O memorialista, na ficha 811 de Beira-mar, faz um estudo do vermelho. Primeiro lembra os sinônimos: "vermelho, rubro, carmim, escarlate, carmezim, fulvo, ruivo, aleonado (fauve), magenta, nacarado, púrpura, vinhoso, garance, nácar, zarcão, rubicundo, goles, solferino, encarnado". Depois, busca na ciência elementos vermelhos: "alizarina (lyrio vermelho), rosanilina, eosina, tornassol vermelho, laca, anêmona carmezim, pássaro de fogo, fogo, lagosta, crista de galo, a luz de Marte - milmartes, papoulas polipapoulas, rosa peônia, ocre vermelho, hematita (minério), colcotar (peróxido de ferro), ferrugem, rosalgar (sulfureto de arsênico)". Daí, parte para associações: "sangue, vinho, guelras, fauces, inferno, lava, vulcão, carne, sangue, canto de galo, clarim, toque de clarim, grito de raiva, cólera, colérico, bancos de coral". Essa viagem pela cor serve para descrever o crepúsculo em Belo Horizonte.
Uma coisa bonita era para se dar ou para se receber, não apenas para se ter. Clarice Lispector
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10 de mar. de 2012
Estudo do vermelho de Pedro Nava
O memorialista, na ficha 811 de Beira-mar, faz um estudo do vermelho. Primeiro lembra os sinônimos: "vermelho, rubro, carmim, escarlate, carmezim, fulvo, ruivo, aleonado (fauve), magenta, nacarado, púrpura, vinhoso, garance, nácar, zarcão, rubicundo, goles, solferino, encarnado". Depois, busca na ciência elementos vermelhos: "alizarina (lyrio vermelho), rosanilina, eosina, tornassol vermelho, laca, anêmona carmezim, pássaro de fogo, fogo, lagosta, crista de galo, a luz de Marte - milmartes, papoulas polipapoulas, rosa peônia, ocre vermelho, hematita (minério), colcotar (peróxido de ferro), ferrugem, rosalgar (sulfureto de arsênico)". Daí, parte para associações: "sangue, vinho, guelras, fauces, inferno, lava, vulcão, carne, sangue, canto de galo, clarim, toque de clarim, grito de raiva, cólera, colérico, bancos de coral". Essa viagem pela cor serve para descrever o crepúsculo em Belo Horizonte.
8 de mar. de 2012
Todo mundo tem sua Madeleine de Pedro Nava
"Todo mundo tem sua Madeleine, num cheiro, num gosto, numa cor, numa releitura - na minha vidraça iluminada de repente! - e cada um foi um pouco furtado pelo petit Marcel porque ele é quem deu forma poética decisiva e lancinante a esse sistema de recuperação do tempo. Essa retomada, a percepção desse processo de utilização da lembrança (até então inerte como a Bela Adormecida no Bosque do inconsciente) tem algo da violência e da subitaneidade de uma explosão, mas é justamente o seu contrário, porque concentra por precipitação e suscita crioscopicamente o passado diluído - doravante irresgatável e incorruptível. Cheiro de moringa nova, gosto de sua água, apito de fábrica cortando as madrugadas irremediáveis. Perfume de sumo de laranja no frio ácido das noites de junho. Escalas de piano ouvidas ao sol desolado das ruas desertas. Umas imagens puxam as outras e cada sucesso entregue assim devolve tempo e espaço comprimidos e expande, em quem evoca essas dimensões, revivescências povoadas do esquecido pronto para renascer."
Baú de ossos, p. 291/292
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