún ser humano puede mirar sin un asombro antiguo,
Por la caoba, el cedro y el sándalo,
Por el pan y la sal,
Por el misterio de la rosa, que prodiga color y que no lo ve,
Por ciertas vísperas y días de 1955,
Por los duros troperos que en la llanura arrean los animales y el alba,
Por la mañana en Montevideo,
Por el arte de la amistad,
Por el último día de Sócrates,
Por las palabras que en un crepúsculo se dijeron de una cruz a otra cruz,
Por aquel sueño del Islam que abarcó mil noches y una noche,
Por aquel otro sueño del infierno,
De la torre del fuego que purifica 
Y de las esferas gloriosas,
Por Swedenborg, que conversaba con los ángeles en las calles de Londres,
Por los ríos secretos e inmemoriales que convergen en mí,
Por el idioma que, hace siglos, hablé en Nortumbria,
Por la espada y el arpa de los sajones,
Por el mar, que es un desierto resplandeciente
Y una cifra de cosas que no sabemos 
Y un epitafio de los vikings,
Por la música verbal de Inglaterra,
Por la música verbal de Alemania,
Por el oro, que relumbra en los versos,
Por el épico invierno,
Por el nombre de un libro que no he leído: Gesta Dei per Francos,
Por Verlaine, inocente como los pájaros,
Por el prisma de cristal y la pesa de bronce,
Por las rayas del tigre,
Por las altas torres de San Francisco y de la isla de Manhattan,
Por la mañana en Texas,
Por aquel sevillano que redactó la Epístola Moral
Y cuyo nombre, como él hubiera preferido, ignoramos,
Por Séneca y Lucano, de Córdoba
Que antes del español escribieron 
Toda la literatura española,
Por el geométrico y bizarro ajedrez
Por la tortuga de Zenón y el mapa de Royce,
Por el olor medicinal de los eucaliptos,
Por el lenguaje, que puede simular la sabiduría,
Por el olvido, que anula o modifica el pasado,
Por la costumbre, que nos repite y nos confirma como un espejo,
Por la mañana, que nos depara la ilusión de un principio,
Por la noche, su tiniebla y su astronomía,
Por el valor y la felicidad de los otros,
Por la patria, sentida in los jazmines, o en una vieja espada,
Por Whitman y Francisco de Asís, que ya escribieron el poema,
Por el hecho de que el poema es inagotable
Y se confunde con la suma de las criaturas 
Y no llegará jamás al último verso 
Y varía según los hombres,
Por Frances Haslam, que pidió perdón a sus hijos por morir tan despacio,
Por los minutos que preceden al sueño,
Por el sueño y la muerte, esos dos tesoros ocultos,
Por los íntimos dones que no enumero,
Por la música, misteriosa forma del tiempo.

10 de fev. de 2012

Elegía del recuerdo imposible de Jorge Luis Borges


Chichester Canal de William Turner 

Qué no daría yo por la memoria
De una calle de tierra con tapias bajas
Y de un alto jinete llenando el alba
(Largo y raído el poncho)
En uno de los días de la llanura,
En un día sin fecha.
Qué no daría yo por la memoria
De mi madre mirando la mañana
En la estancia de Santa Irene,
Sin saber que su nombre iba a ser Borges.
Que no daría yo por la memoria
De haber combatido en Cepeda
Y de haber visto a Estanislao del Campo
Saludando la primera bala
Con la alegría del coraje.
Qué no daría yo por la memoria
De un portón de quinta secreta
Que mi padre empujaba cada noche
Antes de perderse en el sueño
Y que empujó por última vez
El catorce de febrero del 38.
Qué no daría yo por la memoria
De las barcas de Hengist,
Zarpando de la arena de Dinamarca
Para develar una isla
Que aún no era Inglaterra.
Qué no daría yo por la memoria
(La tuve y la he perdido)
De una tela de oro de Turner,
Vasta como la música.
Qué no daría yo por la memoria
De háber sido auditor de aquel Sócrates
Que, en la tarde de la cicuta,
Examinó serenamente el problema
De la inmortalidad,
Alternando los mitos y las razones
Mientras la muerte azul iba súbiendo
Desde los pies ya fríos.
Qué ño daría yo por la memoria
De que me hubieras dicho que me querías
Y de no haber dormido hasta la aurora,
Desgarrado y feliz.

2 de fev. de 2012

Otro poema de los dones de Jorge Luis Borges


Gracias quiero dar al divino Laberinto de los efectos y de las causas 
Por la diversidad de las criaturas que forman este singular universo, 
Por la razón, que no cesará de soñar con un plano del laberinto, (...) 
Por el olor medicinal de los eucaliptos, 
Por el lenguaje, que puede simular la sabiduría, 
Por el olvido, que anula o modifica el pasado, 
Por la costumbre, que nos repite y nos confirma como un espejo, 
Por la mañana, que nos depara la ilusión de un principio, 
Por la noche, su tiniebla y su astronomía, 
Por el valor y la felicidad de los otros (...)

4 de dez. de 2011

Mis libros de Jorge Luis Borges (1899-1986)

Romans Parisiens (Les Livres Jaunes) 1887, Vincent Van Gogh

Mis libros (que no saben que yo existo)

son tan parte de mí como este rostro
de sienes grises y de grises ojos
que vanamente busco en los cristales
y que recorro con la mano cóncava.
No sin alguna lógica amargura
pienso que las palabras esenciales
que me expresan están en esas hojas
que no saben quién soy, no en las que he escrito.
Mejor así. Las voces de los muertos
me dirán para siempre.

.....

Meus livros (que não sabem que eu existo)
São tão parte de mim como este rosto
De fontes grises e de grises olhos
Que inutilmente busco nos cristais
E que com a mão côncava percorro.
Não sem alguma lógica amargura
Penso que as palavras essenciais
Que me expressam se encontram nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevi.
Melhor assim. As vozes dos mortos
Vão me dizer para sempre.

7 de jun. de 2009

O espelho

Quando menino, eu temia que o espelho
Me mostrasse outro rosto ou uma cega
Máscara impessoal que ocultaria
Algo na certa atroz. Temi também
Que o silencioso tempo do espelho
Se desviasse do curso cotidiano
Dos horários do homem e hospedasse
Em seu vago extremo imaginário
Seres e formas e matizes novos.
(Não disse isso a ninguém, menino tímido.)
Agora temo que o espelho encerre
O verdadeiro rosto de minha alma,
Lastimada de sombras e de culpas,
O que Deus vê e talvez vejam os homens.

Jorge Luis Borges