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25 de mar. de 2015

Letras :: Conrado Falbo

Marc Chagall 

não caminho
por altas literaturas
quando escrevo

só posso
falar
do que conheço

cotidiano miúdo
insignificâncias
de estimação

apenas
perto do chão
estou à vontade
para minhas
rasteiras
palavras.

quando escrevo
não subverto:
subverso.

19 de jan. de 2015

Poética :: Claudio Willer

então é isso
quando achamos que vivemos estranhas experiências
a vida como um filme passando
ou faíscas saltando de um núcleo
não propriamente a experiência amorosa
porém aquilo que a precede
e que é ar
concretude carregada de tudo:
a cidade refletindo para sua hora noturna e todos indo para casa ou então
marcando encontros improváveis e absurdos, burburinho da multidão circulando
pelo centro e pelos bairros enquanto as lojas fecham mas ainda estão iluminadas,
os loucos discursando pelas esquinas, a umidade da chuva que ainda não passou,
até mesmo a lembrança da noite anterior no quarto revolvendo-nos em carícias e
expondo as sucessivas camadas do que tem a ver – onde a proximidade dos
corpos confunde tudo, palavra e beijo, gesto e carícia
tudo gravado no ar
e não o fazemos por vontade própria
mas por atavismo

in: Pinto,  Manuel da Costa.Antologia Comentada da Poesia Brasileira do Seculo 21. Publifolha, 2006.

19 de ago. de 2013

Rabo de baleia :: Alice Sant'Anna

Gregory Colbert 
um enorme rabo de baleia
cruzaria a sala nesse momento
sem barulho algum o bicho
afundaria nas tábuas corridas
e sumiria sem que percebêssemos
no sofá a falta de assunto
o que eu queria mas não te conto
é abraçar a baleia mergulhar com ela
sinto um tédio pavoroso desses dias
de água parada acumulando mosquito
apesar da agitação dos dias
da exaustão dos dias
o corpo que chega exausto em casa
com a mão esticada em busca
de um copo d’água
a urgência de seguir para uma terça 
ou quarta boia e a vontade 
é de abraçar um enorme 
rabo de baleia seguir com ela